Rio

Favelas poderiam ter problemas de habitação resolvidos em 20 anos com cerca de 2% do custo da crise da Covid-19 ao Rio

Seminário 'Rio Sem Sub-Habitação em 2040' aponta ser necessário investimento de US$ 12,5 bilhões
Vista da favela do Vidigal Foto: Mauro Pimentel em 2-6-2020 / AFP
Vista da favela do Vidigal Foto: Mauro Pimentel em 2-6-2020 / AFP

RIO —  Um quarto da população do Rio de Janeiro — 1,5 milhão de pessoas — não tem habitação com aeração, esgotamento sanitário, água, energia e salubridade, o que poderia ser solucionado com investimento de 12,5 bilhões de dólares. Seriam necessários 625 milhões de dólares anuais ao longo de 20 anos nesse projeto. Esse foi um dos pontos abordados em debate da série de webinários Da Pandemia Para a Utopia, promovida pela Firjan junto do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e da Comerc Energia. Para o engenheiro José Luiz Alquéres, que organiza os encontros, esse investimento é perfeitamente possível:

— Para efeito de comparação, lembro que só o Covid-19, este ano, nos custará R$ 600 bilhões, 300 vezes mais do que este investimento. A usina hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo, recebeu o equivalente a 9 bilhões de dólares, em moeda corrente, de financiamento do BNDES.

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Os seminários digitais que discutem as questões provocadas pela crise do coronavírus em todo o mundo se debruçou, nesta quarta-feira, sobre a questão das favelas cariocas em sua segunda edição batizada de “Rio Sem Sub-Habitação em 2040”. Uma cidade sem favelas e com infraestrutura de água, luz e esgoto disponível para todas as cerca de 600 mil residências em condições precárias é possível até 2040? Para  os debatedores Alquéres, o engenheiro José Carlos Sussekind, o economista Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do IBGE e do BNDES, e o arquiteto e economista Mozart Vitor Serra, ex-diretor da Light, essa é uma realidade possível.

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O tema do encontro também serviu para se tratar estratégias de infraestrutura urbana diferentes daquelas que já foram aplicadas pelo poder público, como nas remoções de comunidades inteiras para áreas da Zona Oeste da cidade – criando a Vila Kennedy e a Cidade de Deus, por exemplo – e que isolou milhares de pessoas de seus locais de convivência e trabalho. Por isso, a proposta da série de webinários tende a ser mais abrangente ao abarcar soluções possíveis, como a urbanização e a construção de novos imóveis em todas as favelas da cidade, e que não fiquem presas apenas a este momento emergencial provocado pela pandemia.

— Só estamos propondo coisas que funcionam em outros locais. Quando eu tinha 6 anos, já havia favelas em Copacabana e eram lugares quase rurais. Agora, depois de 70 anos, ainda há pessoas vivendo em condições subumanas, subindo escadarias infindáveis, vivendo em cômodos apertadíssimos com mais de seis pessoas e que, quando a pandemia vem, diz-se apenas “fique em casa”. Se a habitação sem saneamento é uma inclusão deficiente que resulta do processo econômico, esse processo tem que assumir a solução disso. É criar investimento público que resolva essa história — afirma o engenheiro.

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No dia 1º de julho, o tema do terceiro encontro da série será Cidade Sustentável e terá a participação de Washington Fajardo, Sérgio Magalhães e Miguel Pinto Guimarães. Esse debate também passa pela questão das moradias irregulares. Nesse tema, a favela também surge como uma questão fundamental para criar um futuro sustentável com segurança.

— A favela está cristalizada na cidade e não há como mudar essa realidade. A gente tem é que entrar imediatamente nelas com títulos de propriedade, saneamento e dignidade, além de trazer a elas a vegetação de volta abrindo parques e lugares de convivência — disse Miguel Pinto Guimarães.

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Para o arquiteto, as comunidades também precisam ser desadensadas e, nisso, o Centro, que tem um potencial de habitação enorme e que está, hoje, vazio, surgiria como uma das soluções:

— Essa agenda habitacional também tem que ficar separada do ano eleitoral, pois precisa ser o trabalho de uma geração, tomando, no mínimo, uns 30 anos. Muitas metrópoles têm esse plano concreto, menos o Rio de Janeiro.