Por Lucas Vidigal, G1


Travessia da fronteira entre Brasil e Venezuela, em foto de 2019 — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

O Brasil tem cerca de 43 mil pessoas reconhecidas atualmente como refugiadas, informou o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) na segunda-feira (8). O número representa mais de sete vezes o registrado no início de dezembro, quando havia cerca de 6 mil pessoas em situação de refúgio no país.

Segundo o comitê, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, o aumento se explica pelas três levas de aprovação dos pedidos feitos por venezuelanos: uma em dezembro, uma em janeiro e outra em abril — essa, destinada a um contingente de filhos de refugiados da Venezuela.

Operação acolhida mantém processo de interiorização de imigrantes venezuelanos em RR

Operação acolhida mantém processo de interiorização de imigrantes venezuelanos em RR

Com isso, desde dezembro, o governo brasileiro aprovou cerca de 38 mil solicitações de venezuelanos, o que representa 88% do total. O Conare classifica o país vizinho há um ano como em situação de "grave e generalizada violação de direitos humanos", o que acelera a aprovação dos pedidos de refúgio.

O coordenador-geral do Conare, Bernardo Laferté, explicou ao G1 que, mesmo com as medidas adotadas, não é o comitê quem determina se haverá mais ou menos pedidos de refúgio no Brasil.

"Não somos nós que mexemos na causa do refúgio, é uma questão de demanda", afirma Laferté.

Efeito da pandemia

Refugiados venezuelanos começam a ser realocados em novo espaço de acolhimento, em Belém — Foto: Camila Diger/Agência Belém

O número de pedidos de refúgio aprovados deverá demorar a apresentar outros aumentos significativos devido à pandemia do novo coronavírus. Segundo o coordenador-geral do Conare, o comitê não tem identificado um movimento migratório de entrada no Brasil por causa do fechamento das fronteiras terrestres.

"Embora a situação por lá ainda seja grave, muitos venezuelanos estão voltando para a Venezuela. A gente entende que é pela situação da pandemia, mas tem que esperar passar para ver se a tendência vai se manter", apontou Laferté.

Por causa da Covid-19, a Polícia Federal não recebe mais os pedidos de refúgio ou de residência, salvo em casos excepcionais: por exemplo, se um estrangeiro no Brasil precisar entrar em um voo de interiorização a outras partes do país.

Venezuela em crise

Tumulto em Cumunacoa, na Venezuela, nesta quarta-feira (22) começou após saques a comércios — Foto: Reprodução/Robert Alcalá/Twitter

A pandemia do novo coronavírus e a derrubada dos preços do petróleo em março pioram a situação já difícil de uma Venezuela marcada pela violência e pela disputa de poder entre o regime chavista de Nicolás Maduro e a oposição liderada pelo parlamentar Juan Guaidó, que se declarou presidente interino do país no início do ano passado.

Com a crise da Covid-19, cidades venezuelanas registraram saques e confrontos violentos, inclusive com morte, nos últimos meses.

Dados do monitoramento da Universidade Johns Hopkins mostram que a Venezuela registrou 2.377 casos e 22 mortes por Covid-19 até esta segunda. No entanto, segundo observadores internacionais, esse número pode estar subestimado.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!