Por Luciano Calafiori, G1 Campinas e Região


José Henrique Corrêa e Carmem Pavin durante apresentação de dados no Ciesp — Foto: Luciano Calafiori/G1

O congelamento de preços de produtos da cesta básica em vigor na Argentina pode agravar o déficit da balança comercial e o nível de empregos nas indústrias da região, de acordo com a regional do Ciesp Campinas.

O primeiro trimestre de 2019 apresentou a perda de 600 empregos, pior resultado desde 2016. Na balança comercial, o acumulado do ano aponta déficit de US$ 781 milhões nas exportações e de US$ 2,4 bilhões nas importações.

Por outro lado, a crise no país vizinho pode criar oportunidades para empresas da região na hora de comprar insumos mais baratos. O motivo está na desvalorização da moeda argentina frente ao Real.

O baque do congelamento

De acordo com a diretora adjunta de Comércio Exterior do Ciesp, Carmem Pavin, o setor automobilístico e o de autopeças seriam os mais prejudicados com a medida do governo argentino de congelar 60 produtos da cesta básica até outubro.

Sem dinheiro por causa da crise econômica, o argentino não comprará novos carros e peças.

Os dois setores fazem parte das principais pautas exportadoras da região, com produtos acabados e com alto valor agregado.

“A Argentina nos afetará? Acreditamos que sim. Temos a expectativa que vai afetar nossos setores aqui porque eles são grandes importadores do Brasil”, afirma a diretora de Comércio Exterior.

A crise lá preocupa porque os argentinos são os segundo melhores parceiros da indústria regional, perdendo apenas para os Estados Unidos. Os últimos dados das exportações já demonstram queda significativa antes mesmo do congelamento de preços.

Mauricio Macri — Foto: Reuters

Queda nos valor exportado

Os dados mais recentes do Ciesp apontam que entre janeiro e outubro de 2017, a Argentina importou US$ 509 milhões das empresas da região. O número representa 17,9% do “bolo” das exportações regionais naquele ano.

Já nos primeiros dez meses do ano passado, a importação argentina caiu para US$ 452,4 milhões, ou 15,4% do “volume” comercializado com a nação vizinha.

Ainda segundo a diretora, se as exportações voltarem a cair, os estoques das empresas vão aumentar.

“Nós vamos ficar com estoque parado. Tudo isso é muito preocupante para a nossa região sim”, finaliza.

Os dados de novembro de dezembro dos dois anos não foram divulgados ainda.

A sondagem industrial divulgada pelo Ciesp , nesta quarta-feira, aponta que 44,19% dos respondentes disseram que os estoques permaneceram inalterados em março, antes do congelamento ser anunciado pelo presidente Maurício Macri.

Para 20,93% dos empresários, os estoques diminuíram. Para 18,6% dos representantes do setor, eles aumentaram.

O que fazer?

Para os diretores regionais do Ciesp, apesar do cenário ruim projetado, dá para aproveitar a crise argentina sim.

Para o diretor titular interino do Ciesp Campinas, José Henrique Corrêa, a crise econômica argentina pode servir para a compra de insumos. O empresário, segundo ele, pode deixar de comprar em países como a China e o Vietnã e negociar preços menores.

Outra medida que pode beneficiar as indústrias dos dois países seria uma parceria entre os empresários na busca por novos produtos.

“Os empresários argentinos e brasileiros podem vislumbrar produtos e serviços que podem ser comprados pelas empresas brasileiras, e com preços melhores. ”, afirma.

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