• Giovanna Forcioni
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Kate deixou o hospital cerca de cinco horas depois de parir (Foto: Reprodução/Twitter)

Kate deixou o hospital cerca de cinco horas depois de parir (Foto: Reprodução/Twitter)

Na segunda-feira (23), Kate Middleton deu à luz ao seu terceiro filho e gerou polêmica ao sair da maternidade com o bebê nos braços cerca de 6 horas depois do parto. A rapidez com que a duquesa de Cambridge foi liberada do hospital causou estranheza em muita gente e levantou a discussão: esse protocolo seria seguro e possível no Brasil?

Afinal, a alta hospitalar em tão pouco tempo depois do parto pode trazer riscos para a mãe e para o bebê? Segundo a ginecologista e obstetra Camila Escudeiro (SP), da Clínica Iluminar (SP), a resposta é não. “Se a gestação é de baixo risco, a mãe está bem orientada e o parto é bem assistido e sem intercorrências, não existe necessidade de uma longa observação em ambiente hospitalar”, explica. A obstetra reforça ainda que sair da maternidade poucas horas depois do parto não exclui a necessidade de uma reavaliação médica após o nascimento do bebê: “Não há problema nenhum em dar alta em tão pouco tempo, mas isso deve ser feito com um acompanhamento. O ideal é que 24 horas depois do parto, a mulher seja monitorada mais uma vez”.

O que aconteceu com Kate só foi possível porque o sistema de saúde pública do Reino Unido (NHS) segue justamente esse protocolo: em casos de partos normais ou naturais sem complicações, as mulheres, sejam elas princesas ou não, são liberadas da maternidade em até 10 horas e, no dia seguinte ao nascimento do bebê, recebem em casa a visita de um profissional da saúde que faz uma reavaliação do quadro tanto da mãe quanto do filho. Suzan Correa, brasileira que trabalha como midwife no NHS, em Londres, conta que esse é um processo comum na Inglaterra. “É um protocolo para todo mundo daqui, não é exclusividade da Kate. Já vi muitas mulheres que também tiveram alta em 6 horas e estavam maravilhosamente bem, assim como ela, só que não estavam de salto alto e cabelo arrumado”, relata.

Como funciona o sistema de saúde no Reino Unido

Assim como o Brasil, o Reino Unido também tem um sistema de saúde público: o National Health Service (NHS). Da mesma forma que acontece no Sistema Único de Saúde (SUS), no NHS as mulheres também têm direito a atendimento médico antes, durante e depois da gravidez. Mas as semelhanças parecem parar por aí. A grande diferença está na figura das midwives, profissionais da saúde que acompanham as mulheres britânicas durante todo o processo gestacional, desde a primeira consulta até o pós-parto.

“A midwife é a peça-chave do pré-natal aqui no Reino Unido. Em casos de baixo risco, o médico não participa do atendimento, é a midwife que vai diagnosticar a gestação, pedir exames e encaminhar para especialistas se for preciso”, explica Suzan Correa, brasileira que há 9 anos trabalha como midwife no NHS. Segundo ela, mulheres que não apresentam problemas de saúde ou risco gestacional passam por cerca de 13 consultas ao longo da gravidez. Os médicos só entram em cena quando as midwives fazem o encaminhamento para o tratamento com uma equipe multidisciplinar, formada também por enfermeiras e especialistas.

Diferente do que acontece no Brasil - onde normalmente um único profissional acompanha a mulher durante toda a gestação -, no Reino Unido as mães são atendidas por uma equipe de midwives que se revezam ao longo do processo. “É comum que a mulher passe por mais de 20 midwives em todo o atendimento, porque em cada consulta é uma diferente que faz o atendimento, assim como a que participa do parto não é a mesma do pós-parto”, diz Suzan.

São as midwives também que avaliam o estado físico e mental das mães e autorizam a ida para casa depois do nascimento do bebê. O protocolo é simples: se o parto normal não tiver complicações nem para mulher, nem para a criança, eles devem ser liberados da maternidade entre 6 e 10 horas depois do parto. Porém, se o parto acontecer durante a noite ou for diagnosticado qualquer tipo de problema - como sangramentos ou dificuldade de amamentação, por exemplo - ambos ficam por mais tempo em observação hospitalar.

“A Kate só teve alta em 6 horas porque ela não teve complicações na gestação. Apesar de ela ter tido hiperêmese gravídica nas primeiras semanas, isso não qualifica uma gestação de risco. Não damos alta caso estejamos suspeitando de qualquer risco”, conclui Suzan.

No Reino Unido, as cesarianas só são feitas em caso de emergência e em pacientes que já apresentavam histórico de cesáreas prévias. Nesse caso, o comum é ficar de 24 a 48 horas em observação no hospital. Assim como no Brasil, mãe e bebê só vão para casa depois que a dor está controlada, o cateter urinário foi retirado e a criança já consegue mamar.

Funcionaria no Brasil?

Seria possível adotar o protocolo britânico aqui no Brasil? “Muitas mulheres brasileiras também têm condições de ter esse tipo de parto, como o de Kate, mas, por conta da cultura hospital, isso não acontece”, explica Camila. Segundo ela, a convenção de que mãe e bebê devem ficar no hospital de 24 a 48 horas se deve à cultura de manter a família em observação para fazer o teste do pezinho e ao interesse dos hospitais em lucrar com os procedimentos realizados. No caso do SUS, Camila acredita que a alta em tão pouco tempo depois do parto só seria possível após uma mudança de estrutura do sistema: “Se os hospitais públicos liberassem as mulheres poucas horas depois do nascimento do bebê, eles infelizmente não teriam estrutura para garantir que essas mães sejam reavaliadas depois de 24 horas, não haveria um controle ou monitoramento”, finaliza.

selo app crescer (Foto: Crescer)

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