Economia

Puxada por energia elétrica, inflação acelera e fica em 0,19% em julho

É o menor patamar para o mês desde 2014. Em junho, índice avançou apenas 0,01%, segundo o IBGE
 Torres de transmissao de energia em Brasilia Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Torres de transmissao de energia em Brasilia Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

RIO — Os preços voltaram a subir no Brasil em julho. A inflação acelerou para 0,19%, o menor patamar para o mês desde 2014. Os dados foram divulgados pelo IBGE na manhã desta quarta-feira. O destaque de alta ficou com o grupo Habitação, que registrou aceleração de 1,2%. Em junho, a inflação quase ficou negativa. O índice teve um avanço de apenas 0,01% .

Dentro de Habitação, o componente que mais contribuiu para que a inflação subisse foi a energia elétrica. As contas de luz dos consumidores ficaram, em média, 4,4% mais caras. Isso ocorreu por conta da bandeira tarifária. Em julho, vigorou o patamar amarelo, que representa custo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatts-hora consumido.

Além da bandeira, as tarifas em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre foram reajustadas, influenciando ainda mais no aumento deste item.

Indústria : produção ibrasileira encolhe 1,6% no primeiro semestre de 2019

O grupo de Alimentos e Bebidas, que representa cerca de 25% das despesas das famílias, ficou estável na passagem de junho para julho, com uma tímida alta de 0,01%.

Julia Passabom, economista do Itaú Unibanco, destaca que a energia elétrica representou 0,10 ponto percentual do total da inflação deste mês. Caso o item não fosse levado em consideração, a inflação para julho seria de 0,09%:

— O aumento da energia elétrica está atrelado à bandeira tarifária. Um junho, tivemos um patamar verde que foi atípico para o período. Sendo assim, a pressão em julho foi alta. Em agosto, com a entrada em vigor da bandeira vermelha, é esperado que a energia elétrica também exerça forte influência no comportamento da inflação.

André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do FGV/Ibre destaca que os preços administrados (cujos valores são controlados pelo governo), como energia elétrica e combustíveis, apresentam volatilidade. Desta forma, os comportamentos vistos em julho podem não ser repetidos na inflação de agosto:

— Em julho, a bandeira tarifária foi amarela, e ainda houve reajustes nas tarifas de energia em importantes capitais, como São Paulo. Em agosto, a bandeira é vermelha, o que pode aumentar o peso da inflação no índice. Já os combustíveis, que em julho registraram queda, podem desaceleram essas perdas e ficarem próximos da alta.

Sobre a recente disparada do câmbio, Braz não acredita que ela deve influenciar muito o comportamento da inflação brasileira.

— Não acredito que a desvalorização do dólar frente ao real perdure o tempo suficiente para alterar o comportamento da inflação. O dólar, que nesta semana chegou perto de R$ 4, agora está próximo da faixa de R$ 3,90 — disse o pesquisador da FGV.

Entre os grupos que contribuíram para que a inflação não acelerasse mais, os destaques ficam com o de vestuário, com queda de 0,52%, e o de transportes, com variação negativa de 0,17%.

Dentro de vestuário, os maiores impactos foram as roupas femininas (-1,39%). Já em transporte, a queda foi impulsionada pelos combustíveis, que apresentaram queda de 2,79% no período A gasolina recuou 2,8% em julho, representando o maior impacto individual negativo no índice do mês.

Estimativas: juro menor exigirá que fundos de pensão busquem investimento de mais risco

Setor de serviços

O setor de serviços acelerou de 0,34% (em junho) para 0,46% (em julho). Dentro dos serviços, o maior impacto ficou por conta das passagens aéreas, que registraram alta de 18,63% no sétimo mês do ano.

A alimentação fora de casa também aumentou. Ela passou de 0,02% em junho para 0,15% em julho.

Estes números, embora com aceleração, não chegam a caracterizar uma pressão por demanda na inflação.

— Julho é o período de férias escolares. Sendo assim, mais viagens e refeições fora de casa são feitas. Os impactos de alta nestes itens são esperados, e ainda não caracterizam uma pressão por demanda. São aumentos pontuais — destaca Fernando Gonçalves, gerente do Sistema Nacional de Índice de Preços do IBGE.

Trabalho : desemprego cai para 12%, mas ainda atinge 12,8 milhões de brasileiros

Gonçalves relembra que o mercado de trabalho, embora com melhora nos índices de emprego, ainda tem uma parcela significativa de trabalhadores na informalidade, sem carteira assinada e, consequentemente, sem salário fixo. Ele pontua que isso acaba fazendo uma parcela de trabalhadores a terem gastos mais controlados.

Dentro do aumento em alimentação fora de casa, Gonçalves destaca que pode ter havido, também, um repasse indireto dos aumentos da conta de luz para os produtos comercializados nos estabelecimentos.

A mediana das projeções de analistas consultados pela Bloomberg apontava que a inflação de julho aceleraria para 0,24%.

Até o sétimo mês de 2019, a inflação acumula alta de 2,42%, patamar bem inferior à meta estipulada pelo governo para este ano, que é de 4,25%. Nesta semana, os economistas consultados pelo Banco Central (BC) para a elaboração do Boletim Focus apontaram que a inflação deve encerrar o ano a 3,77%.