Por G1 PE


Mirtes Souza é mãe do menino Miguel, que morreu após cair do 9º andar de um prédio — Foto: Reprodução/TV Globo

Mãe de Miguel Otávio, criança que morreu ao cair de um prédio de luxo no Recife no dia 2 de junho, Mirtes Renata de Souza relatou que sua conta no Instagram foi hackeada. Segundo ela, todas as fotos foram apagadas do perfil.

“Algumas fotos de Miguel eu só tinha ali. Minha sobrinha tentou recuperar, mas não conseguiu. Já avisei aos advogados”, disse Mirtes.

As fotos foram apagadas no dia 25 de junho. A Polícia Civil ainda não foi acionada, segundo Mirtes, até a última atualização desta reportagem.

“Eu não sei o que aconteceu, não sei se foi por causa das solicitações para seguir. Eu tinha mais de 1 mil solicitações, mas não estava conseguindo aceitar. Não sei se a pessoa hackeou porque queria os seguidores ou se foi por ruindade”, contou.

Caso Miguel

Miguel caiu do 9º andar do edifício Pier Maurício de Nassau, no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife. Ele havia sido deixado com a ex-patroa de Mirtes, a primeira dama de Tamandaré, Sari Corte Real, para que a doméstica passeasse com Mel, a cadela da família. Na quarta-feira (1º), a ex-patroa foi indiciada por abandono de incapaz que resultou em morte.

Para o delegado Ramon Teixeira, responsável pelo inquérito, a primeira-dama de Tamandaré cometeu "crime preterdoloso", cuja pena vai de quatro a 12 anos de prisão. Esse termo refere-se ao caso em que o indiciado pratica um crime diferente do que havia inicialmente projetado cometer.

Perícia

Laudo pericial sobre a morte do menino Miguel desmente versão de Sari Corte Real

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No dia da queda, Miguel entrou várias vezes nos elevadores do prédio para ir procurar a mãe, sendo retirado por Sari. Em uma delas, a ex-patroa da mãe do garoto apertou o botão da cobertura do edifício e deixou a criança sozinha (veja vídeo acima).

O garoto foi até o 9º andar e caiu de uma altura de 35 metros, depois de subir em uma área onde ficam equipamentos de ar-condicionado. Ramon Teixeira disse que a conduta de permitir o fechamento da porta do elevador foi abandono de incapaz, de forma dolosa, mesmo que Sari não visualizasse a possibilidade de que sua conduta resultaria na morte da criança.

O delegado também afirmou que a decisão foi tomada porque Sari Corte Real sequer acompanhou a movimentação do elevador pelo visor que fica no andar. Ela retornou diretamente ao apartamento, onde estava fazendo as unhas com uma manicure.

Miguel Otávio tinha 5 anos de idade e morreu ao cair de uma altura de 35 metros no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

Dois lados

Diante do indiciamento, a defesa da doméstica Mirtes Renata afirmou, por meio de nota, que Sari deverá prestar contas à Justiça e explicar frases e atitudes. Os defensores da primeira-dama de Tamandaré acreditam que documento da polícia "conflita" com informações contidas nos autos.

"Quando esse dia [em que Sari for julgada] chegar, talvez ela já nem lembre a origem de tanto desdém e indiferença, mesmo também sendo mãe. É até provável que tente responsabilizar a própria vítima, o pequeno Miguel, pelo que lhe aconteceu. Afinal, após noticiar aos parentes próximos sobre o falecimento, disse que 'cuidar dele não era sua responsabilidade'", disse o advogado da mãe do menino, em nota enviada na quarta (1º).

Sari Gaspar Corte Real é primeira-dama de Tamandaré — Foto: Reprodução/Internet

Funcionárias-fantasma

No dia em que a Polícia Civil indiciou Sari Corte Real, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) entrou com ação civil contra o marido dela, o prefeito de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB), por improbidade administrativa. É que a gestão dele contratou a mãe e a avó da criança como servidoras, pagas com dinheiro público, embora elas trabalhassem como domésticas na casa da família.

Na quinta (2), o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) anunciou o bloqueio parcial de bens de Sérgio Hacker e da secretária de educação do município, Maria da Conceição Cavalcanti. A decisão foi proferida na quarta (1º).

Em 6 de junho, o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) constatou que a mãe e a avó de Miguel eram contratadas da prefeitura de Tamandaré. Durante a apuração do caso, foi descoberta outra funcionária-fantasma que prestava serviços particulares à família do prefeito.

Auxílio emergencial

O nome de Sari Gaspar Corte Real aparece no portal Dataprev após um pedido de auxílio emergencial, benefício concedido durante a pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Segundo o Dataprev, o auxílio emergencial foi solicitado em 14 de maio. O portal recebeu o pedido no dia seguinte. Os dois filhos de Sari, de 6 e 3 anos de idade, estão cadastrados como parte do grupo familiar. A defesa dela informou, por telefone, que a solicitação de auxílio emergencial feita em nome dela é uma fraude.

Homenagens e protestos

Justiça por Miguel foi o tema do protesto realizado no Centro do Recife — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

O caso ganhou repercussão nacional, com manifestações de políticos e artistas na internet e criação de um abaixo-assinado virtual com mais de 2,5 milhões de assinaturas pedindo justiça por Miguel.

No dia 12 de junho, durante um ato em frente ao prédio de onde Miguel caiu, manifestantes levaram cartazes com pedido de justiça e caminharam até a delegacia onde o caso é investigado. Eles pediram que a ex-patroa da mãe do menino fosse punida por homicídio doloso, quando há intenção de matar.

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