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Por Sérgio Tauhata, Valor — São Paulo

A atenção dos investidores globais em fusões e aquisições após a pandemia vai recair principalmente sobre a resiliência dos modelos de negócios, afirmou o sócio do escritório americano Debevoise & Plimpton, Maurizio Levi-Minzi, em webcast promovido pela firma brasileira Pinheiro Neto. Na visão do advogado, com a retomada da economia após a crise da covid-19, o Brasil deve passar por uma onda de operações do gênero.

“Apesar do impacto econômico no país, com uma retração do PIB que pode chegar a 7,5% neste ano, de acordo com bancos, e uma desvalorização de 30% do real em relação ao dólar, a experiência nos mostra que grandes crises levam a grandes oportunidades na área de M&A no Brasil”, disse Levi-Minzi.

A questão chave nesses negócios no pós-pandemia será como avaliar a resiliência das companhias diante da percepção de que os efeitos da crise do coronavírus podem ser mais persistentes.

“No início da pandemia muitos investidores focaram em liquidez e solvência, com a ideia de que a pandemia seria algo passageiro. Mas o cenário se mostrou um pouco mais complicado do que isso”, avaliou o sócio da Debevoise & Plimpton. “Conforme retornarmos ao normal, na verdade, vamos retornar a um novo normal em que a questão central será a longevidade do modelo de negócio, ou seja, a capacidade inerente de uma empresa absorver choques.”

De acordo com o sócio do Pinheiro Neto Advogados, Marcello Lobo, a pandemia trouxe a necessidade de mudar a forma de realizar o “due diligence”, ou seja, a investigação prévia dos riscos relacionados às partes em uma operação de M&A.

“Por exemplo, teremos de considerar vários tópicos, como se os executivos-chefes têm habilidade para lidar com as crises, o que acontece com a cadeia de fornecedores se houver outros eventos, a capacidade do negócio de operar em situação de minimização de contato, avaliar os recursos humanos, quais novos custos podem surgir com a crise e outros pontos”, ponderou.

Levi-Minzi, da Debevoise & Plimpton, considerou o Brasil em vantagem comparado a outros países da América Latina, em termos de oportunidades de M&A após a pandemia. “O Brasil, além da ampla e diversificada economia, tem uma grande vantagem em relação a muitos países da América Latina que é ter um 'management' nas empresas muito melhor.”

O sócio do escritório americano enfatizou ainda a importância de aprender com a pandemia e passar a considerar a resiliência dos negócios diante da possibilidade de outro evento “cisne negro”, termo que faz alusão a acontecimentos improváveis, mas com grande capacidade de disrupção em termos econômicos e sociais. Levi-Minzi cita como exemplo os impactos das mudanças climáticas. “Se não aprendermos com nossos erros seremos castigados por isso, e quando olho para a pandemia penso no que poderia ser o próximo cisne negro e vejo que temos de ter uma atenção maior à mudança climática.”

Existe, de acordo com o advogado americano, uma tendência acelerada pela pandemia de os investidores passarem a olhar muito mais para a sustentabilidade. “Temos uma expectativa de que o mesmo movimento vá acontecer no Brasil de maximização de valor para o ‘triple bottom line: profit, people and planet’ [tripé da sustentabilidade: lucro, pessoas e planeta].”

Outra questão levantada pelos especialistas em relação ao due diligence é entender como a volatilidade cambial afeta os negócios de uma companhia ou setor no Brasil. “A grande volatilidade cambial vai ter impacto significativo em companhias e setores, como aquelas com grandes cadeias de fornecedores”, disse Levi-Minzi.

Para o sócio do Pinheiro Neto Advogados, Henry Sztutman, a reputação também será um ponto chave para as novas due diligences.

“Reputação, credibilidade e compliance são exigências agora e as companhias terão de implementar comitês de crise e estabelecer uma comunicação de qualidade com os colaboradores e todos os setores estratégicos”, afirmou.

O sócio da Debevoise & Plimpton, Andrew M. Levine, explicou que para surfar a nova onda de operações de M&A, será necessário avaliar detalhadamente os impactos da pandemia no curto e no longo prazo. “Mais recentemente, todo mundo tem falado no ebitdac, ou seja, nos lucros antes de juros, impostos, depreciação, amortização e coronavírus”, resumiu.

(Esta reportagem foi publicada originalmente no Valor PRO, serviço de informações e notícias em tempo real do Valor Econômico)

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