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Pesquisadores baianos fazem testes com casca de mangostão para tratar diabetes

Parte externa do alimento que costuma ser jogada no lixo vai ser usada em farinhas

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 3 de maio de 2019 às 15:38

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Conhecido como “rainha das frutas”, devido às folhas que lembram uma coroa, o mangostão surge com grande potencial no tratamento de pessoas com diabetes. A fruta exótico é considerado o mais saboroso do trópico asiático e foi introduzido no Brasil em 1935, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Mangostão é utilizado em pesquisa para controlar o diabetes (Foto: Saulo Capi/Divulgação) Pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano), em Catu, na Região Metropolitana de Salvador, descobriram que a casca da fruta, descartada pela agroindústria, tem alto teor de pectina. Essa substância, segundo apontam, absorve açúcares e gorduras em excesso na corrente sanguínea do corpo humano.

Os estudos realizados desde maio do ano passado mostram que a casca do alimento possui entre 13 e 15% de teor de pectina, quase o dobro do encontrado na casca do maracujá amarelo (8%), fruta com a qual se produz uma farinha que há anos é comercializada para pessoas portadoras do diabetes. A doença crônica é gerada pela insuficiência de insulina, substância produzida no pâncreas que envia açúcar do sangue para as células.

“Já sabendo que a farinha da casca do maracujá amarelo vem sendo explorada comercialmente por conta da pectina, resolvemos fazer o mesmo com a casca do magostão. Trituramos e fizemos uma farinha que pode ser colocada nos alimentos de diversas formas”, explicou o pesquisador Saulo Luís Capim.

No levantamento feito pelos pesquisadores ficou comprovado que a casca do mangostão possui ainda teores de fibras, minerais e açúcares totais considerados ideais para o tratamento de quem tem a doença.

Doutor em Química e coordenador e orientador do projeto 'Processamento da farinha da casca do mangostão e sua utilização na alimentação de pessoas com diabetes', Capim informou ainda que o próximo passo da pesquisa é estimular a introdução da farinha na alimentação dos diabéticos e fazer um trabalho de observação.  

Essa será a segunda etapa do projeto, que consiste na realização de testes em pacientes de Catu. Para que a etapa seja iniciada, é necessário que haja uma liberação por parte da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligado ao Ministério da Saúde. A previsão é que a licença seja concedida no prazo de um mês.

“Já está tudo certo com a Secretaria de Saúde de Catu, segundo a qual há, na cidade, cerca de mil pessoas com a doença. Queremos fazer a pesquisa com pelo menos 40% dessas pessoas e observar como o organismo delas reagirá à farinha de mangustão, e comparar com as que não usaram a farinha”, disse Capim. Casca do mangostão é estudada por baianos (Foto: Saulo Capi/Divulgação) Testes Ainda segundo o pesquisador, os testes devem durar em torno de 60 dias. Neles, os diabéticos serão acompanhados por uma equipe de nutricionistas, que introduzirá aos poucos a farinha de mangostão na alimentação dos pacientes. Em seguida, serão realizados exames para comprovar que a fruta é, de fato, eficaz no controle do diabetes.

“A cada 15 dias vamos entregar um quilo de farinha às pessoas com diabetes, e uma nutricionista vai fazer uma tabela nutricional personalizada. Depois, vamos analisar os resultados para ver se a farinha, de fato, diminuiu o teor de açúcar no sangue. Estamos muito empolgados com a pesquisa e esperamos bons resultados”, afirmou.

Após os estudos, a ideia da equipe pesquisadora é patentear a farinha da casca do mangostão. “Queremos ajudar na alimentação dessas pessoas. Eu quero adicionar essa farinha e diminuir a quantidade de farinha de trigo num bolo, por exemplo. Vamos formular receitas e ministrar um curso para a comunidade”, revelou. Fruta tem grande vaiarção de tamanho, o que impacta no preço (Foto: Thomas Yuji Ozawa/Divulgação) A farinha A cada quilo de casca de mangostão, é possível fazer até meio quilo da farinha. Atualmente, os produtores de mangostão não fazem uso da casca. Eles retiram a polpa da fruta e vendem a fruta in natura, em caixas de 1,5 kg, que custam entre R$ 10 a R$ 50, a depender do tamanho da fruta, que costuma variar bastante, e o local onde é comercializado.

De acordo com a nutricionista Maria Fernanda Vischi, além do mangostão, outras frutas também possuem bons teores da substância pectina e são indicadas para diabéticos, como maçã com casca, laranja com bagaço, goiaba, ameixa e jabuticaba. “A pectina reduz a absorção do açúcar pelo corpo, explicando de maneira leiga”, disse.

“Em maneira mais técnica, ela é uma fibra que faz com a absorção do açúcar seja mais lenta e, consequentemente, tem menor impacto na glicemia. De maneira geral, a frutose, que é o açúcar da fruta, tem baixo índice glicêmico. Por isso são recomendados às pessoas com diabetes”, completou a nutricionista.

O médico endocrinologista Osmário Jorge Salles confirmou que “a dieta que inclui frutas ricas em pectina é a melhor que existe para pessoas com diabetes", mas fez um importante alerta. "Não se pode esquecer dos exercícios físicos, como caminhadas, corridas, e tomar sempre os medicamentos nas horas corretas”. Produção do mangostão se dá na região sul da Bahia (Foto: Thomas Yuji Ozawa/Divulgação) Produção no estado Na Bahia, a produção de mangostão se dá em cidades na região sul do estado. No último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, foi constatado que as maiores produções da fruta acontecem nas cidades de Una (55 mil caixas por ano), Ituberá (28 mil caixas), Taperoá (8 mil caixas) e Camamu (3 mil caixas).

O uso do mangostão no tratamento de pessoas com diabetes é novidade para o produtor Thomaz Yuji Ozawa, 49 anos. Descendente de japonês, ele produz a fruta em 10 hectares de terra no município de Una, que rendem cerca de 5 mil caixas por ano. Segundo ele, é necessário ter bastante paciência para cultivar o alimento.

“O mangostão só começa a produzir com seis anos. Uma produção comercial só a partir do décimo ano. No meu caso, eu já peguei a produção andando, porque meus pais já produziam desde a década de 1980, quando foi formada uma pequena colônia de japoneses aqui, com cerca de 15 famílias, que estão aqui até hoje”, disse.

De acordo com a Embrapa, o período de frutificação do mangostanzeiro varia de acordo com as condições climáticas - a fruta prcisa de um clima úmido para se desenvolver, por ser tropical. Na Bahia, a safra principal é geralmente em março e abril e outra colheita acontece em agosto. Ele é muito cultivado também no Pará, onde o principal período para colher as frutas estende-se de janeiro a maio e uma menor ocorre em agosto e setembro.

Poucas pragas têm sido encontradas em pomares de mangostão. Os problemas mais comuns são causados por ácaros, tripes (Thrips sp.) e abelha arapuá (Trigona spinipes), que causam danos na casca e prejudicam a colheita.

As frutos são colhidas manualmente, limpas, classificadas e colocadas em caixas de papelão com dimensões de 21 x 21,5 x 6,5 cm, que comportam de 9 a 20 mangostões, a depender do tamanho. Depois, eles são vendidos nos grandes centros urbanos.

O mangostão apresenta média de 32,5% de polpa, na qual o teor de pectina é de 6%. A fruta é usada também para a produção de cosméticos, como cremes para pele, e produtos farmacêuticos.