Coronavírus

Por G1


Entenda como funciona a média móvel em casos do novo coronavírus

Entenda como funciona a média móvel em casos do novo coronavírus

O G1 e os telejornais da Globo e da GloboNews passam a divulgar, a partir desta quinta-feira (9), dados mais detalhados sobre a pandemia de Covid-19 no Brasil. Esses indicadores vão permitir mostrar onde as mortes causadas pelo novo coronavírus estão aumentando, diminuindo ou estáveis.

Além dos números de casos e mortes atualizados diariamente usando os dados obtidos pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de informações das secretarias estaduais de Saúde, será divulgado um indicador recomendado por especialistas e adotado por diversos veículos da imprensa internacional: a chamada média móvel.

Como os dados de Covid-19 podem ter variações diárias muito grandes que não têm relação com o avanço do vírus, como atrasos nos registros, falta de testes, entre outros problemas, o novo modelo busca reduzir esses efeitos.

Média móvel

Ao adotar o critério da média móvel, os gráficos passam a mostrar o número de casos e mortes de cada dia em barras, e uma linha mostrará a média dos últimos 7 dias. Ela é móvel porque os números de um dia são carregados para a média seguinte, se movem.

"Se você está acompanhando o número de casos por data de notificação, um problema é que parte do sobe e desce se deve a variações na intensidade de notificação", explica Paulo Inácio Prado, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP e integrante do Observatório COVID-19 BR.

"O que a gente vê muito claramente, por exemplo, é que o número de notificações é menor no fim de semana. Só isso já vai fazer parecer que o vírus descansa no fim de semana. Mas é um efeito que não tem nada a ver com a epidemia", afirma Prado.

"Muitos laboratórios não funcionam nos finais de semana, as pessoas que notificam, que preenchem o sistema de informação eletrônico, também não trabalham no final de semana e muitas fichas são acumuladas durante o final de semana. E, quando a gente observa terça, quarta-feira, tem um aumento expressivo dos casos, que é justamente esses exames que estavam acumulados", explica o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da UFMS.

Para calcular essa média, soma-se o número de mortes ou casos nos últimos 7 dias e divide-se o resultado por 7. Por exemplo: o total de mortes no estado de São Paulo na primeira semana de julho foi 1.712. Dividindo por 7, chegamos ao número médio de 245 por dia nesse período.

Quando a gente acompanha a variação dessa média ao longo do tempo, é como se, em vez do retrato de um instante, a gente tivesse um vídeo da evolução da pandemia, o que ajuda a compreender melhor o comportamento da doença. Segundo os infectologistas, é um indicador mais fácil e mais preciso para entender os rumos da Covid-19 no país.

"A média móvel vai dar uma tendência maior, né, se esses casos estão subindo, se estão caindo naquela região. O dado agrupado é bem mais fidedigno do que o dado diário. E a gente não consegue ver essa modificação tão facilmente", diz o infectologista Alberto Chebabo.

Consórcio de veículos de imprensa

Os dados para o cálculo da média móvel são os apurados pelo consórcio de veículos de imprensa formado por G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL. Esse grupo reúne diariamente os números da doença nos 26 estados e no Distrito Federal, para que os brasileiros saibam, com transparência, o total de óbitos e de casos no país.

A iniciativa inédita veio como resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir, no início de junho, os dados sobre a pandemia da Covid-19.

Onde há alta, baixa ou estabilidade

"Essa média móvel depende do comportamento da sociedade e das medidas que os governantes tomam. Ou seja, se, de repente, eu deixo de tomar qualquer medida de prevenção, uso de máscara, higiene, eu com certeza vou aumentar a transmissão. Os bares que ficam lotados sem um controle adequado... vai aumentar a transmissão. Então por isso que tem que ser acompanhado sempre; e às, vezes, não adianta você ver dia a dia", afirma Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI.

E como saber se, num determinado estado, os números da doença estão aumentando, diminuindo ou em estabilidade?

Por causa do tempo de incubação do novo coronavírus, os especialistas recomendam comparar a média móvel de hoje com a de 14 dias atrás. Esse é o modelo adotado, por exemplo, pelo jornal americano "The New York Times".

"A dinâmica da infecção é 5 dias de período de incubação, 7 dias para a pessoa procurar assistência médica. Então em média de 12 a 14 dias, você pode ter variações importantes desde o primeiro contato", diz Julio Croda.

Segundo Alberto Chebabo, "você consegue ver os estágios diferentes de evolução daquela doença, respeitando esse período de incubação que é o período entre o momento em que elas se expuseram até o momento que ela começa a desenvolver sintomas."

Nessa comparação com a média de 14 dias atrás, os especialistas entendem que variações no número de mortes ou de casos de até 15% para mais ou para menos caracterizam estabilidade da doença nesse período.

"Quando a gente faz essa curva, a gente entende se essa curva está aumentando muito ou pouco. Se ela estiver num aumento muito importante, significa que a gente não tem nenhum controle da doença. Se a gente tem uma transmissão mais baixa, significa que a gente consegue ou está conseguindo controlar a doença", diz Otsuka.

Assim, vai ser possível identificar mais claramente os estados que estão conseguindo combater a doença e também onde a pandemia está fora de controle.

"É um país continental", diz Julio Croda. "A pandemia se comporta de diferentes formas em diferentes estados e região".

"Se eu estou tendo um aumento de casos, significa que vou ter que intensificar as medidas de isolamento social, né, de fechamento de comércio, por exemplo", diz Alberto Chebabo. "Se eu já começo a ter uma redução e essa redução se mostra mantida por duas, três semanas seguidas, significa que eu posso flexibilizar e evoluir com essa flexibilização".

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