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Política Bolsonaro

‘O presidente nunca veio me pedir explicações’, diz ministro do Turismo

Em entrevista ao GLOBO, investigado por supostas candidaturas laranjas no PSL, Marcelo Álvaro Antônio diz não se sentir ameaçado no cargo
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — Há quase seis meses se mantendo no cargo mesmo na mira de inquérito da Polícia Federal que apura supostas candidaturas laranjas no PSL de Minas Gerais, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio , diz que não se sente ameaçado com o avançar das investigações . Para ele, o presidente Jair Bolsonaro defende a presunção de inocência e uma “exoneração agora seria uma condenação”.

Como se mantém no cargo apesar das investigações?

O presidente é uma das pessoas mais coerentes e justas que conheci na vida. Ele está partindo do princípio da presunção de inocência. Estou sendo investigado há meses pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, por alguns órgãos de imprensa, e eu pergunto: o que tem de concreto contra mim? Me aponte uma só situação que me atribui qualquer procedimento inadequado. Eu acredito que o presidente olha para mim e pensa: “Eu não vou exonerar um ministro por denúncias que não têm a mínima comprovação.” Acho que é isso que me mantém no cargo.

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Conhece alguma candidata que teria sido usada?

Conheço uma delas, a Lilian (Bernardino), porque estive em um evento em Governador Valadares (MG) com no mínimo outras 50 pessoas. Nunca estive com ela sozinho. As demais, nunca estive pessoalmente, a não ser num ambiente da convenção do partido, o que pode ter ocorrido. Nunca orientei nenhum assessor para que fizesse qualquer proposta indevida. Tenho minha consciência 100% tranquila.

Tem a mesma tranquilidade em relação a Mateus Von Rodon (assessor) e aos ex-assessores Haissander Souza de Paula e Roberto Silva Soares, que chegaram a ser presos?

Cada um responde por si. Eu tenho certeza dos meus atos. Eles é que devem responder o que fizeram, se fizeram ou não fizeram, mas eu também parto da presunção da inocência. O Mateus (acusado de ter sido dono de uma empresa que recebeu pagamentos das campanhas de candidatas laranjas) continua nomeado, é da minha confiança. O pedido de prisão dos três foi para não combinarem depoimentos. Não foi uma prisão por terem encontrado algum fato ou materialidade contra eles. Isso me causa estranheza, porque 150 dias depois de um inquérito aberto, se fosse para combinar depoimento, já teria dado tempo. Não posso prejulgá-los.

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Como o senhor trata desse assunto com o presidente?

Nossos assuntos, praticamente, 100% é de trabalho. O presidente nunca veio me pedir explicações sobre o caso. Ele não vai se basear pela minha palavra ou de qualquer pessoa, mas se basear na conclusão do inquérito. Ele disse que se existir culpa vai tomar as providências, se não houver, acredito que a gente segue trabalhando normal. Só teve um momento em que eu tive uma reunião de trabalho com ele e expliquei que o que motivou a prisão (dos assessores), segundo a autoridade policial, era para não combinar os depoimentos, até para ele ter tranquilidade que a prisão do Mateus não teve relação nenhuma com o ministério.

Está confirmada sua ida ao Senado dia 6 para se explicar?

Eu acredito que vamos precisar repactuar uma nova data. Provavelmente, eu seria descompatibilizado novamente para votar o segundo turno da Previdência

O presidente tem defendido a criação de uma “Cancún Brasileira” na Bacia de Angra.

Na próxima segunda, vou me encontrar, no Rio, com o governador (Wilson) Witzel e o prefeito de Angra dos Reis (Fernando Jordão). A ideia é promover uma audiência pública. Vou convidar o ministro (de Infraestrutura) Tarcísio (de Freitas). Para potencializar o turismo ali é preciso a duplicação de estradas, melhorar porto, aeroporto. Também haverá a presença de pessoas que têm profundo conhecimento de legislação ambiental. O nosso pensamento é que para preservar e conservar é preciso a presença das pessoas. Eu acredito que é preciso fazer o progresso ali em Angra, fazer ali um grande potencial turístico semelhante a Cancún, obviamente com características diferentes.

Como garantir a preservação ambiental?

Na Estação Ecológica Tamoios (faz parte da zona de amortecimento do sítio entre Paraty e Ilha Grande) é proibida a visitação, o que pode acarretar invasões e milícias. A partir do momento que puder fazer a concessão para a iniciativa privada, com um plano de manejo, como, naquele complexo turístico de Angra, onde cabe um resort? Onde pode ter um restaurante? Acho que isso precisa ser pensado para fazer de Angra o maior potencial turístico do Brasil.

Há outras medidas à vista de flexibilização de visto para outros países?

China e Índia. A isenção para esses países não é viável, no momento, pelo risco imigratório, mas queremos implementar o visto eletrônico para ambos. Conversei com o ministro Ernesto (Araújo, das Relações Exteriores) e existe também estudo inicial para aumentar a parceria com os visa centers na China. Hoje são quatro apenas e queremos aumentar para 24 postos, uma vez que os visa centers são autossustentáveis e não teria custo nenhum para o Brasil. Também está em estudo a possibilidade de entrada automática para chineses que tiverem visto americano ou da União Europeia.