Basta uma conferida atenta no espelho: eles podem estar ali. Rejeitados por grande parte das mulheres, os cabelos grisalhos muitas vezes são tidos como sinal de desleixo. Avessas à obrigação da tintura, mulheres jovens têm assumido cada vez mais os fios.
A consultora de museologia Elisa Colepicolo, de 34 anos, começou a ter cabelos brancos aos 16 e decidiu parar de pintar há 2 anos. Para registrar o processo, ela criou um blog, o Projeto Gris, onde expõe suas impressões e incentiva pessoas que gostariam de fazer o mesmo.
“É uma pressão muito forte para não parar de pintar. As pessoas olham e não acreditam. Muita gente pergunta se eu faço no salão. A maioria fica impressionada, mas não acha ruim. Tem sempre alguém que fala: 'mas você é tão novinha!' No geral as pessoas gostam. A mulherada pergunta de que cor eu tinjo ou fala que quer fazer mas não tem coragem”, contou.
Elisa lembrou que o marido, com quem é casada há 10 anos, resistiu quando ela falou sobre a ideia de parar de pintar.
“Ele falava que não ia me deixar não tingir, que ia jogar um balde de tinta preta quando eu estivesse dormindo. Quando começou a ficar maneiro, ele adorou. Hoje ele é o maior incentivador. Meu marido também já é grisalho, aí ele decidiu descolorir. Eu incentivei e ele adorou.”
Queda de cabelo
Marcia Mesquita é antropóloga, tem 31 anos, e decidiu parar de pintar em meados de agosto deste ano por ter enjoado do cabelo preto e por ele estar caindo em excesso.
"Tenho queda de cabelo há muitos anos por conta de desequilíbrios de ferro e vitamina D. Sempre fiz tratamento da dermatologista para acompanhar e consegui controlar a queda. Mas em fevereiro deste ano, meu cabelo começou a cair loucamente. Investiguei todas as causas possíveis, mas não parava. Então eu tive chikungunya e a queda piorou mesmo. Passei então a pintar com uma tinta especial que agride bem menos o cabelo, de uma marca importada. Super cara. Aí decidi fazer o teste e parei de pintar. E funcionou, minha queda melhorou muito e hoje em dia já não faço mais tratamento", contou.
2 meses (Foto: Lívia Torres/G1)
'Difícil encarar as pessoas na rua'
A assistente social Alba Lopes, de 38 anos, usa tintura no cabelo há 20 anos. Há 2 meses ela decidiu parar de pintar pra ver como seria a real cor do seu cabelo. O processo tem sido difícil e, segundo Alba, é complicado até mesmo encarar as pessoas na rua.
“Eu estava constrangida com a raiz branca. Senti que estava com o olhar baixo, não encarava as pessoas com essa ideia de que era desleixo. Minha ideia é conhecer como sou de verdade. Escuto muito: você vai parecer mais velha, descuidada. Eu não acho isso. Imagino que em pouco tempo vou dar a louca, cortar bem curto e deixar ao natural. Eu sempre quis, desde adolescente. Acho que vai ser a chance de realizar um sonho lá de trás”, revelou.
Youtuber registra processo
A carioca Kika Ribeiro, de 46 anos, tem um canal no Youtube (Página da Kika) e já fez diversos vídeos abordando sua escolha de não pintar mais os fios. Ela parou de tingir há 3 meses, mas já pensava sobre o assunto há 3 anos.
“Eu sempre achei bonito o cabelo grisalho, mas sempre pensei em como eu ia passar por esse processo. Eu decidi parar de pintar porque é uma escravidão, é chato e desgastante. A gente tem que ter uma cor de cabelo por escolha e não pode obrigação. Cabelo branco pra mim significa liberdade e principalmente atitude. Ter o cabelo branco me deixa poderosa e demonstra que sou uma pessoa que tenho coragem de ir em frente na minha decisão”, ponderou, lembrando que os primeiros fios brancos apareceram aos 20 anos.
"Eu abordo o tema nas redes sociais com naturalidade e entusiasmo, me sinto feliz com minha escolha. Gostaria que as pessoas repensassem, não é sinal de desleixo ou vaidade. É uma escolha de cor. Talvez por eu falar na internet e me expor, eu sinta a identificação das pessoas. Cabelo é uma questão de escolha pessoal, a pessoa deve se olhar no espelho e se sentir bonita.”
*Colaboraram Affonso Andrade, Miguel Folco e Susan Vidinhas