Brasil

Grupos afro-brasileiros temem aumento da intolerância na sala de aula

Pesquisadora prevê que ensino confessional resultará em mais perseguições a adeptos da umbanda e do candomblé
A professora Stela Guedes, do Grupo Kéreré, que pesquisa há 20 anos discriminação contra crianças do Candomblé, acredita que o recente aumento de casos de intolerância religiosa já é resultado do ensino religioso. Com a decisão do STF, na semana passada, que considerou constitucional o ensino religioso confessional, Stela prevê mais perseguições aos seguidores de cultos afros.
A professora Stela Guedes, do Grupo Kéreré, que pesquisa há 20 anos discriminação contra crianças do Candomblé, acredita que o recente aumento de casos de intolerância religiosa já é resultado do ensino religioso. Com a decisão do STF, na semana passada, que considerou constitucional o ensino religioso confessional, Stela prevê mais perseguições aos seguidores de cultos afros.

RIO - A professora e pesquisadora da Uerj, Stela Guedes, acredita que a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou constitucional o ensino público religioso confessional, abrirá espaço para o aumento dos casos de intolerância nas escolas públicas. Em audiência pública, nesta quinta-feira, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Stela afirmou que o próprio crescimento de ataques a terreiros já é resultado do ensino religioso.

- O ódio contra os terreiros também se aprende nas escolas – disse Stela, integrante do Grupo Kékeré, que há 20 anos pesquisa discriminação a crianças do candomblé.

A pesquisadora explica que desde os primeiros levantamentos identificou-se que a intolerância religiosa é maior na sala de aula.

- Há discriminação em todos os lugares, mas nenhum é tão cruel como a escola - diz Stela.

A pesquisadora teme as consequências do ensino confessional.

- O que o STF aprovou é que o ensino pode ser confessional. Ou seja, um professor católico, por exemplo, vai poder "catequizar" os seus alunos. Os concursos são feitos dessa forma. Um percentual para católicos, um percentual para evangélicos. Então, eles vão poder evangelizar, falar da Bíblia na escola, passar uma pauta conservadora. Isto é ser confessional. Quando você confessa a sua fé.

Crianças revelaram preconceito na sala de aula. Algumas dizem na escola, segundo Stela, que estão com piolos para explicar o cabelo raspado nos rituais Foto: Stela Guedes / divulgação / Stela Guedes / divulgação
Crianças revelaram preconceito na sala de aula. Algumas dizem na escola, segundo Stela, que estão com piolos para explicar o cabelo raspado nos rituais Foto: Stela Guedes / divulgação / Stela Guedes / divulgação

A pesquisadora alega que não há espaço para os que seguem os cultos afro-brasileiros.

- No Rio de Janeiro, são quase 70% católicos e quase 30% evangélicos. O restante são de outras religiões. Os poucos professores de ensino afro, em geral, estão dando aula de apoio, de educação física. Não formam turma - pondera.

Stela lamenta o ensino de religiões nas salas de aula. Ela observa que, de acordo com dados que o Kékeré obteve na Secretaria Estadual de Educação, o custo do ensino religioso foi de quase R$ 16 milhões.

- Nós, do Kékeré, somos totalmente contra qualquer modalidade do ensino religioso. Os conservadores usam todo tipo de desculpa para legitimar o ensino. Dizem que é para passar valores, direitos humanos. Ora, isso é uma tarefa de todas as disciplinas. Lugar de religião é na casa, na sinagoga, na igreja católica, na Igreja Universal. Esses são os espaços de fé.