Fiorde de Geiranger, o mais conhecido e um dos mais bonitos da Noruega Foto: Per Eide/Visitnorway.com / Divulgação

Pelos fiordes da Noruega, o país mais feliz do mundo

Natureza, gastronomia e arte se completam no coração da Escandinávia

Fiorde de Geiranger, o mais conhecido e um dos mais bonitos da Noruega - Per Eide/Visitnorway.com / Divulgação

por Rolland Gianotti

OSLO - Há felicidade em todos os lugares. Mas existe o lugar mais feliz de todos. Para a ONU, que todo ano divulga o Relatório Mundial de Felicidade, a partir de pesquisa em mais de 150 países, a Noruega é esse lugar (o Brasil ficou na 22ª posição em 2017). Mas qual a receita? Em parte, a resposta está nas atrações que levam cerca de cinco milhões de turistas por ano à terra dos fiordes, dos vikings e do bacalhau.

Na moderna capital Oslo, é extenso o cardápio de atrações culturais e gastronômicas, dos museus dedicados aos mais variados temas aos restaurantes estrelados da região portuária revitalizada. Além disso, a cidade consegue harmonizar seu sítio histórico com a arquitetura desconstrutivista de prédios monumentais. A capital oferece ainda grandes áreas verdes, shoppings e um eficiente sistema de transportes.

No noroeste do país, a natureza se mostra espetacular com seus enormes fiordes (o mais profundo tem 950 metros), montanhas, cachoeiras e geleiras. A beleza é estonteante, e os noruegueses sabem como tirar proveito dela. No pequeno povoado de Loen, por exemplo, um novo teleférico leva os visitantes a uma plataforma a um quilômetro acima do nível do mar. A vista é de tirar o fôlego.

Fiorde é patrimônio mundial

Em Geiranger, a vida gira em torno do fiorde que integra a lista dos patrimônios da humanidade e é considerado um dos lugares mais espetaculares do planeta. Para os amantes da boa mesa, restaurantes familiares oferecem pratos preparados com ingredientes frescos cultivados na região.

Em Alesund, capital mundial do bacalhau, o peixe faz a festa nas mesas. Mas a cidade reconstruída após um incêndio devastador faz tão bem aos olhos quanto ao estômago. Um porém: o país das paisagens exuberantes e da boa mesa é um dos mais caros do planeta. Afinal, a felicidade tem seu preço.

Loen: Trilhas e paisagens que hipnotizam

A base do teleférico de Loen: subida leva de cinco a sete minutos - Rolland Gianotti / Agência O Globo

Não é fácil chegar, mas as horas de voo e de estrada valem a pena: Loen, uma vila mínima de Stryn, cidade no oeste da Noruega, é tipo lugar único, em que a paisagem choca de tão descomunal. Já seria o suficiente para justificar a travessia do Atlântico por 11 horas até Paris, mais um voo até a capital Oslo, outra hora de avião até o aeroporto de Alesund e ainda três horas e meia de carro à beira de fiordes e túneis sob o mar. Mas as pessoas querem mais. E num lugar assim — onde o tempo se arrasta, as chances de esbarrar com alguém nas ruas são poucas, os dias são longuíssimos no verão e curtíssimos no inverno —, elas não param de inventar.

A novidade mais recente, inaugurada em maio, é o Loen Skylift, plataforma um quilômetro acima do nível do mar, onde só se chega de teleférico. A subida nos bondinhos ultramodernos leva de cinco a sete minutos, dependendo da lotação (a capacidade máxima é de 40 passageiros por cabine) e se dá sem solavancos. De cair, só mesmo o queixo. Felizmente.

Do alto da plataforma, a vista do Parque Nacional Jostedalsbreen, com seus fiordes e geleira, é daquelas em que se gastam horas admirando a paisagem, tirando fotos e postando as imagens em redes sociais. Nada mais seria preciso, já estaria de bom tamanho. Mas, como dito antes, as pessoas querem sempre mais.

Caminhadas e sobrevoos

Apesar do vento e do frio (mesmo no verão, os termômetros ficam na casa dos 10°C), a montanha chama. E as pessoas — elas, novamente — trataram de demarcar trilhas em busca de outros ângulos para a selfie perfeita. A mais curta tem 2,2 quilômetros de extensão por caminho de cascalho. A mais longa, de oito quilômetros, requer um pouco mais de fôlego.

Sopa de peixe e frutos do mar do restaurante Hoven, em Loen, na Noruega - Rolland Gianotti / Agência O Globo

De volta à plataforma — e para recarregar as energias — uma refeição no Hoven, restaurante com design moderno, atendimento simpático e nenhuma afetação, é estratégica. A sopa de peixe e vegetais sai por 145 coroas dinamarquesas (ou cerca de R$ 58). O hambúrger com abacaxi grelhado, bacon de peru, abacate e chips de batata doce custa 225 coroas dinamarquesas (R$ 89). Fica a dica: nada pode ser barato num lugar em que casacos de pele são vendidos a seis mil coroas (ou quase R$ 2,4 mil) em lojas de suvenires.

O mundo de Loen não se resume ao Skylift. O vilarejo oferece outros programas elaborados — há caminhadas na geleira e sobrevoos de helicóptero — e ótimos restaurantes e hotéis. O Alexandra, um dos mais tradicionais, vale a visita. Por 320 coroas (R$ 127) , é possível aproveitar o spa de piscinas de águas com temperaturas variadas e duchas aromáticas que simulam “chuva tropical”, “tempestade no deserto” e por aí vai... Coisa de gente que adora uma novidade.

TOME NOTA

ÓCULOS DE SOL. Por causa do vento constante e da claridade refletida dos picos nevados, óculos de sol e casaco são indispensáveis no Skylift.

GASTRONOMIA. Entre os sabores exóticos, não deixe de provar o brown cheese, que parece doce de leite, mas é queijo.

PASSEIO. A caminhada pela margem do fiorde é ótima para os dias calmos.

INTERAÇÃO. Quer interagir com os locais? Nas ruas, as chances são poucas. Portanto, corra ao supermercado.

Geiranger: Paraíso com vagas limitadas

O Fiorde de Geiranger visto do alto de um mirante - Rolland Gianotti / Agência O Globo

Imagine um lugar com pouquíssimas e pequenas construções, menos de 300 habitantes e vista espetacular para um dos fiordes mais famosos da Noruega. Esta é Geiranger, que, assim, atrai a cada ano 700 mil visitantes. Patrimônio da Humanidade desde 2005, quando recebeu o título da Unesco, o vilarejo é um dos locais mais conhecidos do país e importante porto de navios de cruzeiro: de maio a setembro, pico da estação turística, são pelo menos 200 embarcações atracando no píer.

Chegar de carro também é especial, principalmente se o roteiro incluir uma parada em Dalsnibba, a mais alta plataforma de observação de fiordes na Europa. Até o topo, a 1.500 metros acima do nível do mar, segue-se por uma estrada com uma sequência de curvas que parece não ter fim.

Na vila, tudo acontece em função do Geirangerfjord. Já na chegada, a parada no mirante permite visão mais próxima do conjunto de construções e do vale rodeado por rochas.

Casa com um telhado verde ajuda no isolamento térmico em Geiranger, na Noruega - Rolland Gianotti / Agência O Globo

O auge do deslumbre vem mesmo num passeio de barco. Entre as opções, a mais completa, percorrendo os 16 quilômetros do fiorde, dura hora e meia. Na embarcação com capacidade para 165 passageiros, os lugares próximos às janelas são os mais disputados. Mas o melhor é ficar no terraço, de onde é possível ter a visão geral das montanhas e cachoeiras.

De volta à terra firme, vale a ida a Fossvendring, a grande cachoeira. Até o topo, são 327 degraus. Ali perto ficam o Centro de Fiordes da Noruega, que conta a história dos fiordes e de Geiranger, e o Union Hotel, o mais tradicional da cidade. Geiranger, aliás, só tem 13 hotéis e pousadas. Ou seja: o paraíso tem vagas limitadas.

Alesund: Ressurgida das cinzas, literalmente

O conjunto arquitetônico art nouveau é um dos destaques de Alesund, na Noruega - Rolland Gianotti / Agência O Globo

Túnel do tempo: noite de 23 de janeiro de 1904, em pleno inverno norueguês, um incêndio devastador, de causas indeterminadas, destrói Alesund. Uma onda de solidariedade une o país, e, três anos depois, uma nova cidade, em estilo art nouveau, substitui, esplendorosa, o que fora reduzido a cinzas.

Passado mais de um século da noite trágica, o conjunto arquitetônico construído após o incêndio dá a Alesund caráter particular e se mantém como principal atração turística do lugar. O efeito dos prédios erguidos lado a lado pode ser conferido numa caminhada por ruas e ladeiras, passeio de barco pelo canal que corta a cidade ou vista panorâmica do observatório Aksla, acessível por carro ou por uma escadaria de mais de 400 degraus.

Seja como for, uma parada no museu Jugendstilneteret é indispensável. O lugar oferece uma apresentação multimídia sobre a história de Alesund. Mas o melhor é o acervo de móveis e objetos de decoração de várias interpretações do movimento que marcou a Belle Époque. O museu também mantém a decoração original — em art nouveau, obviamente — de uma farmácia que funcionou na parte da frente do prédio.

Prato de bacalhau fresco com legumes, em Alesund - Rolland Gianotti / Agência O Globo

Em Alesund, a capital mundial do bacalhau, quase tudo acaba em peixe. Por isso, vale uma pausa no Museu da Pesca, onde, entre muitas histórias, não faltam referências ao Brasil, um dos principais mercados consumidores do pescado norueguês.

TOME NOTA

CHOCOLATE. A Fábrica de Chocolate Geiranger, com suas iguarias feitas com cerveja e queijos, é uma daquelas paradas obrigatórias.

SORVETE, SIM. Mesmo no frio, não deixe de experimentar os sorvetes que são vendidos nas ruas de Geiranger. O de groselha é um campeão de vendas.

FOCAS E PINGUINS. A cidade de Alesund tem um belo aquário. Se o turista der sorte, a visita acontecerá durante a alimentação das focas e dos pinguins na área externa do empreendimento.

SUSHI ESPECIALÍSSIMO. Na Noruega, até em restaurante japonês, o bacalhau se transforma na estrela da gastronomia. Isso quer dizer: não deixe de provar o sushi de bacalhau.

Oslo: Gastronomia e museus na capital

A Ópera de Oslo e sua arrojada arquitetura, na capital norueguesa - Rolland Gianotti / Agência O Globo

Em 2018, Oslo comemora a primeira década de sua Ópera, projeto dos arquitetos do escritório Snohetta que deu nova vida a uma área degradada da capital norueguesa. Dois anos depois, o monumento em mármore, carvalho e alumínio, às margens do fiorde de Oslo, ganha um vizinho à altura: o novo Museu Munch. O futuro promete mais: na mesma região, a construção de uma nova sede para a biblioteca nacional segue acelerada.

Como o amanhã a Deus pertence, o melhor é aproveitar o agora, na cidade de 660 mil habitantes, inúmeros restaurantes e museus.

No que diz respeito à parte gastronômica da jornada viking, o Mathallen Oslo é porto seguro. Situado em Vulkan, na região central da cidade, o mercado de alimentos e bebidas, com cerca de 30 restaurantes, cafés, sorveterias e lojas de doces, funciona há cinco anos no galpão de uma antiga fábrica.

O forte de Mathallen Oslo são os peixes e crustáceos. Entre sardinhas, mexilhões, lagostas, camarões e caranguejos gigantes, o mercado oferece experiências gastronômicas pouco comuns, como o ouriço do mar (servido cru, tem gosto da água do mar e crocância de areia) e os embutidos de carne de alce (de zero a dez, nota onze). Graças ao mercado e ao movimento de turistas e locais, Vulkan, bairro antiguinho, ganhou ar hipster , com arte e gente estilosa nas ruas.

A península de seis museus

Uma das esculturas mais famosas do parque Vigeland, em Oslo, representa um pai e um filho - Rolland Gianotti / Agência O Globo

Para matar a fome de história, os caminhos levam à Península dos Museus (ou Bygdoy), a dez minutos de carro do Centro. São seis instituições. A mais concorrida é dedicada às três únicas embarcações vikings já encontradas. A mais extravagante é um dos maiores museus ao ar livre do mundo, com 156 (!!!) modelos de construções típicas da Noruega.

No Centro Histórico, as atrações se concentram no entorno da prefeitura, onde acontece a entrega anual do Prêmio Nobel da Paz. A visita é gratuita. O palácio real fica ali perto, trancado a sete chaves pela guarda do rei Haroldo V, mas com os jardins franqueados aos plebeus.

Entre os parques, o Vigeland é o número "1" na preferência dos turistas, sob sol ou chuva, com 212 esculturas em bronze e granito. Por último mas não menos importante, há a Galeria Nacional, cuja joia mais reluzente, "O Grito", de Edvard Munch, deve se bandear em breve para os arredores da Ópera.

TOME NOTA

CERVEJA. O governo norueguês controla a venda de bebiba alcóolica, e, por isso, são bem caras. Uma cerveja long neck sai por uns R$ 40.

ARTE 1. No parque Vigeland, a escultura que representa um menino com raiva é um dos símbolos da capital Oslo.

ARTE 2. O atual Museu Munch está localizado fora do Centro de Oslo. Mas, atenção, não pense em encontrar "O Grito" por lá. O original fica na Galeria Nacional.

TEMPO. Tenha uma capa ou um guarda-chuva sempre à mão para as variações climáticas — elas costumam acontecer a todo tempo.

TRANSPORTE. A Central Station é bem mais do que uma estação integrada de transportes: o lugar oferece bons cafés e restaurantes.

ÓPERA. A arquitetura da Ópera permite caminhar por rampas nas laterais do prédio. Com um pouco de disposição se chega ao teto do edifício.

Rolland Gianotti viajou a convite do Visit Norway e do Conselho Norueguês da Pesca.

Serviço

ONDE COMER

OSLO

Sanguine Brasserie. sanguinebrasserie.no

LOEN

Hoven Restaurant. loenskylift.com

GEIRANGER

Hotel Union. hotelunion.no

ALESUND

Zumma. zuuma.no

ONDE FICAR

OSLO

Thon Hotel Opera. Diárias a R$ 616. thonhotels.com

LOEN

Alexandra Hotel. Diárias a R$ 650. alexandra.no

GEIRANGER

Union. Diárias: R$ 1.126. hotelunion.no

ALESUND

Hotel Sandic Parken. Diárias a R$ 475. parkenhotel.no

PASSEIOS

OSLO

Hop-On Hop-Off Bus Tour. R$ 118, citysightseeing.no

LOEN

Loen Skylift. R$ 192, loenskylift.com

GEIRANGER

Cruzeiro pelo fiorde. R$ 91. geirangerfjord-sightseeing-5, geirangerfjord.no