Política Lava-Jato

Joalheria que vendia para Cabral fecha acordo de delação premiada

Antonio Bernardo e irmã se comprometem a pagar multa de R$ 10,6 milhões
A joalheria Antonio Bernardo, no Shoppinbg Leblon Foto: Ruben Berta
A joalheria Antonio Bernardo, no Shoppinbg Leblon Foto: Ruben Berta

RIO — Depois da H.Stern, outra joalheria envolvida no esquema do ex-governador Sérgio Cabral vai contar o que sabe. Antonio Bernardo, dono da rede que leva seu nome, e sua irmã, Vera Herrmann, assinaram acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e se comprometeram a pagar R$ 10,6 milhões em multa e a prestar serviços comunitários pelo período de dois anos.

Também tornou-se delatora a gerente Vera Lúcia Guerra, que já prestou depoimento à Justiça em outras ocasiões detalhando como as compras de joias se davam. A negociação da força-tarefa da Lava-Jato no Rio não prevê aplicação de multa a ela. A gerente informou que chegou a atender o ex-governador no Palácio Laranjeiras e no apartamento de Cabral e da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, no Leblon, na Zona Sul do Rio.

NOVA DENÚNCIA

O acordo foi homologado recentemente pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio e responsável pelo julgamento dos casos da Lava-Jato no Rio. Nele, os delatores se comprometem a colaborar com a elucidação de fatos relativos à Operação Calicute, ação que levou Cabral para a prisão em novembro do ano passado e cujo processo rendeu uma condenação de 45 anos e dois meses de prisão ao ex-governador e de 18 anos e três meses para a ex-primeira-dama.

A delação de Antonio Bernardo e sua irmã deve ensejar uma nova denúncia contra o ex-governador, assim como aconteceu depois que a H.Stern resolveu colaborar, e os quatro integrantes da cúpula da joalheira aceitaram pagar parceladamente um total de R$ 18,9 milhões em multas.

Já Antonio Bernardo se comprometeu a pagar R$ 10,1 milhões parceladamente e sua irmã, R$ 500 mil. O total de R$ 29,5 milhões em multa aplicados aos responsáveis das duas joalherias serão usados para ressarcir os cofres públicos.

Pelo acordo, os delatores também vão comunicar ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e à força-tarefa da Lava-Jato no Rio todas as vendas da rede, realizadas a partir de junho de 2013, com valor superior a R$ 30 mil, cujas peças tenham sido pagas com dinheiro em espécie. O objetivo do MPF é investigar, por exemplo, crimes contra a administração pública, o Sistema Financeiro Nacional e lavagem de dinheiro.

De acordo com a denúncia da Operação Calicute, Cabral adquiriu R$ 3 milhões em joias somente na joalheria Antonio Bernardo, em 31 oportunidades, valendo-se do mesmo modus operandi : aquisição sem emissão de notas fiscais e pagamento por meio de cheques, substituídos posteriormente por dinheiro em espécie.

Segundo o MPF, a ex-primeira-dama adquiriu R$ 790,4 mil em peças da loja. Tanto Cabral como Adriana negaram em depoimento e nas alegações finais do processo a lavagem de dinheiro por meio da compra de anéis, colares e brincos. Sobre as peças da H.Stern, por exemplo, as defesas argumentam que a empresa atribuiu ao casal todas as vendas sem nota, uma vez que somente depois da operação foi que a joalheria emitiu os documentos fiscais. O ex-governador reconheceu, no entanto, que usou recursos de sobras de campanha para adquirir joias.

No sistema da Antonio Bernardo, Adriana e Cabral eram registrados, respectivamente, pelos codinomes “Lurdinha” e “Ramos Filho” — para o MPF, trata-se da união do sobrenome de Pedro Ramos, ex-assessor de Cabral que foi inocentado por Bretas no processo da Calicute, com o último sobrenome do ex-governador. O operador Carlos Miranda, que segundo o MPF tinha a incumbência de operar o denominado esquema de “compensação paralela” (troca de cheque por dinheiro em espécie), tinha o codinome de “João Cabra”.

COLAR E ANEL DE TURMALINAS

A intensa troca de ligações entre Miranda e a gerente da Antonio Bernardo (208 vezes) e a diretora comercial da H.Stern, Maria Luiza Trotta (103 vezes) , também delatora, foi uma das provas apresentadas pelo MPF no processo da Calicute para demonstrar a relação de Cabral com as joalherias.

Algumas das joias de Cabral apreeendidas na Operação Calicute Foto: Polícia Federal / Divulgação
Algumas das joias de Cabral apreeendidas na Operação Calicute Foto: Polícia Federal / Divulgação

Entre as joias adquiridas por Cabral na Antonio Bernardo, segundo a força-tarefa da Lava-Jato, estão um colar, um anel e um par de brincos com turmalinas que custaram R$ 1 milhão e que o ex-governador teria dado de presente a Adriana em 2012, quando ela completou 42 anos. Também em 2012, o MPF aponta que Cabral adquiriu uma pulseira com diamante no valor de R$ 158 mil.

Procurada, a joalheria Antonio Bernardo afirmou que não se pronunciaria.