Política Lava-Jato

Marqueteiro do PMDB do Rio, Renato Pereira se alista como voluntário em favela

Publicitário das campanhas de Cabral, Pezão, Paes e Aécio presta serviços comunitários enquanto aguarda aval do STF para sua delação
O marqueteiro Renato Pereira Foto: Marcelo Carnaval / O Globo
O marqueteiro Renato Pereira Foto: Marcelo Carnaval / O Globo

RIO - A mais recente estratégia de marketing do publicitário Renato Pereira , responsável pelas campanhas de Sérgio Cabral desde 1998, é limpar própria  imagem, abalada pela Lava-Jato. Enquanto aguarda a homologação de sua delação pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), Pereira pretende prestar serviços comunitários para jovens do Morro do Cantagalo/Pavão-Pavãozinho, Zona Sul do Rio, como voluntário em projeto da ONG Viva Rio.

O publicitário, de acordo com a entidade, não tem obrigação de prestar trabalhos presenciais, mas cumpre ‑ mesmo de casa, via Skype - nove horas semanais na organização há cerca de dois meses. Não está claro também qual é a contribuição de Pereira ao projeto. Questionada, a ONG diz que ele participa basicamente com "ideias".

A proposta de delação de Renato Pereira, que teria se apresentado espontaneamente, foi encaminhada no final do expediente de sexta-feira ao ministro Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo. A iniciativa foi uma das última medidas do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot . Se o caso está no STF, é sinal de que o publicitário delatou políticos com foro privilegiado, como senadores e deputados federais, por exemplo.

A unidade do Favela Hub no Cantalago conta com uma escola jovem aprendiz, onde oferece atividades de arte, cooperativas de trabalho (co-working) e empreendendorismo. Consultada, a Viva Rio afirmou que o publicitário esteve pessoalmente na unidade ao menos uma vez,  durante a inauguração.

Vista aérea do Morro do Cantagalo, em Ipanema Foto: Márcio Alves - 12/12/2014 / Agência O Globo
Vista aérea do Morro do Cantagalo, em Ipanema Foto: Márcio Alves - 12/12/2014 / Agência O Globo

Discreto, ele não usa e-mails e nem telefone para se comunicar com a Viva Rio. Prefere fazer tudo pelo WhatsApp. Nos tempos de universidade, Pereira foi aluno do antropólogo Rubens Cesar, hoje diretor da ONG.

CURRÍCULO ELEITORAL

Filho de diplomatas, nascido na Suíça e antropólogo de formação, Pereira começou a trabalhar com o ex-governador do Rio em 1998, quando fez a campanha de Cabral para deputado estadual. Desde então, comandou o marketing de oito campanhas majoritárias do PMDB no Rio (Cabral ao Senado em 2002: Conde à Prefeitura em 2004; Cabral ao Governo em 2006; Eduardo Paes à Prefeitura em 2008; Cabral novamente a governador em 2010; Paes à reeleição em 2012; Pezão a governador em 2014: e Pedro Paulo a prefeito em 2016), com um saldo de seis vitórias e duas derrotas.

O publicitário também atuou em duas campanhas do prefeito Rodrigo Neves (PV) em Niterói e uma do ex-prefeito Nelson Bornier em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O sucesso no Rio alavancou a carreira nacional e internacional. Em 2013, Pereira participou da pré-campanha presidencial de Aécio Neves, batizada de "Vamos convesar", e da campanha do venezuelano Henrique Caprilles, oposição ao ex-presidente Hugo Chávez.

Na lista de clientes de Pereira, há pelo menos dois políticos com fôro privilegiado: o deputado federal Pedro Paulo, candidato do PMDB derrotado a prefeito do Rio no ano passado, e o senador tucano Aécio Neves.

PREFEITOS NA BERLINDA

Um dos investigadores que tiveram acesso aos anexos da delação disse que a novidade desta delação está voltada para o envolvimento de prefeitos no esquema de dinheiro de caixa dois em campanhas políticas. O nome do publicitário já havia aparecido na Java-Jato. O ex-vice-presidente da Odebrecht, Benedicto Júnior, contou em delação premiada que a empreiteira teria pago 1 milhão de euros a Renato Pereira, a pedido de Cabral, na vitoriosa campanha de Pezão ao governo em 2014.

Renato Pereira, que não gosta de ser chamado de marqueteiro, é dono da agência Prole Gestão de Imagem, carro-chefe de seus negócios. Mas o nome dele aparece na composição societárias de quase uma dezena de empresas correlatas.

Procurados pela reportagem, Renato Pereira e a Prole não se manifestaram.