Política

Janot diz que não conjuga verbos ‘retroceder’ e ‘desistir’ no combate à corrupção

Procurador diz que diante de fatos ‘escancaradamente comprovados’ defesas tentam desacreditar investigadores
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot 28/08/2017 Foto: Agência O Globo
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot 28/08/2017 Foto: Agência O Globo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot , afirmou nesta terça-feira em discurso durante lançamento de campanha contra corrupção do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) que diante de fatos "escancaradamente comprovados" as defesas tentam desacreditar investigadores. Sem fazer citações diretas à Lava-Jato nem às acusações contra o presidente Michel Temer, ele defendeu o combate à corrupção ao destacar o avanço das instituições.

— Nunca se viu em toda a nossa história tantas investigações abertas e tantos agentes públicos e privados investigados, processados e presos. As instituições estão funcionando. As reações têm sido proporcionais. Como não há escusas pelos fatos descobertos, tantos são os fatos e tão escancaradamente comprovados, que a estratégia de defesa não pode ser outra se não tentar desconstituir, desacreditar a figura das pessoas encarregadas de combater a corrupção, disse ele, acrescentando:

— Pensava hoje pela manhã e lembrei de uma expressão de Henry Ford: há mais pessoas que desistem do que as que fracassam. Temos de lembrar todos os dias e fazer saber nossos detratores que não conjugamos dois verbos: 'retroceder' e 'desistir' do combate à corrupção.

Janot disse ainda ter feito uma brincadeira antes do evento que reuniu representantes de diversos órgãos de controle. Afirmou que quando tantas instituições se unem para combater a corrupção "muitas pernas tremem". E, segundo o procurador-geral, não se deve aceitar a "banalização" da corrupção. Ele também citou uma frase de Bertolt Brecht:

— Peço a todos que não considerem normal o que acontece sempre.

CULTURA CONTRA A CORRUPÇÃO

Janot disse que é preciso criar uma cultura no país avessa às práticas de corrupção, ao patrimonialismo, ao fisiologismo e ao clientelismo. Ele afirmou que houve muitos avanços, mas é necessário ir adiante no tema.

O procurador-geral destacou um estudo feito pela Fiesp em 2008 que estimou entre 1,3% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) o montante que seria desviado dos cofres públicos pela corrupção. Segundo ele, com uma atualização do número seria possível afirmar que os desvios podem alcançar a cifra de R$ 100 bilhões por ano.

Janot observou haver maior conscientização da população sobre o tema e destacou que o combate à corrupção pode ajudar a melhorar os serviços públicos:

— A corrupção desvia muito mais que recursos da saúde, educação ou infraestrutura, ela aniquila vidas, sonhos e esperança de dias melhores.

A campanha lançada pelo CNMP na última semana do mandato de Janot visa criar um banco de ideias sobre medidas de prevenção da corrupção e conscientização dos cidadãos. Será aberto um chamamento público e os melhores projetos terão sua implementação fomentada.

Presente ao evento, o secretário-geral da Receita Federal, Jorge Rachid, destacou que a sonegação é tão nociva quanto a corrupção e destacou a evolução da fiscalização.

— Estamos chegando muito próximos. Essa cortina de esconder o ilícito está se acabando — afirmou Rachid.

O ministro interino da Transparência, Wagner Rosário, fez uma rápida fala destacando a necessidade de campanhas de conscientização para que as pessoas resistam a praticar atos de corrupção. Afirmou que é preciso "detectar, prevenir e sancionar" a corrupção.