30/07/2015 06h32 - Atualizado em 30/07/2015 06h56

Áudio mostra testemunha do caso Jaime Gold em contradição no Rio

Frentista disse, inicialmente, que médico pedalava no sentido Rebouçças.
Depois, em audiência, ele fala o contrário: 'Vinha em sentido Cantagalo'.

Do G1 Rio

Um áudio obtido pelo "Extra" e exibido na manhã desta quinta-feira (30) pelo Bom Dia Rio mostra a principal testemunha do caso Jaime Gold, morto esfaqueado na Lagoa, Zona Sul, em maio, entrando em contradição. O frentista do posto que fica em frente ao local disse logo depois do assassinato que o médico pedalava no sentido Rebouças. No áudio da audiência, no entanto, ele diz o contrário.

"Como eu estava falando. Eu vi dois adolescentes vindo lá atrás da vítima no sentido Cantagalo. Vinha em sentido Cantagalo e quando chegou em frente ao posto, eles não abordaram a vítima", afirma.

 O RJTV de terça-feira obteve imagens inéditas da noite em que o médico Jaime Gold foi assassinado na Lagoa, em 19 de maio deste ano. A gravação foi feita pelas câmeras de um posto de combustíveis e mostra as reações da principal testemunha do caso. Para a defesa de um dos menores condenados, o homem não viu o momento exato do crime.

As imagens (veja no vídeo acima) mostram o frentista atendendo um cliente às 18h51. Logo depois, ele caminha até a frente do posto com um colega de trabalho. Às 18h52, uma pessoa passa na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, vinda da Curva do Calombo, local onde ocorreu o crime, em direção do Túnel Rebouças. Quase dez segundos depois, outro ciclista segue no mesmo sentido, enquanto a testemunha continua parada, virada de frente para a Lagoa, ao lado de outro frentista.

Menos de um minuto depois, ele dá alguns passos para trás, olha em direção ao local onde o médico foi esfaqueado e aponta. Ele conversa novamente com o colega de trabalho e aponta novamente. Não é possível ver para onde o frentista aponta por causa de uma faixa de propaganda. O horário do crime não é determinado no processo. Mas, a partir do depoimento do frentista e das imagens da câmera, a Justiça considerou que o ataque foi por volta das 19h.

Advogado nega frentista
Para o advogado do primeiro menor apreendido, o vídeo mostra que a testemunha não viu o momento exato que o médico Jaime Gold foi esfaqueado. Ele afirma que as imagens mostram que o frentista só percebeu algo estranho depois que os suspeitos haviam fugido.

“Ele conversa com outro frentista e depois ele aponta. Ou seja, a partir daí, só começa a movimentação de pessoas, ou seja, o fato aconteceu antes desta percepção dele e antes da percepção que ele aponta, que ele faz este movimento corpóreo, afim de estar olhando pra lá, pro lado final da via, isto demostra que ele não viu a dinâmica do fato. Ele está mentindo, ele não viu”, afirma Alberto Sampaio.

Em um primeiro depoimento à polícia, o frentista afirma que percebeu que um ciclista, de cor branca, com pouco mais de 50 anos, havia sido esfaqueado por dois rapazes. Ele contou que um deles, de maior estatura, portava uma faca de mais de 30 centímetros e se aproximou do corpo da vítima e, sem esboçar qualquer reação, a golpeou em várias partes do corpo, principalmente na região abdominal, levando a sua bicicleta.

Apesar de dar detalhes sobre a ação dos suspeitos, a testemunha afirmou que não tinha condições de reconhecer nenhum dos menores, porque o ataque foi muito rápido. Em um segundo depoimento, um dia depois, os investigadores mostraram a foto de um menor, que foi reconhecido pelo frentista como um dos autores do homicídio.

O áudio do depoimento do frentista à justiça, durante uma audiência com a presença do Ministério Público e dos advogados dos menores suspeitos de participação no crime. Em um dos trechos, o advogado do primeiro menor apreendido pergunta se o intenso movimento de carros na Avenida Epitácio Pessoa não atrapalhou que ele visse os suspeitos.

Advogado - Eu fui ao local do fato e percebi que, quando passava carros, eu não conseguia olhar o outro lado. Você conseguia olhar o outro lado quando passava carros?
Testemunha - Mas na hora do ato não estava passando carro.
Advogado - É, mas na câmera que nós vimos ali foi mostrada pela juíza, passava diversos carros.
Testemunha - Mas no momento vocês nem... Vocês souberam que horas que aconteceu o ato? Ali no vídeo?
Advogado - Então a imagem ali que passava carros está equivocada? Na câmera?
Testemunha - Tá.

Juíza considerou depoimento
Na decisão sobre o caso, a juíza Michelle de Gouvêa Pestana Sampaio afirmou que a certeza da participação do primeiro menor apreendido, no assassinato, vem do "seguro reconhecimento pelo frentista, testemunha do latrocínio".

A juíza afirma também que as imagens reforçam o que ele disse - porque mostram a "reação da testemunha ao visualizar a cena do ataque à vítima". Com base nessa sequência de imagens e nos horários registrados pelas câmeras do posto de combustíveis, os advogados do primeiro menor apreendido resolveram recorrer da sentença que condenou o adolescente. Eles entraram com um pedido na justiça pra que a decisão seja revista. O recurso ainda não foi analisado.

A Polícia Civil informou que o inquérito foi concluído e entregue ao Ministério Público e ao Tribunal de Justiça. Apenas a justiça pode determinar que ele seja reaberto. O MP informou que as provas foram analisadas durante o processo e que ainda não foi intimado da sentença. Por motivos de segurança, o frentista deixou de trabalhar no posto e está em local desconhecido.

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