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Jovem brasileira ganha ouro em Olimpíada Internacional de Astronomia e Astronáutica

Miriam Harumi Koga foi a única menina do Brasil a ser classificada para a competição
Miriam Harumi Koga competiu com outros 50 estudantes, de 11 países Foto: Divulgação
Miriam Harumi Koga competiu com outros 50 estudantes, de 11 países Foto: Divulgação

RIO — Aos 17 anos, Miriam Harumi Koga conquistou o ouro na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA), em Antofagasta, no Chile, entre os dias 8 e 14 de outubro. Moradora de Guarulhos, em São Paulo, a jovem está no terceiro ano do ensino médio e tem uma rotina de estudos pesada: aproximadamente, nove horas por dia.

Miriam integrou o seleto grupo de 10 jovens brasileiros participantes e competiu com um total de 50 estudantes, de 11 diferentes países.

— Estou muito contente com essa conquista! No início do ano, quase desisti de participar da OLAA, porque achava que não daria conta de me preparar para a competição no mesmo momento em que estaria focada no vestibular e em preparação para ingressar em uma faculdade americana — afirma Miriam, que se inscreveu em nove universidades dos EUA, entre elas Stanford, Harvard e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês).

Durante a competição internacional, os candidatos participaram de provas teóricas individuais e em grupo, além de lançamentos de foguetes e um teste de observação do céu, no qual manipularam telescópios, reconhecendo constelações e identificando objetos de céu profundo, assim como as galáxias.

O assunto não poderia estar mais em pauta, já que uma das últimas grandes notícias cientificas foi sobre ondas gravitacionais, mostrando que pela primeira vez foi detectada uma fusão de estrelas capaz de provocar uma onda deste tipo.

— Eu acompanhei a notícia e achei impressionante que hoje em dia os pesquisadores estão conseguindo fazer detecções com grau de detalhe muito grande — comenta Miriam. — Durante a OLAA, eu pude visitar no Chile um observatório de alta tecnologia. Conheci como funciona por dentro e vi que é preciso muito esforço para fazer detecções assim.

Sobre a pequena participação feminina — pelo menos de brasileiras — em olimpíadas científicas, a estudante acredita que isso é resultado da forma como as meninas ainda são educadas.

— Isso vem mudando, mas meninos e meninas ainda são educados de maneira diferente. Meninas recebem bonecas e meninos, carrinhos. E a sociedade como um todo dá mais valor à beleza, quando se trata de meninas, do que às habilidades que elas podem ter — considera ela, que, além das universidades americanas, tentará passar no vestibular da Universidade de São Paulo (USP) e prestará o Enem.

EXAUSTIVO PROCESSO SELETIVO

A conquista na OLAA ocorreu após Miriam ser medalhista de ouro na 19ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA), em 2016, vencendo um exaustivo processo seletivo, disputado por mais de 88 mil alunos de escolas públicas e particulares no Brasil. Do total, mais de 3 mil alunos com as melhores notas na OBA foram selecionados para realizar três provas online.

A partir das médias obtidas, 100 alunos se classificaram para uma seletiva presencial que ocorreu em março deste ano e foi realizada no Rio de Janeiro. Com base nessas provas, 28 estudantes se classificaram para a última etapa (com mais duas semanas de aulas, exercícios que valiam nota e provas presenciais), que resultou na lista com os 10 selecionados para a OLAA, após mais de um ano de provas e preparação.

Miriam já participou de várias olimpíadas científicas regionais, estaduais e nacionais, somando 42 medalhas nas áreas de ciências. No âmbito internacional, foi classificada três vezes na Olimpíada de Mayo, competição internacional de matemática, por ter conseguido medalhas de prata e bronze e uma menção honrosa na Olimpíada Brasileira de Matemática.

INTERESSE PELOS 'MISTÉRIOS' DO CÉU

Desde os 9 anos de idade, Miriam se destaca em exatas e ciências na escola, e o interesse pelo que acontece no céu vem desde essa época.

— Quando eu era menor, às vezes pegava livros de astronomia que pertenciam ao meu pai para conhecer curiosidades. Eu me gostava de saber como eram os outros planetas do Sistema Solar ou ver fotos de galáxias. O gosto foi se desenvolver, de fato, quando comecei a ter aulas avançadas de astronomia, no meu colégio, aos 14 anos — conta a estudante.

Os funcionários do colégio não escondem o orgulho da jovem:

— Ela consegue mostrar a toda a comunidade que a mulher pode conquistar seu espaço no meio científico, sendo destaque entre os olímpicos — ressalta Margaret Cristina Toba, coordenadora pedagógica geral e responsável pelas olimpíadas científicas do Colégio Mater Amabilis, escola onde Miriam estuda. — Foi a única mulher a compor esta equipe brasileira. É um tremendo orgulho para nós.