Política

Ex-estagiário da Justiça Federal é preso e acusado de beneficiar traficante

Namorado de uma das filhas de Cabeça Branca, ele teria emprestado senha interna de acesso ao processo.

Traficante Cabeça Branca, Luiz Carlos da Rocha foi preso em Sorriso, MT
Foto: Reprodução de vídeo / Divulgação PF
Traficante Cabeça Branca, Luiz Carlos da Rocha foi preso em Sorriso, MT Foto: Reprodução de vídeo / Divulgação PF

SÃO PAULO — Um ex-estagiário da Justiça Federal de Londrina , no Paraná, foi preso temporariamente na manhã desta segunda-feira, suspeito de acessar informações referentes à prisão do traficante Luiz Carlos da Rocha , além de emprestar sua senha interna a pessoas ligadas ao criminoso. Rocha é conhecido como " Cabeça Branca ", foi preso em julho passado e é apontado pela Polícia Federal como o maior traficante da América do Sul. O estagiário foi identificado como Gabriel Barioni de Alcântara Silva, 20 anos, e, segundo as investigações, seria namorado de uma das filhas do traficante, Luiza Rocha, que estuda na mesma faculdade que ele.

Gabriel começou a estagiar na 8ª Vara Federal de Londrina em 23 de janeiro de 2017 e se desligou no dia 23 de setembro passado. O uso da senha foi percebido pela 23ª Vara Federal de Curitiba, que forneceu detalhes dos acessos do estagiário, após a quebra do sigilo telemático determinado pela Justiça no processo da Operação Spectrum.

Os acessos ilegais teriam ocorrido até o dia 3 de outubro passado e foram feitos em locais onde agia a quadrilha de Cabeça Branca. Foram realizados de diferentes IP's, fora da rede interna da Justiça Federal.

Um dos acessos ocorreu em Catanduvas, no Paraná, onde o traficante está preso na penitenciária federal. Outros ocorreram em Assunção, no Paraguai, e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

Em Londrina, um acesso feito no dia 6 de julho, poucos dias depois da prisão de Cabeça Branca, partiu de um hotel onde estavam hospedados Bruno César Payão Rocha, irmão de Luiza, e a mulher dele, Marina Katano Cavalcante Rocha.

Segundo investigações da Polícia Federal, o casal usou a internet do hotel no mesmo horário do acesso ao sistema da Justiça Federal com o login e senha de Gabriel.

Bruno ficou conectado na internet do hotel entre 15h25m45s do dia 6 de julho até 11h18m53s do dia seguinte e chegou a baixar 1.286.969 kb de dados

Marina também usou a internet do hotel entre 22h44m36 do dia 6 até 44m32s do dia 7. Somados foram quase 22 horas de uso da internet e acesso. O casal foi alvo de mandato busca e apreensão nesta segunda-feira e a Justiça determinou a quebra de sigilo de dados armazenados nos computadores, celulares e equipamentos apreendidos.

Segundo a Justiça Federal, o processo da Operação Spectrum corria com nível de sigilo 1, que permite acesso apenas das partes do processo e de usuários internos.

Para o juiz Nivaldo Brunoni, da 23ª Vara Federal de Curitiba, "há fortes elementos" de que Gabriel quebrou o sigilo funcional para beneficiar o traficante.

Ao determinar a prisão temporária, por cinco dias, o juiz afirmou que o nível de envolvimento do ex-estagiário com a quadrilha ainda não foi descoberto, mas lembrou que "é comum" que quadrilhas aliciem novos integrantes entre parentes, amigos e pessoas próximas de seus integrantes. O fato de ele ser estudante de Direito e estagiário da Justiça Federal, assinala o juiz, "eram características que interessavam ao grupo".

O juiz afirmou que a conduta do estagiário colocou em risco o sucesso das apurações e a segurança dos agentes que nela trabalham.

Patrimônio de US$ 100 milhões

O traficante Luiz Carlos da Rocha foi preso pela Polícia Federal (PF) no dia 1º de julho na cidade Sorriso , em Mato Grosso, com uma nota de R$ 5, outra de R$ 2 e moedas que totalizavam cerca de R$ 10. Ele estava numa padaria , onde foi comprar pão.

Dono de um patrimônio avaliado em pelo menos US$ 100 milhões (R$ 325 milhões) ele estava no topo da lista de procurados pela PF. Seguem nesta lista outros seis nomes: o libanês Joseph Nouheddine Nasrallah e os brasileiros Jorge Luís da Silva, Álvaro Daniel Roberto, João Aparecido Ferraz Neto, Adalberto Pagliuca Filho e Marcelo Fernando Pinheiro Veiga. Os seis são considerados criminosos de um nível inferior ao alcançado por Cabeça Branca, mas que continuam em atividade.

A operação desta segunda-feira foi batizada de "Operação Controle" - uma referência direta do total controle que a Justiça Federal, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal têm sobre os procedimentos e que as senhas fornecidas a estagiários são integralmente monitoradas.