Show de Ney Matogrosso e Nação Zumbi no Rock in Rio — Foto: Arte/G1
Ney Matogrosso e Nação Zumbi fizeram, nesta sexta-feira (22), um dos raros shows do Palco Sunset que cumpriram 100% a proposta de encontro musical no Rock in Rio. Ambos ficaram o tempo inteiro juntos no palco e retrabalharam as músicas da Nação e dos Secos e Molhados, antiga banda de Ney. O problema é que as vozes não se misturaram bem.
Parecia difícil achar um tom para o vocal agudo de Ney Matogrosso e o grave de Jorge Du Peixe. Em geral, um tentava cantar a uma oitava de distância do outro - ou seja, bem distantes. Mas em algumas faixas como "Sangue latino", do Secos, e "A ordem é samba", de Jackson do Pandeiro, parecia que cada um cantava uma música diferente.
O mesmo não se pode dizer do discurso político: nisso eles se afinaram bem. Antes de "Tem gente com fome", música do repertório solo de Ney, Jorge fez discurso contra a fome, respondido por um coro de "Fora Temer" (veja vídeo abaixo). Quando o coro voltou após a música, Jorge ainda disse: "É isso aí, fora Temer".
Nação Zumbi faz discurso contra a fome em show no Rock In Rio
No início, o show foi vendido como um retorno inédito de Ney ao repertório dos Secos e Molhados. Ele fez parte do grupo em um período curto e marcante, entre 1973 e 1974. Mas não foi bem assim: menos da metade das músicas era da banda - mais exatamente sete das quinze da noite.
Mais duas eram de fontes externas: "Refazenda", de Gilberto Gil, e "A ordem é samba", de Jackson do Pandeiro.
Quando funcionou, como em "Fala" e "Maracatu atômico", gerou algo realmente novo: as paredes de percussão da Nação Zumbi ganharam delicadeza, com Ney dançando à sua frente. Não é um elemento estranho na música da banda pernambucana: a guitarra de Lúcio Maia já faz esse contraste melódico com a dureza dos tambores.
Nação Zumbi e Ney Matogrosso tocam no Rock in Rio — Foto: Fábio Tito / G1
Quando Ney entrava nas músicas do Nação, o estranhamento foi menor, já que ele fazia intervenções mais curtas. Talvez tenha faltado alguém ter coragem de dizer ao Jorge Du Peixe que ficaria melhor só com a banda e o Ney.
Jorge não tem culpa do desencontro - aliás, em "Sangue latino", quem errou feio do início ao fim foi Ney Matogrosso. E não que o vocalista original seja ruim com o Nação, até porque os pernambucanos fazem coisas boas há anos. O problema é que era difícil mesmo achar o tom comum.
No final, o público aplaudiu bastante e pediu o "mais um" com insistência. Mas ia ser legal ver um show inteiro com Ney e a Nação sem tantos deslizes. Ao menos, não dá para dizer que não se arriscaram.
Nação Zumbi e Ney Matogrosso tocam no Rock in Rio. — Foto: Fábio Tito / G1
Público no show da Nação Zumbi e Ney Matogrosso no Rock in Rio. — Foto: Fábio Tito / G1
Nação Zumbi e Ney Matogrosso tocam no Rock in Rio. — Foto: Fábio Tito / G1