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Comandante brasileiro revela como são as buscas pelo submarino San Juan; ouça áudio

Mais de 500 homens participam da operação, em três embarcações e duas aeronaves
O Almirante Maximiano ajuda nas buscas pelo ARA San Juan Foto: Divulgação / brasil.gov.br
O Almirante Maximiano ajuda nas buscas pelo ARA San Juan Foto: Divulgação / brasil.gov.br

BRASÍLIA — Em sete dias de participação nas buscas ao submarino argentino ARA San Juan, a Marinha do Brasil distribuiu 470 militares entre as três embarcações enviadas para auxiliar a Marinha da Argentina. Foram disponibilizados o Navio Polar Almirante Maximiano, o Navio de Socorro Submarino Felinto Perry e a Fragata Rademaker, segundo o Comando de Operações Navais. A Força Aérea Brasileira (FAB), por sua vez, enviou duas aeronaves para auxiliar na procura da tripulação: a SC-105 Amazonas SAR e a P-3AM Orion, com 37 tripulantes na operação.

O Comandante do Navio Polar Almirante Maximiano, Capitão de Mar e Guerra Pedro Augusto Bittencourt Heine Filho, conseguiu gravar um áudio para o jornal O GLOBO. A Marinha explicou que a distância em que a embarcação se encontra da costa — cerca de 600 km ao sul de Mar del Plata — limita o contato direto com a tripulação.

No áudio, o comandante Heine comemora a melhora do clima na região em que estão concentradas as buscas. De acordo com ele, apesar de ser uma "operação complexa, que envolve muitos meios", o esforço conjunto dos diversos países que participam da procura - Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, África do Sul, Chile, Peru e Uruguai - "aumenta muito as chances de encontrar o submarino e resgatar os tripulantes ainda com vida".

— A Armada argentina solicitou que nós fizéssemos uma busca de superfície utilizando nossos radares e vigilância visual. Toda a tripulação do navio está consciente da relevância da operação e tem estado totalmente envolvida nas buscas — contou o comandante durante ação desta quinta-feira. — Nos últimos três dias, as condições meteorológicas têm sido favoráveis, facilitando nossos procedimentos de busca. Portanto, é importante destacar que nós mantemos as nossas esperanças.

O capitão de mar e guerra, Pedro Augusto Heine Filho, disse que a melhora do tempo ajuda nas buscas ao ARA San Juan. Ele é o comandante do navio oceanográfico Almirante Maximiliano, uma das três embarcações brasileiras que atuam na operação.
O capitão de mar e guerra, Pedro Augusto Heine Filho, disse que a melhora do tempo ajuda nas buscas ao ARA San Juan. Ele é o comandante do navio oceanográfico Almirante Maximiliano, uma das três embarcações brasileiras que atuam na operação.

O submarino argentino desapareceu no último dia 15. Com 44 tripulantes a bordo, o ARA San Juan perdeu a comunicação com a base na zona do Golfo de San Jorge quando se dirigia da Base Naval de Ushuaia, no extremo Sul da Argentina, para Mar del Plata. A principal hipótese é uma falha elétrica, provável responsável pela falta de comunicação com terra.

NA quinta-feira, o porta-voz da Marinha da Argentina, Enrique Balbi, explicou que a anomalia hidroacústica detectada pelos Estados Unidos durante as buscas ao submarino foi identificada como "um evento anômalo singular curto, violento, não nuclear e consistente com uma explosão". O ruído apareceu nos radares utilizados pelos EUA ainda na quarta-feira, às 10h31, três horas depois do último contato feito pelo submarino.

— Continuamos buscando até ter evidência concreta sobre onde está o submarino e nossos 44 tripulantes. Até não ter certezas ou outros indícios continuaremos com o esforço de busca. Não podemos fazer uma afirmação concludente — disse Balbi.

P-3AM Orion da Força Aérea brasileira Foto: Reprodução / fab.mil.br
P-3AM Orion da Força Aérea brasileira Foto: Reprodução / fab.mil.br

Heine, comandante do Navio Polar Almirante Maximiano, enfatizou ao GLOBO que "a cada fato novo, a cada informação que chega, todos os esforços estão sendo empregados a fim de encontrar o submarino ARA San Juan". A assessoria de comunicação do Comando de Operações Navais informou que os valores investidos na operação só serão contabilizados após o término das buscas.

A Fragata Rademaker foi incorporada à Marinha do Brasil em 1997. Além de possuir um sonar de casco Ferranti-Thomson Type 2050, o navio Type 22 Batch tem capacidade de operar com aeronaves de porte aproximado ao do AH-11A Super Lynx - um helicóptero que alcança velocidade máxima de 167 nós e teto máximo operacional de nove mil pés.

O Navio de Socorro Submarino Felinto Perry levou 25 mergulhadores até o local do último contato feito pelo submarino ARA San Juan. A embarcação conta com equipamentos de apoio ao mergulho, que permitem mergulhos conduzidos a até 300 metros de profundidade. Com características operacionais singulares, o navio brasileiro pode ter papel fundamental no resgate. Entre elas estão a câmara hiperbárica com capacidade para oito mergulhadores, um veículo de operação remota com câmeras de vídeo, manipulador e sonar.

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Entenda: Por que é tão difícil encontrar um submarino perdido no mar?

O último é o Navio Polar Almirante Maximiano, utilizado para realizar pesquisas polares. A embarcação, que estava a caminho da Estação Antártica Comandante Ferraz, foi incorporada à Marinha em 2009 e possui ecobatímetro multifeixe para grandes profundidades, guincho cenográfico e hangar para abrigar duas aeronaves UH-12/13 Esquilo. Dentro do navio existem ainda cinco laboratórios.

Foram disponibilizadas duas aeronaves da FAB para sobrevoar a área de buscas: a SC-105 Amazonas SAR e a P-3AM Orion. O primeiro, adquirido em agosto e operado pelo Esquadrão Pelicano, foi desenvolvido e equipado especialmente para realizar missões de busca e salvamento. O SC-105 tem radar com abertura sintética capaz de monitorar 360 graus em um raio de até 370 km, imageamento por infravermelho e integração de sistemas. De acordo com informações da FAB, a aeronave pode "detectar alvos tão pequenos quanto um bote e acompanha-los em movimento na superfície com até 139 km/h".

Já o P-3AM Orion, operado pelo Esquadrão Orungan, conta com sistema de radar e busca por infravermelho - fator que possibilita a visão noturna, uma vez que é possível localizar objetos pela temperatura emitida por eles. Com quatro motores, o P-3AM tem grande capacidade de voo, podendo se manter no ar por até 16 horas. Além disso, também está em uso o detector de anomalias magnéticas. O instrumento possibilita encontrar massas metálicas submersas e permite, com o lançamento de sonobóias, captar sinais abaixo da superfície da água.