Por G1


O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, em imagem de arquivo — Foto: Mariana Bazo / Reuters

Daniel Salaverry, porta-voz da bancada da Força Popular, partido de oposição que tem maioria no Congresso peruano, disse que o presidente Pedro Pablo Kuczynski (conhecido como PPK) deveria renunciar ainda nesta quinta-feira (14) após a denúncia de que a construtora brasileira Odebrecht pagou mais de US$ 782 mil a sua empresa de consultoria.

"O presidente Kuczynski teve tempo suficiente para avaliar sua delicada situação e tomar essa decisão [de renunciar à presidência]", afirmou. O partido de Salaverry é presidido por Keiko Fujimori.

'Insustentável'

Salaverry enfatizou que é "evidente" que a permanência de Kuczynski é "insustentável" diante de "evidências concretas de atos de corrupção" que foram anunciados na véspera na comissão Lava Jato.

"O que os peruanos exigem é que o presidente se demita e que haja uma transição constitucional para que o vice-presidente assuma a presidência do Peru", afirmou.

A crise política que enfrenta o presidente Kuczynski piorou na quarta-feira depois que se tornou conhecido o fato de que a construtora brasileira Odebrecht afirmou que deu US$ 782 mil à Westfield Capital, empresa criada por Pedro Pablo Kuczynski.

Diante da situação, na noite desta quarta, Kuczynski anunciou que decidiu receber os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o escândalo de corrupção envolvendo a Odebrecht em seu país.

'Sentimento majoritário'

"Tomei nota do sentimento popular majoritário, que considera conveniente que eu me reúna com os integrantes de tal comissão", afirmou Kuczynski à emissora "RPP Noticias", horas depois que a CPI informou sobre o pagamento.

Caso Kuczynski não renuncie, o Congresso tem a possibilidade de declarar vago seu cargo por incapacidade moral, como explica o diário "La República". São necessários 87 votos para que isso ocorra. Somente a Força Popular tem 73 assentos na Casa.

"Creio que faltam elementos para declarar a presidência vaga", disse o ex-presidente do Tribunal Constitucional peruano Carlos Mesía em entrevista a "La República".

"Primeiro, o presidente disse que vai participar da Comissão Lava Jato (do Peru) e explicar lá o que aconteceu. A (presidência) vaga é uma decisão política. O chefe de Estado anunciando sua participação neste comitê do Parlamento está ganhando tempo para dar sua versão, pois podemos estar falando de um suborno encoberto. Vendo as circunstâncias restariam dois caminhos: a presidência vaga ou a renúncia do chefe de Estado. Se a vaga se materializar, a pessoa que assume as rédeas do país, é o primeiro vice-presidente da República, Martín Vizcarra, e o Governo continua até 2021. No entanto, ainda não estamos no cenário para que isso aconteça ", disse.

Consultoria

A congressista fujimorista Rosa Bartra, presidente da CPI que investiga a propina paga pela empresa brasileira a funcionários peruanos, apresentou na quarta a relação dos serviços de consultoria enviada pela Odebrecht a seu grupo de trabalho.

Os supostos pagamentos por consultorias à empresa de Kuczynski aconteceram entre novembro de 2004 e dezembro de 2007, e coincidem com o período em que o atual presidente ocupou os cargos de ministro da Economia e, posteriormente, de primeiro-ministro, durante o governo do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006).

Os serviços de consultoria foram realizados para a transposição transandina de Olmos, que consiste em um duto de 19 quilômetros sob os Andes que leva água para a irrigação de cerca de 40 mil hectares de plantações no deserto, e para a estrada interoceânica do norte, que atravessa o território peruano desde o Oceano Pacífico até a Amazônia.

Kuczynski negou que sua empresa tivesse feito qualquer tipo de consultoria para a Odebrecht até que, no último sábado, reconheceu ter prestado consultoria através da First Capital para a empresa do grupo Odebrecht H2Olmos, concessionária do projeto de irrigação de transposição de Olmos.

A First Capital, constituída pelo empresário chileno Gerardo Sepúlveda, realizou consultorias para a Odebrecht entre 2005 e 2013 que foram estimadas em mais de US$ 4 milhões.

O presidente peruano ressaltou que a última informação difundida pela CPI que investiga a Lava Jato no país o levou a repensar a decisão de não receber seus integrantes porque as informações levam a crer "que os montantes mostrados foram pagamentos de honorários" para ele.

"Diante disso, e em respeito à honra que os peruanos me concederam de poder representá-los como presidente, acredito que é necessário informar ao povo peruano que decidi me reunir com os integrantes de tal comissão", reiterou Kuczynski.

Ganhos 'registrados'

Kuczynski também enfatizou que trabalhou durante 57 anos e que seus ganhos econômicos "como profissional estão devidamente registrados, tributados e bancarizados".

O caso Odebrecht no Peru se concentra em seguir o rastro das propinas pagas entre 2005 e 2014 para funcionários peruanos em troca de favorecimento na concessão de contratos de obras públicas e também nas doações realizadas a candidatos políticos para financiar suas respectivas campanhas eleitorais.

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