Por Gabriel Barreira e Patricia Teixeira, G1 Rio


Jorge Picciani deixa sede da Polícia Federal no Rio

Jorge Picciani deixa sede da Polícia Federal no Rio

Os deputados estaduais do PMDB Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo se entregaram na superintendência da Polícia Federal na tarde desta terça-feira (21), pouco depois de o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) determinar que eles voltassem à prisão.

Os três haviam sido presos na quinta-feira (16), também por determinação do TRF-2, mas foram soltos na sexta-feira (17), após votação na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), sem que houvesse notificação judicial. A Justiça Federal questionou

Eles são suspeitos de receber propina para defender interesses de empresários dentro da Alerj e de lavar o dinheiro usando empresas e compra e venda de gado, em crimes investigados na Operação Cadeia Velha, da força-tarefa da Lava Jato no Rio.

Albertassi foi o primeiro a se entregar, segundo nota de sua assessoria divulgada às 15h22. Paulo Melo chegou minutos depois e, Picciani, às 16h30.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, acaba de se apresentar na sede da Polícia Federal, no centro do Rio. Ele se juntou aos deputados Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB, que já haviam se apresentado. O trio será levado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito e logo após encaminhado à Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, para cumprir prisão preventiva. — Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Deputado Paulo Melo se entrega à Policia Federal

Deputado Paulo Melo se entrega à Policia Federal

Segundo agentes da PF, os deputados foram ouvidos na PF. Às 17h13, deixaram a sede da polícia para irem ser examinados no IML. Em seguida, foram transferidos de volta para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde chegaram às 17h50. Em Benfica também estão outros presos da Lava Jato, como o ex-governador Sérgio Cabral, acusado de chefiar o esquema criminoso.

De acordo com o procurador Carlos Aguiar, do Ministério Público Federal (MPF), para deixarem a cadeia seria necessário uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou do Supremo Tribunal Federal (STF). "Não cabe mais à Alerj se pronunciar sobre esse aspecto", explicou.

Edson Albertassi, Paulo Melo e Jorge Picciani: deputados foram presos novamente nesta terça-feira — Foto: Reprodução / TV Globo

5 votos a 0

Por unanimidade, os desembargadores do TRF-2 votaram pela prisão dos deputados. A Justiça Federal também determinou o afastamento deles da Alerj.

Em entrevista à GloboNews, o professor de direito constitucional da Universidade Federal Fluminense (UFF) Guilherme Peña explicou como a decisão do TRF se sobrepõe à da Alerj (veja no vídeo abaixo).

“Prevalece a decisão do tribunal", disse. "O alvará de soltura é um ato jurisdicional. Não pode um órgão legislativo efetuar a soltura. Deveria ter havido comunicação ao Poder Judiciário, para que ele efetuasse, se fosse o caso, a soltura. Por conta desse vício formal, a decisão da Alerj foi invalidada”, explicou Peña (assista à entrevista no vídeo abaixo).

Ainda segundo o especialista, a Alerj pode se manifestar sobre a decisão do TRF-2, mas essa será uma análise política, e não técnica. Ou seja, a Assembleia não pode determinar a soltura novamente.

Professor de direito constitucional comenta decisão do TRF sobre prisão de deputados

Professor de direito constitucional comenta decisão do TRF sobre prisão de deputados

O que dizem os citados

O advogado Nélio Machado, que defende Picciani e o acompanhou na PF, considerou a decisão do TRF2 "ilegal, inconstitucional e infeliz" e disse que vai recorrer a instância superior, em Brasília.

A defesa de Picciani questionou o fato de não ter tido acesso ao teor da questão de ordem antes da sessão desta terça. Segundo Machado, ele e os colegas não tiveram um "tratamento igualitário" por parte do tribunal.

A defesa de Albertassi disse que ele "confia na Justiça e estará sempre à disposição para esclarecer os fatos".

Paulo Melo também divulgou nota questionando a decisão do TRF. "Mais uma vez vejo como injusta a decisão do Tribunal Regional Federal. Não cometi nenhum crime e tenho o máximo de interesse na rápida apuração dos fatos", afirmou.

Intervenção federal cogitada

Durante a sessão do TRF, o desembargador Abel Gomes ainda pediu que o processo seja encaminhado ao presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) e que, em caso de novo "obstáculo à corte", seja pedida uma intervenção federal no Rio de Janeiro.

"Em caso de mais um obstáculo criado à Corte, peço que [o processo] seja imediatamente encaminhado ao presidente do TRF para que ele, junto ao STF, peça intervenção federal no RJ. Pelo que se vê, quadro é preocupante", afirmou, acompanhado dos outros desembargadores.

Propinas milionárias

Picciani, Melo e Albertassi integram a cúpula do PMDB no estado e são investigados pela Operação Cadeia Velha, que apura a prática dos crimes de corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas pela presidência da Alerj e outros cargos na Casa.

Os procuradores dizem que os pagamentos começaram na década de 90 e continuaram até em 2017. Só da Fetranspor, a federação que reúne empresas de ônibus no Rio, Jorge Picciani teria recebido R$ 77 milhões de 2010 para cá.

Melo é suspeito de receber R$ 54 milhões, a maior parte quando foi presidente da Alerj. Albertassi, por sua vez, teria recebido R$ 3,7 milhões em propina.

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