Por Marta Cavallini, G1


Os bastidores de uma fábrica de balas de gelatina

Os bastidores de uma fábrica de balas de gelatina

Um forte cheiro de framboesa e morango invade os sentidos de quem entra em uma fábrica de balas de gelatina. Ao passar pela porta que leva ao imenso salão onde fica a linha de produção, o forte barulho das máquinas é rapidamente amenizado pelo aroma doce que impera no local.

Sacos gigantes de açúcar, farinha, corantes e gelatina guardam os ingredientes usados nas balas. Uma sequência de máquinas e imensos caldeirões produzem as guloseimas coloridas tão conhecidas de adultos e crianças. Um passeio na fábrica é como entrar em uma casa que exala um cheiro adocicado que habita nossa imaginação desde a primeira bala que colocamos na boca.

A massa base do regaliz após sair uma máquina extrusora na forma que a bala vai ter — Foto: Marcelo Brandt/G1

O G1 visitou a fábrica da Fini, em Jundiaí, interior de São Paulo, para acompanhar a produção das balas em formato de tubo regaliz e da bala de gelatina em forma de dentadura.

Além da bala, o G1 mostrará nos próximos dias como são feitos outros produtos em uma série de reportagem. São eles:

Bala de tubo

A Fini fabrica 600 toneladas por mês da bala de tubo, o regaliz. Isso corresponde a 25% do volume de produção da unidade, de 2,3 mil toneladas de doces por mês, e 35% das vendas. Segundo o diretor industrial, Emerson Pincinato, é o item que mais cresce em termos de produção – cerca de 30% ao ano.

Podem ser produzidas até três linhas da bala em um mesmo dia. E 11 pessoas acompanham a produção de cada lote. Cada linha tem capacidade para produzir 14 toneladas diárias da bala.

A reportagem acompanhou a fabricação do regaliz de morango com recheio de laranja, um dos 17 sabores da bala.

Farinha e açúcar

A produção do regaliz começa na pesagem da farinha de trigo e do açúcar cristal. Cada saco tem uma tonelada. Além da farinha e açúcar, na massa base da bala também recebe glucose (açúcar líquido extraído do milho), gelatina, água e corantes que dão aroma e cor, além do ácido que dá aquele gosto azedinho na bala.

Produção do regaliz começa na pesagem da farinha de trigo e do açúcar cristal; cada saco tem uma tonelada — Foto: Marcelo Brandt/G1

Um tanque mistura os ingredientes, que depois passam por uma máquina que faz o cozimento. A massa base sai pronta a cerca de 145 graus numa esteira e cai numa extrusora, que produz a forma que a bala vai ter.

Massa base do regaliz, que leva ingredientes como farinha, açúcar, gelatina e corantes, sai de máquina a 145 graus após cozimento; recheio de laranja corre paralelo em outra esteira antes de se fundir à massa base — Foto: Marcelo Brandt/G1

Essa massa base percorre vários caminhos por meio de cavidades internas da máquina para fazer a infusão com o recheio de laranja.

O recheio de sabor laranja, feito à parte, já nas bandejas, antes de ser colocado em máquinas para ser fundido à massa base — Foto: Marcelo Brandt/G1

Esse recheio, feito à parte, também inclui gelatina, açúcar e glucose, com o corante de aroma de laranja, e passa pelo mesmo processo da massa base.

A massa com sabor laranja que vai dentro dos tubos de regaliz inclui gelatina, açúcar e glucose, além do corante que dá o sabor ao recheio — Foto: Marcelo Brandt/G1

As duas massas correm paralelas nas esteiras até se juntarem em outra máquina extrusora.

Na esteira

Os filetes prontos então percorrem 700 metros na esteira, o que dá cerca de 40 minutos.

Regaliz percorre vários caminhos após a infusão com o recheio — Foto: Marcelo Brandt/G1

Nesse caminho, a massa que sai a 145 graus percorre a esteira até cair para cerca de 100 graus e depois ser esfriada por ventiladores. O regaliz passa então por túneis de refrigeração e sua temperatura cai para 22 graus.

Massa do Regaliz percorre a esteira até cair para temperatura de cerca de 100 graus para então ser esfriada por ventiladores — Foto: Marcelo Brandt/G1

A bala então passa por uma camada espessa de açúcar misturado com ácido. É como se ela fosse banhada por uma cachoeira.

Regaliz passa por uma camada espessa de açúcar misturado com ácido, como se fosse banhada em uma cachoeira de pó branco — Foto: Marcelo Brandt/G1

Depois passa por um agitador que tira o excesso de açúcar para então ser refrigerada novamente.

Após passar pelo açúcar e ácido, o Regaliz é sacudido por esferas para tirar o excesso dos ingredientes, que parecem um tapete de neve — Foto: Marcelo Brandt/G1

Durante todo o processo, um funcionário vai acompanhando se os filetes se mantêm paralelos, sem grudar um no outro, e se mantêm o mesmo formato, sem arrebentar e sem amassar durante todo o percurso da esteira, que inclui até giros dentro das máquinas de refrigeração. Ele verifica ainda se a bala está coberta de açúcar de forma homogênea.

Guilhotina

Esses filetes passam então por uma guilhotina, na qual são cortados exatamente no tamanho que vão para a embalagem. O cortador dá os golpes de forma sincronizada – são 28 por minuto. Na produção da embalagem de 17 gramas, que o G1 acompanhou, cada filete tem 13 cm de comprimento. Já na embalagem de 80 gramas, o filete tem 18 cm.

Filetes do Regaliz passam então por uma guilhotina, na qual são cortados exatamente no tamanho que vão para a embalagem — Foto: Marcelo Brandt/G1

O G1 acompanhou a produção do Regaliz nas embalagens de 17 gramas; cada filete da bala tem 13 cm de comprimento — Foto: Marcelo Brandt/G1

Regaliz já cortado no formato que vai para a embalagem após passar pela guilhotina — Foto: Marcelo Brandt/G1

A etapa final é a embalagem. Elas já estão prontas na fábrica e a empresa não abre de onde elas vêm.

A etapa final é a embalagem; empresa mantém segredo sobre como são produzidas as embalagens de plástico — Foto: Marcelo Brandt/G1

A inserção nas caixas é manual. Francerlândio Augusto Soares, de 33 anos, é um dos responsáveis por organizar os pacotes de regaliz dentro das caixas e fechá-las.

Francerlândio Augusto Soares, de 33 anos, é um dos responsáveis por organizar os pacotes do Regaliz — Foto: Marcelo Brandt/G1

Ele calcula que consiga montar uma média de 126 caixas por hora – sua jornada de trabalho é de 8 horas, ou seja, ele fecha mais de 1.000 caixas por dia ou duas caixas por minuto.

Soares, há 10 meses na empresa, conta que foi contratado justamente por sua habilidade - ele já trabalhou como montador em outras empresas.

Dentadura

A reportagem também acompanhou a produção da dentadura, que corresponde a 7% do total de volume de produção da Fini, 11% das vendas e 11% do faturamento. São produzidas cerca de 160 toneladas por mês da bala.

A dentadura é um dos 90 produtos que compõem a linha de balas de gelatina, que representam de 50% a 60% da produção da empresa. A empresa produz 1,3 mil toneladas de balas de gelatina por mês e 65 toneladas por dia. Além das balas de gelatina e do regaliz, a Fini produz chicles e marshmallows.

A dentadura começou a ser produzida em 2001, logo que a fábrica foi inaugurada. O sabor predominante da dentadura é morango e framboesa.

Molde

Tudo começa no molde da bala, que é feito em impressora 3D, para então ser moldado com gesso ou resina em formas de silicone. Esse mesmo método é usado nas balas dos Minions, minhocas, ursinhos, beijos e amoras, por exemplo.

Moldes de dentadura feitos de resina colados em uma grande placa antes de serem unidos a bandejas de amido — Foto: Marcelo Brandt/G1

Esses moldes em resina ou gesso são colados em grandes placas, que são unidas a bandejas de madeira cheias de amido.

Bandejas com amido já com os formatos da dentadura são encaminhadas para receber a gelatina com sabor de morando e framboesa — Foto: Marcelo Brandt/G1

Nessas bandejas com os moldes da dentadura definidos no amido é despejada a massa da bala que leva gelatina, açúcar, água, aromas e glucose.

As gelatinas líquidas de morango e framboesa que serão despejadas nas bandejas com os moldes de dentadura — Foto: Marcelo Brandt/G1

Bandejas com as dentaduras já com a gelatina antes de ir para a refrigeração — Foto: Marcelo Brandt/G1

Depois as bandejas com a massa são empilhadas e vão para uma câmara de refrigeração. Depois desse processo, as balas vão para embalagem.

Bandejas com as dentaduras sendo empilhadas para serem refrigeradas, etapa final antes da embalagem — Foto: Marcelo Brandt/G1

Duas pessoas trabalham misturando os ingredientes e seis na produção da bala. Na parte da embalagem há 45 funcionários que se revezam para embalar todas as balas de gelatina, incluindo a dentadura, produzidas diariamente.

Mirelli Rodrigues Lima, 24 anos, preparadora de moldes há cerca de 3 anos, exibe os moldes da dentadura em resina — Foto: Marcelo Brandt/G1

Mirelli Rodrigues Lima, 24 anos, é preparadora de moldes há cerca de 3 anos na empresa. Ela dá sugestões de novos formatos e executa os moldes já definidos.

A funcionária faz cerca de 200 moldes por dia. Cada molde pode ser usado até 6 meses – é que muitos acabam ficando danificados. O trabalho de Mirelli é repor os que deixam de ser usados e fazer os novos que são lançados pela empresa. “Já tive sugestões de novas balas aceitas, isso me deixou muito feliz”, conta. Ela diz que entre suas preferidas está justamente a dentadura.

Gelatina

A gelatina usada no dia da visita à fábrica da Fini era de origem suína, mas há a opção de ser bovina também — Foto: Marcelo Brandt/G1

A gelatina, que é o principal ingrediente da bala de dentadura e, em menor proporção, do regaliz, é de origem bovina e suína – a empresa determina a escolha de uma ou de outra de acordo com a oferta do mercado.

O método de produção é parecido com o das gelatinas feitas em casa, que são despejadas em pó na água quente. Para a produção das balas, sacos de 25 kg de gelatina em pó são dissolvidos em água quente em um dos sete tanques com capacidade de armazenamento de 100 litros cada um, junto com os corantes que dão o aroma e sabor das balas.

Sacos de 25 kg de gelatina em pó são dissolvidos em água quente em um dos sete tanques com capacidade de armazenamento de 100 litros cada um — Foto: Marcelo Brandt/G1

São produzidos cerca de 7 mil litros de gelatina por dia, usando 300 kg de gelatina em pó, o que corresponde a 2,5 mil kg de gelatina dissolvida.

Método de produção é parecido com o das gelatinas feitas em casa, que são despejadas em pó na água quente — Foto: Marcelo Brandt/G1

Depois de ser dissolvida em água, a gelatina vai para um reservatório, chamado de cozinha, onde é misturada ao açúcar, glucose e mais água e passa por um processo de cozimento. É nessa etapa que muda a gelatina para a dentadura e o regaliz, pois para cada categoria há uma textura e sabor.

Única fábrica fora da Europa

A fábrica da Fini em Jundiaí é a única fora da Europa. O pátio fabril brasileiro tem 60 mil m², opera com quatro linhas de produção (gelatinas, marshmallows, regaliz e chiclete) e exporta para a América Latina e África do Sul.

A Fini é de origem espanhola, onde está a matriz. A companhia tem operação também em Portugal. Apesar de ser uma empresa europeia, apenas alguns ingredientes usados nas balas são enviados da Espanha.

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