Crédito

Por Flávia Furlan, Valor — São Paulo


Fundador de uma plataforma digital que conecta estudantes a professores para aulas de reforço escolar, o pedagogo Rafael Leonardo Rocha, 31 anos, vinha enfrentando dificuldades para dar escala ao seu negócio. Criada em 2015, a Monitorias Reforço Escolar alcançou 2 mil alunos e 7 mil professores, mas não tinha dinheiro para ampliar a equipe e formatar o modelo de franquias. “Procurei dois bancos, como pessoa jurídica e pessoa física, mas o juro era muito alto”, disse.

No dia 29 de agosto, Rocha conseguiu um empréstimo considerado por ele acessível: R$ 85 mil, divididos em 24 vezes, a 2,6% ao mês. Mas não foi com um banco tradicional — que, segundo ele, estava cobrando 3,5% ao mês. A operação foi a primeira do mercado realizada no modelo de “peer-to-peer”, ou P2P, que conecta investidores em busca de diversificação na carteira a empresários ou pessoas que precisam de recursos para tocar seus projetos. Ou seja, o empréstimo entre pessoas, sem a intermediação de uma instituição financeira.

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O empréstimo tomado pela Monitorias Reforço Escolar, que demorou quatro dias para ser liberado, ocorreu na plataforma da Nexoos, uma Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP). A figura foi criada pelo Banco Central (BC) em abril do ano passado para conectar o investidor à pessoa física ou jurídica tomadora de recursos no país.

Outras duas empresas também têm autorização para atuar nessa modalidade, a Mova, que opera em fase de testes desde 19 de agosto e prepara o lançamento ao mercado até o fim deste mês, e a Bullla, que deve estar operacional em 60 dias.

Criada em 2016, a Nexoos começou atuando como correspondente bancário, ligada às financeiras Socinal e PortoSeg, que emitiam as cédulas de crédito bancário para formalizar os empréstimos. A esse papel, estava vinculado um recibo de depósito bancário, adquirido pelo investidor. Mas, em junho, a Nexoos teve a autorização para se tornar SEP, com a permissão para emitir ela mesma a cédula de crédito e vinculá-la a um contrato com o investidor.

Pedir licença de SEP é, hoje, uma opção. Algumas fintechs, contudo, acreditam que o custo regulatório não compensa diante do tamanho do negócio. Pelas regras, o capital mínimo para operar uma SEP é de R$ 1 milhão. Porém, à medida que as plataformas existentes vão se desligando de uma instituição financeira, o país deve começar a ver, de fato, os efeitos do modelo “peer-to-peer” nas taxas praticadas e no prazo para liberação dos recursos.

“Com um produto próprio da Nexoos, devemos ter um ganho de eficiência em custos entre 20% e 25% até o ano que vem, o que traz benefício ao longo do tempo no custo do crédito ao cliente”, diz Nicolas Arrellaga, fundador da empresa. A maior eficiência vem do fato de, agora, a fintech não precisar mais de uma financeira para formalizar a operação, o que dá agilidade na cobrança do tomador e repasse ao investidor.

Rafael Leonardo Rocha, fundador e CEO da Monitorias Reforco Escolar. — Foto: Claudio Belli/Valor
Rafael Leonardo Rocha, fundador e CEO da Monitorias Reforco Escolar. — Foto: Claudio Belli/Valor

A carteira ativa da Nexoos é de R$ 140 milhões. Como SEP, foram R$ 500 mil concedidos desde 29 de agosto, mas a ideia é que essa modalidade represente toda a originação até o fim do ano. O prazo médio das operações é de 20 meses e o tíquete médio, de R$ 80 mil. O custo efetivo total médio do empréstimo é de 32% ao ano.

Como não usam capital próprio, essas fintechs fazem dinheiro cobrando uma taxa por transação aprovada, algo em torno de 5% do valor do crédito liberado.

Vem mais por aí

A fintech Mova, primeira a obter sinal verde do BC para atuar no modelo “peer-to-peer”, em abril deste ano, começou os testes da plataforma em agosto, com amigos e familiares, e planeja a liberação para o público neste mês. Uma sociedade do grupo Omni e dos executivos que tocam o negócio, entre eles Roberto Felipe Tesch, presidente da empresa, a plataforma conecta investidores a empresas, mas também a pessoas que querem fazer pós-graduação.

A Mova pensou em montar sua operação junto ao grupo Omni, projeto que foi encerrado diante da regulamentação do BC referente à SEP. A fintech espera, assim que estiver no ar, liberar recursos em três dias. Em 18 meses, porém, projeta operar como nos Estados Unidos, com liquidez imediata, assim como funciona o crédito pré-aprovado no Brasil, o que depende da demanda dos investidores.

A fintech fará operações de R$ 5 mil a R$ 5 milhões, podendo ter garantias, como imóveis, automóveis, máquinas, além da cessão de recebíveis. As taxas de juros vão de 0,90% ao mês para clientes de rating A até 2% ao mês para aquelas com rating C. O prazo é de até 60 meses, podendo dar carência de 24 meses. A projeção é ter R$ 50 milhões concedidos ao mês até dezembro de 2020 e alcançar R$ 10 bilhões de carteira em cinco anos.

“Há complementariedade desse negócio com o de outros players, porque o Brasil tem, dependendo da forma como se olha, entre 50% e 60% do crédito sobre o produto interno bruto, bem abaixo de países desenvolvidos”, disse Tesch. “Temos espaço para crescer antes de entrar em conflito com bancos.”

As SEPs têm a obrigação de repassar em cinco dias os recursos do investidor ao tomador. Com tecnologia para análise de risco, estrutura enxuta e menos exigências regulatórias, conseguem reduzir seus custos e as taxas praticadas aos clientes.

A Bullla, por sua vez, teve autorização para operar em 5 de setembro, e em 60 dias deve colocar no ar uma plataforma que vai focar na intermediação apenas entre pessoas físicas. “Fundamentalmente queremos criar uma comunidade virtuosa, para pessoas com um pouco de reserva ajudarem quem está com falta”, disse Marcelo Villela, presidente da fintech.

No caso da Bullla, os empréstimos vão variar entre R$ 1 mil e R$ 5 mil, com prazos de 4, 6, 9 e 12 meses. A taxa de juro vai de 2% a 6,5% por mês. Segundo Villela, que atuou como presidente da Losango e diretor do Bradesco e do HSBC, com o uso recorrente da plataforma, será possível avaliar melhor o perfil do cliente, sem ter de buscar informações fora desse ambiente, o que reduzirá os custos — hoje, são 250 variáveis analisadas de cada pessoa, a partir da consulta de quatro cadastros externos de informações.

A legislação da SEP foi lançada no mesmo momento que a da Sociedade de Crédito Direto (SCD), empresa que atua com empréstimo, porém com recursos próprios. Enquanto apenas três empresas conseguiram autorização para virar SEP, nove tiveram sinal verde do BC para se tornar SCD.

Segundo os executivos, isso ocorre porque o “peer-to-peer” é um modelo novo no país, sem soluções de prateleiras — por exemplo, a lei não determina qual contrato deve ser usado nas operações. Já a SCD é como uma instituição financeira tradicional, porém simplificada.

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