Política

Empresa ligada a Eduardo Cunha foi montada duas semanas antes de fechar negócio com Furnas

RIO E SÃO PAULO - A Companhia Energética Serra da Carioca II, que comprou ações de um grupo privado por R$ 6,9 milhões e as vendeu, sete meses depois, por R$ 80 milhões a Furnas Centrais Elétricas, foi constituída apenas duas semanas antes de entrar no negócio. As ações corresponderam a 29% do capital da Serra do Facão Participações, responsável pela construção de usina hidrelétrica em Goiás. ( Leia também: Eduardo Cunha ameaça petistas e relembra caso dos aloprados )

( Leia também: Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Lutero de Castro Cardoso negam envolvimento em operação de empresa com Furnas )

( Entenda o caso )

A primeira assembleia da nova empresa, que elegeu a diretoria, está registrada em ata do dia 26 de dezembro de 2007. Pouco depois, em 9 de janeiro do ano seguinte, a Serra da Carioca arrematou um lote de ações do empreendimento Serra do Facão do grupo privado Oliveira Trust.

Serra da Carioca aparece no organograma do Grupo Gallway. Pelo menos duas pessoas do grupo eram ligadas ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), que indicou a direção de Furnas no mesmo período do negócio. Gallway: diretores tiveram sigilo fiscal quebrado

Dissolvido pelo grupo Gallway em outubro do ano passado, o Conselho de Administração da empresa foi marcado por nomes do mercado financeiro envolvidos em operações suspeitas. Alguns deles sofreram quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios e processos na Comissão de Valores Mobiliários.

Lucio Funaro, que não aparece no quadro de diretores e conselheiros da empresa, mas que se apresenta como representante da Gallway, é também processado, segundo o Ministério Público Federal de São Paulo, por lavagem de dinheiro e crimes financeiros. Ele teve a prisão decretada na operação Satiagraha por suposto envolvimento com Naji Nahas. O processo ainda não foi apresentado à Justiça.

José Oswaldo Morales, já falecido, que presidiu o conselho administrativo da Gallway, era dono da Novinvest, empresa de valores mobiliários acusada pela CPMI de causar prejuízos de R$ 17 milhões aos fundos de pensão, assim como as empresas de Funaro, entre elas a Garanhuns, envolvida no escândalo do mensalão.

Por causa da Garanhuns, Funaro é investigado pela CVM, que no ano passado absolveu algumas das empresas envolvidas em um esquema de operações supostamente fraudulentas relativas aos fundos de pensão, mas que manteve as investigações sobre Funaro.

Ex-diretor da Gallway, Sergio Guaraciaba Martins Reinas também teve a quebra de sigilos pedida pelos parlamentares. Guaraciaba Reinas é dono da Rio Alto Serviços Financeiros, antiga Gallway Corretora, que até março passado era do grupo Gallway. Guaraciaba, junto com Funaro, é investigado pelo inquérito 08/04, da CVM, que "apura a eventual ocorrência de irregularidades com as operações cursadas na BM&F com IBOVESPA Futuro, envolvendo pessoas relacionadas com a Laeta S/A D.T.V.M e outras".

Guaraciaba, Morales e Funaro são alvos também do processo administrativo 13/05 da CVM, que apura supostas irregularidades relacionadas a negócios feitos na BM&F e Bovespa com clientes de fundos exclusivos da Prece Previdência, entre 2002 e 2003.

Lutero de Castro Cardoso, que foi do Conselho Administrativo entre abril de 2008 e abril de 2009, teve os bens bloqueados pela Justiça por ter presidido a Cedae e ser acusado de, supostamente, participar de acordos extrajudiciais considerados irregulares envolvendo R$ 32 milhões.

- Eu demiti o Lutero. Ele era uma das pessoas que tinha participação nisso (nos acordos extrajudiciais) - contou ao GLOBO Helcio Camarinha, um dos conselheiros da Gallway, referindo-se à usina Apertadinho, em Rondônia, que sofreu uma quebra de barragem em janeiro de 2008.

Dono da Enerbrax, Helcio nega que tenha envolvimento com a Gallway e afirma que sua participação no conselho foi para elaborar um diagnóstico do incidente em Rondônia. Segundo sua afirmação, ele teria sido colocado no conselho para ter acesso a todos os documentos e atos da empresa. O incidente, de acordo com Camarinha, teria causado prejuízos de R$ 300 milhões aos fundos de pensão, entre eles a Petros:

- Fiz meu relatório e entreguei para a Aneel, Ministério Público e Petros. Ele (Lutero) foi um membro ativo disso e na gestão dele criaram a expectativa de que iriam reconstruir a usina em seis meses. Houve muito desvio de conduta. E essa usina não ficaria pronta (de fato) em menos de dez anos. Depois do meu relatório, o diretor financeiro pediu demissão. A diretoria pediu demissão. Meu trabalho foi lá para "limpar o trilho". Chegou-se à conclusão de que a empresa não era solvente.

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