Política

Página 'Guarujá Alerta’ já publicou outros rumores

Em fevereiro, site acusou unidade de saúde de reutilizar seringa em idosos

SÃO PAULO - O sensacionalismo parece ser a marca da página “Guarujá Alerta” no Facebook, com postagens em tom de alerta à população. O grupo, que tem uma parceria com a Polícia Militar para divulgar crimes ocorridos na cidade, faz clara oposição à prefeitura. O “Guarujá Alerta” se define como uma “página de fatos, acontecimentos, notícias, reclamações e sugestões do morador e turista”. Foi criada em novembro de 2012 e tem 54 mil seguidores, a maioria é de jovens de 18 a 24 anos, moradores de Guarujá e de cidades vizinhas na Baixada Santista.

Destes seguidores, quase 10 mil foram “conquistados” nos últimos dias, após a publicação das imagens da suposta sequestradora de crianças.

Não foi a primeira vez que o perfil repercutiu um boato em sua página. Em 26 de fevereiro, os administradores repassaram uma denúncia de que a Unidade de Saúde da Família Jardim dos Pássaros estaria reaproveitando seringas em idosos com diabetes. O caso foi negado sistematicamente pela prefeitura, mas a postagem permanece no ar.

A postagem segue características similares à que levou moradores da comunidade de Morrinho 4 a confundirem a dona de casa Fabiane Maria de Jesus. São postagens com tom de denúncia, sem citação de fonte e sem o contraponto. Muitos ataques se dirigem à prefeitura da cidade. Pessoas ouvidas pelo GLOBO tanto na prefeitura de Guarujá quanto no perfil afirmam que os administradores teriam vínculos políticos com rivais do atual governo. Em 6 de março, uma postagem atacou a prefeita Antonieta de Brito: “Prefeita Maria Antonietta de Brito já deu né, chega, pede para sair (sic)”. A prefeitura afirmou que não vai se pronunciar sobre a página.

A página também tem forte vínculo com a Polícia Militar. Em fevereiro, comemorou uma parceria com 21º Batalhão da Polícia militar de Guarujá. Nele, ficou firmado que o perfil receberia informações sobre ocorrências e fotos de criminosos.

A imagem da suposta criminosa, que levou ao linchamento, foi retirada do ar no final de semana, após a morte de Fabiane. Os administradores afirmaram que estão colaborando com as investigações e que não vão se manifestar sobre o assunto.

Até a noite de ontem, mais de seis mil comentários haviam sido publicados, repudiando a página. Os internautas manifestaram indignação com o linchamento de Fabiane.

“Apologia ao crime, formação de quadrilha e autoria intelectual são os crimes por vocês cometidos”, diz um internauta. Outro comenta: “Boato não se publica, principalmente acompanhado da imagem de uma pessoa”.

“Vocês, moderadores e responsáveis por essa página, são tão culpados quanto os monstros que espancaram essa mulher!!!”, diz outro comentário.

“Por irresponsabilidade desta página, uma mulher foi brutalmente morta. Desejo, sinceramente, que os proprietários desta página sejam incriminados como coautores do assassinato daquela mulher”, cita outra publicação.

Depois do linchamento de Fabiane, até publicações antigas da página estão sendo alvo de críticas. Abaixo de uma foto de um buraco de rua, por exemplo, aparecem os comentários: “Não foi foto aleatória do Google?”; “esse buraco não existe, deve ser boato também”. O aviso de uma moto roubada teve o seguinte comentário: “tem certeza de que foi roubada?”