A denúncia de invasão de garimpeiros em terras indígenas do povo Waiãpi, no oeste do Amapá, e a morte de um índio da etnia confirmada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), repercutiram nos principais órgãos independentes e instituições ligadas aos direitos dos índios no Brasil.
Em nota, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) afirmou que a narrativa preconceituosa de autoridades governamentais tem sido um combustível a mais para a execução de ações criminosas em terras Indígenas brasileiras.
A associação faz referência a membros do atual governo federal e ao presidente da República, Jair Bolsonaro, destacando que declarações em tons de ironia e sarcasmo desqualificam os povos indígenas e os que trabalham defendendo os seus direitos.
“Não há como dissociar a escalada desta violência das declarações de membros do atual governo federal, em particular, do próprio presidente da República, que de maneira inadequada e infeliz, muitas vezes em tom de ironia e sarcasmo, insiste em desqualificar tanto os povos indígenas quanto aqueles e aquelas que com eles trabalham e defendem seus direitos", enfatiza a nota.
Nesta segunda-feira (29), ao comentar a tensão registrada no Amapá, o presidente disse que, até o momento, não teve "nenhum indício forte" de que o indígena foi assassinado.
Aldeias Waiãpi no Amapá — Foto: Reprodução
"Nesse caso agora aqui, as informações até o momento, vou atualizar de manhã, não tem ainda nenhum indício forte de que esse índio foi assassinado lá agora. Chegaram várias possibilidades. A PF está lá, quem nós pudermos mandar para lá já mandamos para buscar desvendar o caso e buscar a verdade sobre isso aí", afirmou o presidente.
Bolsonaro disse, ainda, que tem a "intenção" de legalizar o garimpo no país, plano que incluí a liberação da atividade em terras indígenas.
Segundo o presidente, ONGs e outros países (ele não deu exemplos) são contrários, pois desejam ver os indígenas presos em um "zoológico", como se fosse um "animal pré-histórico".
Na nota divulgada, os membros da ABA pedem um basta nas "declarações desqualificantes e, por diversas vezes, caluniosas de autoridades governamentais" sobre os índios e sobre os profissionais que atuam na defesa desses povos e territórios.
"Este tipo de narrativa preconceituosa e inapropriada de autoridades governamentais tem sido combustível eficaz para a execução de ações criminosas contra tais povos e seus territórios", escreve a entidade.
Além disso, a instituição exige "rigorosa apuração" da morte do índio Emyra Waiãpi, de 62 anos, e a "prisão exemplar dos assassinos".
A invasão das terras do povo Waiãpi e a morte do indígena estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal do Amapá (MPF).