Edição do dia 14/05/2016

14/05/2016 21h03 - Atualizado em 14/05/2016 21h08

Delatores contam que Eduardo Braga ameaçava quando propina atrasava

Delação de ex-executivos da Andrade Gutierrez revela relação antiga da empreiteira com ex-governadores do Amazonas.

O Jornal Nacional teve acesso, com exclusividade, a novos trechos dos depoimentos que dois ex-executivos da Andrade Gutierrez deram a procuradores da Operação Lava Jato. Nessas delações, eles revelaram o pagamento de propina a quatro ex-governadores. Eduardo Braga, do PMDB, e Omar Aziz, do PSD, hoje senadores pelo Amazonas. E os ex-governadores do Distrito Federal: Agnello Queiroz, do PT e José Roberto Arruda, que, na época, era do Democratas.

Os ex-executivos da Andrade Gutierrez contaram aos procuradores como foi fácil ganhar a concorrência da Arena Amazônia.

Eles disseram que tiveram informação privilegiada do governo. E que a construtora ainda participou da elaboração do projeto e do edital de licitação.

Segundo os ex-executivos, a Andrade Gutierrez tinha preferência pela obra desse estádio porque estava no Amazonas havia muitos anos.

Pelo que está na delação, a relação com então governador Eduardo Braga, do PMDB, também era antiga. Os ex-executivos revelaram aos procuradores que havia uma combinação com Eduardo Braga que valeu durante os oito anos do governo dele: propina de 10% sobre o valor de cada obra da empreiteira.

Só as obras de urbanização na área de Igarapés - uma região ribeirinha na periferia de Manaus - tiveram contratos de aproximadamente R$ 400 milhões. Parte da verba era do estado, a outra vinha do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Hoje Eduardo Braga é senador. Ele foi Ministro de Minas e Energia do governo Dilma até o mês passado.

O ex-executivo da Andrade Gutierrez, Rogério Nora de Sá, disse que o acordo com o então governador nasceu do interesse da Andrade Gutierrez em receber precatórios - ordens judiciais de pagamento - contra o estado.

Rogério estima que foram pagos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões a Eduardo Braga. Na outra delação, Clóvis Primo contou que o ex-governador fazia ameaças se houvesse atraso no pagamento da propina. Disse "que ele era jogo duro".

Os delatores afirmaram que os pagamentos de propina continuaram com o sucessor de Eduado Braga no governo do Amazonas.

Durante a licitação do estádio, Clóvis Primo disse ter se encontrado num hotel em Brasília com o novo governador, Omar Aziz, na época no PMN, Partido da Mobilização Nacional. Que, depois, foi para o Partido Social Democrata - PSD. Hoje ele é senador.

Clóvis Primo relatou que tentou negociar uma redução da propina paga pela obra do estádio. O delator disse que o novo governador não aceitou, fez um grande teatro, se exaltou, dizendo que tinha compromissos, mas que, depois, aceitou a redução da propina. Em vez dos 10% que eram pagos a Eduardo Braga, ficou com 5%.

Numa outra reunião, em São Paulo, segundo o ex-executivo Rogério de Sá, Omar Aziz pediu propina no valor de R$ 20 milhões, alegando que a empresa tinha um grande volume de obras no estado e que o dinheiro pagaria despesas de campanha.

Ao ouvir que não era possível, Rogério Nora de Sá disse que Omar Aziz insistiu de modo agressivo, e subindo o tom afirmou que se a propina não fosse paga o governo do Amazonas poderia se vingar da Andrade Gutierrez.

Omar Aziz, pelo que está na delação, chegou a sugerir que a construtora executasse algum serviço de medição de terraplanagem e embutisse o valor.

Rogerio de Sá disse que a Andrade Gutierrez pagou cerca de R$ 18 milhões a Omar Aziz. E que os pagamentos foram pelo menos até setembro de 2011.

Na delação, os ex-executivos também contaram que houve pagamento de propina nas obras da construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Clóvis Primo disse que, antes da formação do consórcio que ganhou a licitação, já havia um acerto, em 2009, para o pagamento de propina de 1% para o então governador José Roberto Arruda, eleito pelo Democratas.

Rogério de Sá disse que autorizou os pagamentos combinados com o ex-governador mesmo depois de Arruda ser afastado.

José Roberto Arruda chegou ser preso, acusado de tentativa de suborno, e teve o mandato cassado. Rogério contou ainda que também houve pagamento de propina para o ex-governador Agnelo Queiroz, do PT.

E quem fazia os pagamentos eram os diretores da Andrade Gutierrez, Carlos José e Rodrigo Lopes.

Na delação de Clovis Primo, o ex-executivo disse que não havia um acerto fixo de propina com Agnelo, mas que o ex-governador fez pedidos de pagamentos para o PT.

O senador Eduardo Braga disse que a denúncia é absurda, que está indignado, e se sentindo ofendido com as acusações.

O senador Omar Aziz declarou que seguiu rigorosamente o valor da construção da Arena Amazônia determinada pelo Tribunal de Contas da União. E que está sendo vítima de retaliação da Andrade Gutierrez por não ter cedido a pressões da empresa para aumentar o preço da obra.

O advogado de José Roberto Arruda afirmou que o contrato da construção do Mané Garrincha não foi assinado durante a gestão dele. E negou que tenha havido repasse ou pagamento enquanto Arruda esteve no cargo.

O advogado de Agnelo Queiroz disse que o ex-governador nunca recebeu ou pediu qualquer quantia ou benefício ilícito de quem quer que seja. O PT informou que todas as doações para o partido foram dentro da legalidade e declaradas à Justiça Eleitoral.

A Andrade Gutierrez não quis se manifestar.