Uma publicação em um grupo no Facebook permitiu a realização do sonho de uma gestante de São Vicente. Internada por causa de uma doença respiratória grave, Ana Paula Ladislau, de 34 anos, registrou em fotos os últimos momentos com seu "barrigão", dentro de um hospital em Santos. A gestante é ex-moradora de rua e deixou de usar drogas após receber o diagnóstico de enfisema pulmonar.
Ana Paula já tratava a doença pulmonar há anos. Após sentir um chute na barriga, descobriu que estava no sexto mês de gestação. "Devido ao tratamento e à 'barriguinha' que ela sempre teve, nós nem pensávamos que estivesse grávida. Foi uma notícia muito boa", conta o esposo, Arthur Ladislau, de 37 anos.
Por precisar de um concentrador de oxigênio, Ana Paula foi internada no dia 22 de julho no Hospital Guilherme Álvaro. Em menos de dois meses de internação, fez amizade com outra gestante, que acabou responsável por contar sua história em um grupo de mulheres na rede social, pedindo ajuda para a realização de um ensaio fotográfico. As fotos foram registradas na última segunda-feira (10), e a gestante aparece com seu concentrador de oxigênio e acompanhada do esposo.
"Ela estava linda. Até fiquei emocionado na hora, porque não teríamos condições de pagar as fotos, já que estou desempregado", comenta Arthur.
Responsável pelo registro, a fotógrafa Alessandra Oliveira Couto Barros conta que ficou sensibilizada com a história do casal assim que viu a publicação no Facebook. Com criatividade e ajuda de uma maquiadora, o quarto compartilhado com outras gestantes virou um estúdio, e Ana Paula posou atrás de uma porta. "Eu sei o quanto essas fotos farão diferença no futuro dela e do bebê, Megan. A Ana Paula falava o quanto estava feliz e estava se sentindo linda. Amaram as fotos mesmo antes de vê-las editadas!", diz.
Megan, primeira filha do casal, veio ao mundo na última terça-feira (10), dia do aniversário de Ana Paula. Além da recém-nascida, ela tem três filhos de outro relacionamento, enquanto Arthur tem dois.
Doença
Ana Paula recebeu o diagnóstico do enfisema pulmonar há nove anos, quando ainda era moradora de rua e usuária de drogas. A doença crônica é responsável por destruir as células do pulmão aos poucos. Arthur explica que a ideia de ter filhos sempre foi desaconselhada por médicos, já que, devido aos problemas respiratórios, sua esposa "dificilmente sobreviveria".
"Ela estava na fila para o transplante de pulmão e coração no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Quando chegou sua vez, os médicos fizeram uma reunião e optaram por não fazer a cirurgia. Nos disseram que ela tinha 99% de chances de vir a óbito. Apesar disso, ela é muito ativa e faz tudo com o balão de oxigênio. É uma guerreira", comenta o esposo.
Considerada uma gravidez de risco, a moradora de São Vicente chegou a ficar internada por alguns dias após apresentar dificuldades para respirar, há cinco meses.
Passado
Ana Paula morou nas ruas durante 11 anos, após sair de casa por causa do consumo de drogas, que se intensificou ao se tornar mãe aos 15 anos e terminar um relacionamento. Durante o período, chegou a morar embaixo da Ponte do Mar Pequeno, que liga as cidades de São Vicente e Praia Grande. Ela só conseguiu largar o vício após receber o diagnóstico de enfisema pulmonar.
Arthur conta que conheceu sua companheira em um grupo de WhatsApp, e logo se familiarizou com sua história. Ele perdeu a mãe e uma irmã mais velha devido ao enfisema pulmonar, mesma doença de Ana Paula.
Na época, o vício dele em cocaína aumentou. Ambos os pais estavam doentes, e ele se viu obrigado a largar o emprego para cuidar dos dois. Foi só depois de conhecer a futura esposa que conseguiu largar o vício, seis meses antes de o pai falecer. “Com paciência, ela me salvou desse vício. Hoje, somos um só”, finaliza.