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Vítimas de terremoto no México temem que troca de governo adie soluções

Os 15 mil desabrigados estão à mercê da inércia do poder público
Destruição. Olivia (ao centro) e o prédio atingido: prazos adiados Foto: Henrique Gomes Batista
Destruição. Olivia (ao centro) e o prédio atingido: prazos adiados Foto: Henrique Gomes Batista

CIDADE DO MÉXICO - Os minutos após um terremoto são os mais tensos: prédios desabam, acaba a energia, alarmes disparam por todos os lados. Mas cerca de 15 mil pessoas que estão sem casa desde o abalo de 19 de setembro do ano passado estão vivendo um novo tipo de agonia na Cidade do México comparável com o drama inicial: a inércia pública para encontrar uma solução para seus problemas. E a troca de governo, após as eleições gerais de domingo, pode piorar tudo.

— Os prazos são adiados. Não sabemos nem se nosso prédio pode ser reformado ou precisa ser demolido e reconstruído — afirma a antropóloga Olívia Domínguez Pietro, que se tornou uma das líderes do Movimento das Vítimas do Terremoto na região de Benito Juárez. — E com a mudança de governo, temo que tudo pare novamente. Já são dez meses de indefinição, há pessoas que estão adoecendo por isso.

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Javier Peña Fajardo, vizinho de Domínguez Pietro, afirma que sabe que muitas pessoas estão voltando para moradias condenadas, por conta e risco, pela falta de ação do governo.

— Muitos preferem o risco do que ficar em abrigos e estão desesperados pois não confiam mais no governo — disse.

O governo prometeu iniciar, em duas semanas, a reconstrução e reforma dos prédios do Multifamiliar Tlalpan, condomínio de dez edifícios onde um caiu, matando nove pessoas e de onde foram resgatadas 18 dos escombros. Marisol Arriaga, líder dos moradores, afirma que o orçamento para a reconstrução dessas moradias foi reduzido e desviado para obras de saneamento.

— Este governo, em sua reta final, pode simplesmente adiar nossa solução, prorrogar nosso sofrimento — disse ela. — Porém, com tudo isso, aprendemos a nos organizar. No Tlalpan, somos cerca de 2 mil moradores em 500 apartamentos. Antes não sabíamos o nome dos vizinhos. Agora estamos em uma organização e muitos já pensam até em entrar para a política. Afinal, o povo tem que participar. Só assim as coisas mudam.