Por G1


Marine Le Pen (Frente Nacional), François Fillon (Os Republicanos), Emmanuel Macron (En Marche), Benoît Hamon (Partido Socialista) — Foto: Christian Alminana/AP; Gonzalo Fuentes/Reuters; STR / AFP; Francois Nascimbeni / AFP

A disputa pela presidência francesa ainda está indefinida a pouco mais de um mês do primeiro turno da eleição, que acontece em 23 de abril. Até o momento, apenas a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, com cerca de 25% das intenções de voto, desponta como provável candidata ao 2º turno, que será em 7 de maio. Nesta semana, Macron apareceu pela primeira vez a sua frente em uma pesquisa. A candidatura de François Fillon parece sofre um intenso desgaste nas últimas semanas devido a um escândalo de corrupção.

Veja quem são  os principais candidatos na eleição francesa

Veja quem são os principais candidatos na eleição francesa

Marine Le Pen

Com retórica anti-imigração e contra a União Europeia, a candidatura de Marine Le Pen ganha força por causa do descontentamento dos eleitores com o governo do socialista François Hollande.

Marion Anne Perrine Le Pen, de 48 anos, é a presidente da Frente Nacional, partido fundado pelo seu pai, Jean-Marie, sigla que ganhou espaço principalmente desde as últimas eleições presidenciais. No primeiro turno de 2012, Marine conseguiu um índice surpreendente de votos para a extrema direita (18,12%), mas perdeu a vaga no 2º turno para o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que acabou perdendo para Hollande.

A candidata representa uma certa renovação das propostas do partido, que tenta se afastar, pelo menos parcialmente, de ativistas antissemitas, homofóbicos ou nostálgicos da colaboração francesa com a Alemanha nazista. Ela ainda propõe a modernização do país através de controversas reformas econômicas e da repressão contra a imigração ilegal, que na França atinge de maneira especial muçulmanos e africanos.

Pesquisas indicam que Marine Le Pen, candidata pela Frente Nacional, estará no 2º turno. Foto durante debate em Puteaux, na segunda-feira (6) — Foto: Eric Piermont / AFP

Anti-imigração

Como o americano Donald Trump fez nos Estados Unidos, Marine tem como um de seus cavalos de batalha a defesa de políticas restritivas de imigração para combater o terrorismo no país, que já foi alvo de violentos ataques do Estados Islâmico em Paris e Nice nos últimos anos.

Outra proposta que provocou polêmica durante a campanha foi a de acabar com a escola gratuita para filhos de imigrantes ilegais em uma estratégia para facilitar a expulsão dessas famílias do país. A candidata mantém algumas de suas principais promessas de 2012, como a flexibilização das leis de trabalho com o objetivo de abrir espaço para acordos setoriais. Entre as propostas, está o aumento da jornada de trabalho de 35 para 39 horas semanais, segundo a revista “Le Point”.

Ela defende também uma reforma da relação da França com a União Europeia, com o objetivo de reduzi-la a uma enfraquecida cooperação entre nações, sem uma moeda comum e zonas de livre circulação de pessoas. Como é provável que os outros integrantes do bloco não aceitem as concessões, ela já prometeu um referendo sobre a permanência francesa na União Europeia, seguindo o exemplo do Reino Unido, que prepara o seu afastamento após consulta popular.

Escândalo

Em janeiro, Marine foi acusada de usar 340 mil euros recebidos do Parlamento Europeu para pagar despesas pessoais de dois funcionários da Frente Nacional. O salário dela foi cortado pela metade para cobrir o suposto desvio do dinheiro. O escândalo não parece ter prejudicado o desempenho da candidata.

No início de março, o parlamento europeu suspendeu a imunidade parlamentar de Le Pen por causa da publicação de fotos de violência do Estado Islâmico em seu Twitter, mas a decisão não influenciará o processo sobre empregos fantasmas.

Carreira

Marion Anne Perrine Le Pen nasceu em Haut-de-Seine, na região parisiense. Quando tinha 16 anos, sua mãe abandonou sua casa para fugir com um jornalista que estava escrevendo a biografia de seu pai. Esse episódio fez com que ela se aproximasse do pai. Desde os 13 anos, ela já o acompanhava em comícios. Aos 18, se filiou ao partido.

Ela estudou direito em uma das melhores faculdades francesas em sua área - Universidade Paris II- Panthéon-Assas.

A primeira eleição legislativa em que ela concorreu foi a de 1993. Apesar da votação significativa, ela não conseguiu se eleger e, então, passou a articular associações-satélites com o objetivo de mudar a imagem do partido.

Braço direito do pai, foi nas eleições de 2002 que ela fez suas primeiras intervenções na televisão. Nos anos seguintes, seu poder de influência aumentou consideravelmente.

A relação com o pai, porém, ficou profundamente abalada após Jean-Marie Le Pen afirmar que a morte de judeus em câmaras de gás na Segunda Guerra Mundial foi apenas um detalhe. A declaração motivou a sua expulsão do partido. Veja o programa de Marine.

François Fillon

O candidato François Fillon, do partido de direita Republicanos (antigo União por um Movimento Popular, UMP), chegou a ser apontado como favorito para suceder Hollande na presidência. No entanto, um escândalo de corrupção em que sua mulher está envolvida lançou sua campanha em uma profunda crise.

Fillon, de 62 anos, foi acusado de dar a sua esposa um cargo fantasma na Assembleia Nacional. O jornal “Canard Enchaîné” revelou que ela recebeu durante 8 anos como sua assistente. A prática não é ilegal na França, mas o periódico questiona se ela realmente desempenhou a função. O caso está sendo investigado, mas, nos bastidores da campanha, os caciques do partido se mobilizaram para lançar um novo candidato.

O ex-premiê Juppé– de quem Fillon ganhou nas primárias do partido, surgiu como opção para o partido. Juppé, porém, nega a intenção de assumir a corrida pela presidência.

François Fillon, candidato pelo partido Os Republicanos, enfrenta crise profunda em campanha por causa de escândalo de corrupção — Foto: Eric Piermont / AFP

Fillon, que já foi presidente do partido, ganhou as inéditas primárias dos conservadores deixando para trás, além de Juppé, também o ex-presidente Sarkozy. Seu programa propunha uma ruptura mais radical para o país que está “à beira de uma revolta”. Seu programa combina um enfoque conservador no social e liberal do ponto de vista econômico.

Durante a disputa interna, Fillon travou seu principal embate com Juppé. Católico e tradicionalista, ele discordou de Juppé quando afirmou que o aborto é um direito fundamental. No entanto, o candidato declarou não ter a intenção de reabrir a discussão sobre o direito que vigora há mais de quatro décadas no país.

Convicções

“Sou capaz de fazer a diferença entre minhas convicções e o interesse geral”, afirmou ao jornal “Le Figaro”, em 22 de novembro. Ele defende a adoção plena apenas para casais heterossexuais, a limitação da inseminação artificial a casais heterossexuais inférteis e a proibição da barriga de aluguel.

Sobre a questão migratória, ele propõe um maior controle de fronteiras da França, o que pressupõe uma renegociação do tratado de Schengen (zona de livre circulação entre países europeus) assim como uma mudança nas regras de concessão de asilo. Para o conservador, a nacionalidade francesa só seria concedida a quem provasse ter assimilado a cultura francesa.

Para Fillon, a imigração deve ser “mínima e muito controlada, respondendo às necessidades econômicas e as nossas capacidades de acolhimento e integração”. “Nós devemos dar um sinal forte ao praticar uma firme política de expulsão dos estrangeiros em situação irregular”, declarou, segundo a revista “Le Point”.

Jornada maior

Do ponto de vista econômico, ele propõe corte de cerca de 100 milhões de euros (R$ 330 milhões) no gasto público e o fim da jornada de 35 horas e retorno às 39 horas para funcionários públicos. Para combater o terrorismo, Fillon promete investir 12 milhões de euros (R$ 40 milhões) em segurança e defesa, e impedir a entrada no território de franceses que tenham ido lutar ao lado de terroristas em outros países.

Nascido em Mans, Fillon foi um aluno indisciplinado, que foi expulso de várias escolas antes de conseguir concluir o ensino médio, segundo o jornal “Le Parisien”. Ele estudou direito público. Foi prefeito, ministro do Trabalho e da Educação durante o governo de Jean-Pierre Raffarin. Durante todo o governo de Nicolas Sarkozy, entre 2007 e 2012, chegou ao cargo de primeiro-ministro. Atualmente é deputado pela região de Paris. Conheça o programa de governo de Fillon.

Emmanuel Macron

Enquanto François Fillon sofre as consequências do escândalo envolvendo sua mulher, o centrista Emmanuel Macron, de 39 anos, surge como candidato que poderia derrotar Le Pen em um segundo turno.

Filhos de médicos que atuam na saúde pública, ele nasceu em Amiens, no norte da França. Trabalhou em um banco de finanças e se engajou na campanha de François Hollande em 2012. Tornou-se secretário-adjunto e, então, o ministro da Economia do governo Hollande.

Candidato centrista Emmanuel Macron registrou alta em sua popularidade ao longo da campanha — Foto: Christophe Ena/ AP

É de sua autoria o projeto de lei que pretende impulsionar a economia francesa por meio de medidas como ampliação do trabalho dominical e da modificação das condições do exercício de várias profissões liberais, como os tabeliães e os oficiais auxiliares de Justiça. A “Lei Macron”, como ficou conhecida, foi implementada por decreto e provocou protestos até de integrantes do Partido Socialista. Foi a primeira vez desde 2006 que o governo driblou o legislativo para impor uma lei.

Em maio de 2016, ele lançou o movimento cidadão “En Marche”, que tem suas iniciais, com o objetivo é “refundar” a França com o apoio popular. Seu site oficial afirma que a iniciativa já reúne cerca de 192 mil “homens e mulheres de boa vontade e dispostos a construir a sociedade de amanhã". A saída de Macron do governo para disputar as eleições foi vista como um golpe contra Hollande.

Rumores

As insinuações de que ele tinha um caso extraconjugal com o executivo-chefe da Radio France, Mathieu Gallet, circulam há anos e, recentemente, se tornaram alvo da mídia. Durante a campanha, Macron negou veementemente os rumores.

Em seu programa de governo, Macron promete “tolerância zero” contra o crime e o combate ao terrorismo. Para os próximos 5 anos, ele propõe reforçar a guarda de fronteira, criar de 10 mil postos de policiais e 15 mil vagas em prisões para abrigar pessoas envolvidas com terrorismo.

Competitividade

O candidato quer reduzir o imposto que incide sobre as empresas (de 33,3% para 25%) para tornar o país mais competitivo e reduzir as despesas públicas progressivamente até atingir o nível recomendado pela União Europeia. Ele propõe alterar a cobrança do imposto sobre grandes fortunas - visto como bandeira da esquerda - e exonerar 80% dos lares franceses do imposto sobre moradia. Macron tem ainda uma proposta de mudança no seguro desemprego: os desempregados teriam que passar por uma avaliação de competência e seriam obrigados a aceitar uma vaga de trabalho quando recebessem uma segunda oferta.

Embora proponha maior controle nas fronteiras, Macron defende engajamento com a União Europeia e diz assumir sua “justa parte” na acolhida de refugiados diante da maior crise na imigração que o continente enfrenta desde a 2ª guerra mundial. Ele defende uma reformulação das condições de pedido de asilo e promete uma decisão em oito semanas para todos os pedidos. Clique aqui e veja o programa de governo na íntegra (em francês).

Benoît Hamon

O socialista Benoît Hamon, de 49 anos, nasceu em Saint Renan e se formou em história na Universidade de Brest, no norte da França. Cedo se engajou no partido socialista e foi criador, em 1993, do movimento da juventude socialista. Ele foi assessor de Martine Aubry, então ministra do presidente socialista Lionel Jospin.

Hamon, que foi ministro da Educação, rompeu com Hollande em 2014, descontente com a guinada liberal do governo socialista. Ele se opôs à reforma trabalhista proposta por Macron durante o governo Hollande. Em agosto, lançou-se na corrida presidencial defendendo "um novo modelo de desenvolvimento" e retomando algumas propostas esquecidas por Hollande.

Socialista Benoît Hamon não conseguiu unificar a esquerda em torno de sua candidatura — Foto: Francois Nascimbeni / AFP

O candidato venceu com folga as primárias do partido contra o ex-primeiro-ministro Manuel Valls, espanhol de nascimento e que é considerado herdeiro político de Hollande, presidente francês mais impopular das últimas décadas.

Hamon reivindica um programa "totalmente à esquerda", com forte conteúdo social e ambientalista, que ganha apoio sobretudo dos eleitores mais jovens, segundo a France Presse.

Redução de jornada

Para fazer face à "revolução digital", que trouxe consigo uma "redução do trabalho", este deputado defende uma redução da jornada de trabalho para 32 horas semanais, uma medida que visa a diminuir o desemprego, que beira os 10%.

Ele propõe, ainda, implementar uma renda básica universal, que garantiria a todos os franceses maiores de 18 anos uma renda de 750 euros (R$ 2.500) mensais.

Votos em branco

Hamon, que é contra o voto obrigatório, defende que o voto em branco seja levado em consideração. Caso os votos brancos sejam maioria, ele defende a realização de um novo pleito. Uma outra inovação é direito de voto para os estrangeiros nas eleições locais. O socialista promete suspender os obstáculos para integração de solicitantes de asilo. Eles teriam direito a uma autorização de trabalho após três meses em território francês além de oferecer acesso à aprendizagem da língua francesa.

Para impulsionar a defesa e combater o terrorismo, ele propõe a criação de uma estratégia de cooperação europeia e a criação de uma agência de inteligência europeia.

Na economia, propõe que os parceiros do bloco europeu anulem as dívidas acumuladas desde 2008 pelos países membros. O candidato socialista chegou a anunciar que buscaria um acordo com Jean-Luc Mélenchon e com o ecologista Yannick Jadot, que abriu mão da candidatura pensando na união do grupo. O acordo com Mélenchon, que tem mais de 10% dos votos, aumentaria a chance de levar Hamon ao segundo turno, mas não evoluiu. Jadot, que só tinha em torno de 2% das intenções de voto, pouco acrescenta a Hamon. Conheça o programa de Hamon (em francês).

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