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Encontros O GLOBO: Especialistas diferenciam depressão da tristeza comum

Psiquiatra diz que patologia é definida pelo comprometimento da rotina
A psicóloga Ana Luiza Novis, o psiquiatra Nelson Goldenstein, o jornalista do GLOBO Marcelo Balbio e o coordenador do encontro, Claudio Domênico, reunidos na última quarta-feira Foto: Alexandre Cassiano
A psicóloga Ana Luiza Novis, o psiquiatra Nelson Goldenstein, o jornalista do GLOBO Marcelo Balbio e o coordenador do encontro, Claudio Domênico, reunidos na última quarta-feira Foto: Alexandre Cassiano

RIO - Numa sala lotada da nova sede da Casa do Saber, no Shopping Leblon, os participantes da primeira edição do ano dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-estar puderam, na última quarta-feira, tirar dúvidas sobre depressão, considerada por muitos a doença do século. Entre os principais questionamentos, um ressoou na plateia: onde termina a tristeza comum e começa a depressão?

— Quando a pessoa está tão triste a ponto de não conseguir mais dar conta de suas responsabilidades do dia a dia, podemos dizer que ela está deprimida — respondeu o psiquiatra Nelson Goldenstein, um dos palestrantes convidados do evento. — O limite entre tristeza normal e depressão é o grau de comprometimento da vida, da rotina.

Goldenstein explicou também que existe uma classificação dividindo o estado depressivo em três categorias: os episódios depressivos pontuais, que até podem ser intensos mas não duram por um período prolongado; o transtorno depressivo recorrente, que consiste em repetidos episódios que levam a uma diminuição das atividades da pessoa por pelo menos duas semanas; e o transtorno afetivo bipolar, no qual o humor do indivíduo varia entre a euforia e a depressão.

De acordo com ele, todos esses problemas acontecem com mais frequência em pessoas nascidas após a década de 1950, por conta de fatores como maior estresse social, maior pobreza e intensificação da violência.

— Quando a pessoa tem um quadro de depressão recorrente, ela vivencia a morte do “eu” — destacou o psiquiatra. — Ela não considera que aquilo é apenas um estado que, com tratamento, pode passar. Ao contrário, ela passa a achar que aquilo é o que ela se tornou e que não há mais saída. É preciso que ela encontre pessoas que digam a ela que existe, sim, como mudar.

A psicóloga Ana Luiza Novis, outra palestrante do evento, ressaltou que valores e crenças dos indivíduos podem ser usados para ajudá-los a lidar com a depressão e deixá-la para trás.

— Certa vez, atendi uma senhora com depressão grave que me disse só conseguir controlar a doença quando rezava e quando ouvia músicas do Roberto Carlos — exemplificou. — É revelador ver o quanto a fé, as tradições e a cultura das pessoas podem ser recursos para superar a depressão.