Por Carlos Dias, G1 Sorocaba e Jundiaí


Sorocaba oferece bicicletas para a população — Foto: Carlos Dias/G1

E se a frota de veículos de Sorocaba (SP) ficasse nas garagens por um dia? Segundo o último levantamento municipal do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), mantido pelo coletivo de entidades do Observatório do Clima, ao menos 820 toneladas de CO2 deixariam de ser emitidas.

A ideia é refletida neste domingo (22), no Dia Mundial Sem Carro. A meta de quem promove eventos em todo o mundo é estimular o uso de transportes alternativos e desenvolver um senso crítico sobre a poluição gerada pelos veículos e os riscos ao meio ambiente e à saúde da população.

De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em agosto de 2019 Sorocaba apresentou 312.281 automóveis, sendo 8.089 carros a mais em relação ao mesmo período de 2018.

Se colocar também as motos e motonetas no recorte, o número de veículos no município sobe para 480.379 em agosto deste ano, sendo 14.095 a mais nas ruas do que em 2018.

Todo o transporte de Sorocaba é responsável por cerca de 24% da emissão de carbono na cidade, conforme o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).

Além de carbono, segundo a Cetesb, os poluentes previstos pela legislação são hidrocarbonetos, óxido de nitrogênio, aldeídos e material particulado.

Se tudo isso fosse “economizado” por um dia apenas por uma cidade como Sorocaba, os resultados são relevantes, afirma a professora Simone Miraglia, pesquisadora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Unifesp.

“O número de poluentes seria reduzido consideravelmente, contribuindo assim para a melhoria da qualidade do ar, temperaturas mais amenas, menor nível de poluição inalado pelos seus habitantes e, por conseguinte, uma melhoria imediata na saúde, principalmente no que tange ao bem-estar e no nosso fluxo respiratório”, diz.

Trânsito em Sorocaba (SP) — Foto: Thiago Ariosi/TV TEM

Impactos

Segundo a pesquisadora Simone, cada substância emitida pelos automóveis e mocicletas traz impactos consideráveis aos meio ambiente, sendo:

  • Dióxido de enxofre: pode reagir com a água presente na atmosfera, formando a chuva ácida, o que contribui com o desmatamento, acidez dos solos, favorecimento do surgimento de clareiras, extinção da fauna e flora.
  • Material particulado: oriundo da queima incompleta de combustíveis e incêndios, contribui com o aumento do aquecimento global.
  • Dióxido de nitrogênio: tem alto fator oxidante, contribuindo com a formação do ozônio troposférico. Além disso, pode causar chuvas ácidas, alteração química do solo e das águas e mortandade da fauna e flora.
  • CO2: contribui com o aumento do efeito estufa, tornando mais difícil com que o calor se dissipe.

Risco à saúde

Conforme Simone Miraglia, os gases emitidos pelos veículos afetam diretamente a população. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que Sorocaba tem uma população de 679.378, número maior que de capitais como Cuiabá, Porto Velho ou Vitória.

Com a grande circulação de veículos e o aumento da emissão, a população pode desenvolver doenças respiratórias, como asma e pneumonia. Além destas, problemas cardiovasculares, oftálmicos, cognitivos em casos severos podem causar a morte.

“Uma em cada 10 mortes no mundo é atribuída à poluição do ar. O custo global das mortes por poluição do ar é estimado em US$ 225 bilhões por ano”, afirma a pesquisadora.

Pedala, pedala...

Se você não tem uma bike, a prefeitura oferece, para quem tem cadastro, 200 bicicletas gratuitas espalhadas pela cidade. Segundo os dados da Urbes, empresa que gerencia o trânsito no município, atualmente são 118.762 usuários.

Desde que o programa foi iniciado, já foram 345.186 empréstimos. Em 2019, a média mensal é de 7 mil viagens. A cidade também possui 130 quilômetros de ciclovias, com 90% de conectividade.

Atualmente, as ciclovias do primeiro trecho da avenida Itavuvu, na zona norte, estão desativadas, mas serão refeitas pela concessionária responsável pelas obras do BRT.

Para entender como o sorocabano utiliza a bicicleta no dia a dia, o G1 abriu uma enquete com quatro perguntas. O resultado, contudo, foi equilibrado.

27,85% responderam que não usam o transporte, mas pretendem começar a usá-lo. 25,32% afirmaram que usam para ir ao trabalho; 24,68% utilizam para o lazer e 22,15% disseram que não andam de bicicleta.

Bruno usa a bicicleta diariamente em Sorocaba — Foto: Arquivo pessoal

'Vem de berço'

O animador cultural Bruno Melnic Incao aderiu ao pedal desde criança e o hábito seguiu durante a adolescência. A primeira bicicleta foi dada pelos pais quando tinha 6 anos e a prática da atividade fluiu naturalmente.

“Com a bicicleta é bem prático, fácil de estacionar e achar vagas. Faço pequenas compras com ela, levo minha bebê de 2 anos na pré-escola uma vez por semana na bicicleta e aos parques próximos. Vou ao trabalho diariamente”, diz.

A ideia do pai é familiarizar a bebê com a bike desde cedo e, de certa forma, repassar o que os pais dele fizeram quando ele era criança.

“A bicicleta muda nossa relação com a cidade e com as outras pessoas, permite uma rotina saudável e é um veículo limpo. É mais fácil dar ‘bom dia’ em cima de uma bicicleta do que de dentro de um carro.”

43 anos pedalando

A ciclista Ester Patriarca começou a pedalar aos 19 anos. Atualmente aos 62, ela lembra que optou pelo transporte pela agilidade e nunca mais parou. A relação com o pedal é diária, com compras feitas aos poucos e para ir ao trabalho.

Segundo ela, em duas situações teve a bike furtada. Contudo, os amigos ajudaram e emprestaram outras até comprar uma nova.

“Não troco por nada e peguei gosto. Às vezes temos que passar por algumas calçadas porque muitos motoristas não respeitam, mas mesmo assim vale a pena.”

Ester pedala por Sorocaba há 43 anos — Foto: Arquivo pessoal

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