Por Gabriela Gonçalves, G1 São Paulo


O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), prometeu nesta sexta-feira (10) para junho deste ano as primeiras obras do projeto Museu de Arte de Rua (MAR), que deverá promover o grafite em diferentes pontos da cidade. De acordo com Doria, o projeto não inclui obras na avenida 23 de Maio, onde a Prefeitura apagou parte dos grafites que formavam o que era considerado o maior mural a céu aberto da América Latina.

O projeto surgiu como promessa de Dória após a Prefeitura se envolver em polêmica com grafiteiros e pichadores ao apagar os grafites na 23 de Maio, principal via que liga o Centro à Zona Sul da capital paulista. A pintura cinza nos muros da avenida foi feita como parte do programa Cidade Linda, lançado por Doria para revitalizar áreas consideradas degradadas na cidade. A medida gerou protestos.

Pelo Museu de Arte de Rua, serão selecionados oito projetos e ações de pintura por meio de edital para intervenções em espaços públicos do Centro e nas zonas Norte, Sul, Leste e Oeste. O investimento total no projeto será de R$ 200 mil, que serão destinados às propostas selecionados. Segundo a Prefeitura, os recursos serão de patrocinadores. Os artistas terão que indicar nos projetos o local onde querem fazer as pinturas, não sendo permitido apenas a avenida 23 de Maio.

Um primeiro módulo do projeto será voltado para intervenções maiores, para projetos de grupo de artistas ou coletivos artísticos com, no mínimo, seis integrantes. Neste caso, serão quatro propostas de R$ 40 mil. O segundo módulo, para propostas menores, será voltada para grupos de artistas ou coletivos artísticos com, no mínimo, três integrantes. Neste caso, serão selecionadas quatro propostas de R$ 10 mil cada.

Prefeito João Doria pinta muro na Avenida 23 de Maio durante Operação Cidade Linda, em janeiro — Foto: Paula Paiva

As inscrições para os artistas interessados em fazer intervenções nos muros da cidade começam na segunda-feira (13) e seguem até 13 de abril. Ainda em abril, deverão ser anunciadas as propostas vencedoras. A seleção será feita por uma comissão formada por artistas de rua sem vínculos com a Prefeitura. A expectativa é que as pinturas comecem a ser feitas em maio, e todas as obras estejam concluídas em junho.

"Museu é local de cultura, museus são eternos, museus são interativos, museus são visitados, museus são reproduzidos, museus são exaltados, museus são respeitados", declarou João Doria.

De acordo com a Prefeitura, os critérios de escolha dos projetos de grafite são: a proposta, o currículo dos grafiteiros e como o projeto envolve a sociedade. Os escolhidos serão selecionados pela comissão, que será constituída por pessoas de fora da Prefeitura. Não serão permitidas propostas com manifestações religiosa, política ou discriminatória.

Mural é apagado em viaduto da avenida 23 de Maio — Foto: Marcelo S. Camargo/Framephoto/Estadão Conteúdo

Pelo projeto Museu de Arte de Rua, as obras não poderão ser pintadas ou alteradas durante dois anos. A Prefeitura se compromete a não apagar as intervenções, e os artistas deverão se compromer a restaurar em casos de necessidade durante esses dois anos. Depois desse prazo, a Prefeitura pode pintar, oferecer o espaço para outro artista ou escolher outro projeto.

Integrante da Comissão de Assessoria e Assuntos de Arte de Rua, responsável pela seleção dos projetos, o grafiteiro Mauro Neri leu um texto durante o anúncio do projeto em que afirmou não concordar com todas as decisões da gestão Doria. Ele afirmou, no entanto, acreditar ser necessário ter "adesão e resistência" para que haja diálogo entre a Prefeitura e os artistas.

"Não estamos aqui por concordar com todas as escolhas desta gestão, mas por nos colocarmos a serviço da cidade", disse o artista.

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Guerra do spray

Desde que começou o projeto Cidade Linda, que apagou grafites da 23 de Maio, a gestão de Doria virou alvo de protesto de artistas de rua. Em janeiro, logo após os murais serem apagados e pintados de cinza, muros da via foram pichados com o nome do prefeito João Doria. Também foi feita uma pichação contra o presidente Michel Temer.

Pichadores atacaram e picharam de ponta a ponta o nome do prefeiro DORIA em um muro da avenida vinte e tres de maio nesta terça-feira — Foto: Marcelo S. Camargo/Framephoto/Estadão Conteúdo

Ainda em janeiro, manifestantes protestaram pela Avenida 23 de Maio a favor dos tradicionais grafites que foram apagados. Os manifestantes levavam faixas e filmavam os grafites que sobraram. Policiais militares acompanharam de perto o protesto, que terminou de forma pacífica no Parque do Ibirapuera.

Manifestante mostra faixa durante protesto a favor de grafites em SP — Foto: Rogério de Santis/Futura Press/Estadão Conteúdo


Em fevereiro, Doria sancionou o projeto de lei que pune pichadores com multas que variam entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. O projeto de lei foi aprovado na terça-feira (14) da semana passada pelos vereadores da Câmara de São Paulo.

Segundo a lei aprovada, o pichador flagrado levará multa de R$ 5 mil. Se o ato for contra patrimônio público ou bem tombado, o valor sobe para R$ 10 mil. Em caso de reincidência, a multa dobra. O texto exclui do alcance das punições os grafites, desde que consentidos pelo proprietário.

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