Rio

Polêmica: Confusão com ficha técnica tira título da Mocidade Independente de Padre Miguel

Jurado tirou um décimo alegando a falta de um destaque que era prevista na primeira versão do documento entregue à Liesa
Comissão de frente da Mocidade de Padre Miguel apresentou o "Teatro de Ilusões" Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Comissão de frente da Mocidade de Padre Miguel apresentou o "Teatro de Ilusões" Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

RIO - Uma confusão com o livro "abre-alas" da Mocidade Independente de Padre Miguel acabou tirando o título da agremiação no carnaval 2017. O jurado Valmir Aleixo, que julgou o quesito Enredo no módulo 2, tirou um décimo da agremiação alegando que apesar do "enredo fantástico e de grande densidade cultural, não apresentou o destaque de chão, O Esplendor dos Sete Mares, que executa função narrativa dentro do enredo, comprometendo assim sua leitura". O destaque a que se refere Aleixo, segundo a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), só existiu na primeira versão do livro "abre-alas", que registra todas as fantasias, destaques e alegorias da agremiação.

A polêmica veio à tona na tarde desta segunda-feira, quando as justificativas das notas dos julgadores foram divulgadas pela Liesa. Segundo o jornalista Leonardo Bruno, do Blog Roda de Samba, do Extra, a cofusão aconteceu por existirem dois livros abre-alas .

FALHA NA COMUNICAÇÃO

A Liesa disse informou que em 11 de janeiro a Mocidade Independente de Padre Miguel enviou uma versão do livro Abre-Alas na qual cita a presença da destaque Camila Silva, descrevendo sua fantasia como “O esplendor dos sete mares”. Em 31 de janeiro, data da realização do curso de julgadores para o quesito Enredo, os julgadores receberam esta versão impressa em preto e branco, bem como a digital colorida, para poder nortear e iniciar seu trabalho de pesquisa visando o julgamento a ser realizado por ocasião dos desfiles, conforme vem ocorrendo todos os anos. "Posteriormente, em uma segunda versão, a Mocidade Independente de Padre Miguel alterou o roteiro enviado inicialmente; na nova versão, Camila Silva já vem citada como rainha de bateria, com o figurino “Dona das Areias, Yemanjá”. Como a versão final da Mocidade só chegou à Liesa após a realização da primeira etapa do curso de julgadores, pode ter havido uma falha de comunicação ocasionando a avaliação, pelo julgador, através de sua versão inicial, deixando de considerar o livro impresso entregue pela Liesa no dia do desfile. Neste caso, analisando as justificativas do julgador Valmir Aleixo, depreende-se que o referido julgador utilizou a versão anterior, recebida no dia do curso de julgadores, com suas observações iniciais sobre o enredo de cada escola de samba".

UM DÉCIMO QUE FEZ FALTA

A Mocidade levou à Sapucaí o enredo "As mil e uma noites de uma 'Mocidade' pra lá de Marrakesh" e conquistou o vice-campeonato com um total de 269,8 pontos. A agremiação ficou apenas um décimo atrás da campeã, que somou 269,9.

Se o julgador Valmir Aleixo tivesse dado nota 10 à Mocidade, a escola empataria com a Portela. No desempate, seria a campeã do carnaval pelo quesito Comissão de Frente, setor em que a escola de Madureira perdeu um décimo, comando 29,9 pontos, e a Mocidade registrou a nota máxima: 30.

Nove quesitos foram julgados, cuja ordem de leitura foi Alegorias e Adereços, Bateria, Fantasias, Samba Enredo, Comissão de Frente, Evolução, Harmonia, Mestre-Sala e Porta-Bandeira e Enredo. O último quesito seria o primeiro critério de desempate. Caso o empate permanecesse, os critérios seguintes seriam os quesitos anteriores. No caso das duas escolas, o empate permeneceria em Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Harmonia e Evolução. Na Comissão de Frente, contudo, a escola da Zona Oeste cravou os 30 pontos. Já a agremiação de Madureira perdeu um décimo, o que daria o título à Mocidade.

Em nota, a Mocidade encarou como um "erro crasso" externou todo o seu descontentamento com a justificativa. "Antes de tudo, gostaríamos de exaltar o belíssimo desfile feito pela Portela e o merecido título conquistado. O que questionamos nesta nota é o despreparo apresentado pelo julgador em questão para cumprir tão importante função. É inadmissível que o sonho de uma comunidade seja jogado fora por um erro tão crasso. Criar algo que em nenhum momento esteve no livro ‘’Abre-Alas’’ e em cima disso nos penalizar, soa estranho e sem explicação. A Mocidade se posiciona em busca de mais preparação técnica e responsabilidade para todos os julgadores. Cobraremos isso! Meses de investimento, trabalho pesado, e a dedicação de milhares de componentes não podem ser prejudicados desta maneira".

A escola ainda se dirigiu aos componentes:

"À nossa valorosa comunidade: nunca deixem de acreditar neste sonho! O desfile que fizemos só foi possível com a participação determinante de vocês. Em 2018 vamos voltar na Avenida e buscar o título que nos foi tirado de forma tão lamentável".

Procurado, o jurado ainda não respondeu às solicitações do GLOBO.