"A água derrubou o muro e entrou pelos fundos, nunca tinha visto nada parecido", diz Joaquim Domingues Fontes, proprietário do imóvel há mais de 60 anos. Sua filha é uma das médicas que trabalha no local.

Na manhã desta segunda-feira (22), equipes de limpeza da Prefeitura tiravam galhos, restos de árvores caídas e lixo das ruas da região. A energia elétrica, que teve o fornecimento interrompido pela tempestade, só voltou cerca de 7h.

Por serem frequentes, as enchentes não costumam surpreender os comerciantes da Rua Harmonia e dos arredores do Beco do Batman, no bairro. Muitos têm comportas instaladas na frente do estabelecimento.

Paulo Rocha, que tem uma oficina mecânica localizada há 35 anos no mesmo ponto, conta que, além da comporta, também tem um poço e uma bomba d'água para se prevenir contra as chuvas. "Foi colocada há mais de 30 anos, quando uma chuva destruiu tudo, incluindo 13 carros", relata.

O marceneiro Almir Rodrigues diz que houve uma enchente maior na Rua Harmonia em 2015. "Tive um prejuízo grande, porque a água passou da comporta. Foram seis equipamentos grandes quebrados. Os pequenos nem mandei arrumar, porque não valia a pena."

Rodrigues afirma que os proprietários de carros arrastados geralmente não são do bairro, pois quem frequenta a região há muito tempo sabe que as enchentes são comuns no verão.

"Tinha que ter uma melhor sinalização. Colocaram uma placa avisando que tem perigo de enchente, mas ela fica escondida", diz, apontando para a placa, em meio à copa das árvores.

A poucas quadras de distância, na Rua Wisard, a ventania derrubou uma árvore sobre o bistrô do empresário Fábio Merlo, que relatou ter retirado clientes presos dentro do local. Ele estava em casa e foi chamado por uma funcionária. Um fio de alta tensão tinha se rompido e estava soltando faísca na calçada, e a entrada estava bloqueada.

"Ligamos para a Prefeitura, bombeiros, Defesa Civil, eram 16h30. Eles chegaram umas 18h, 18h30", diz.

"Meia hora antes tinha chegado a Eletropaulo e disseram que era seguro, do ponto de vista da energia elétrica, entrar lá. Abri espaço por um canto e tirei 16 pessoas ali de dentro. Tinha uma grávida, mas ninguém machucado. Depois de 20 minutos os bombeiros chegaram, disseram que não era pra entrar, mas aí já era tarde", diz Merlo.

O empresário ainda contabiliza o prejuízo, que inclui um poste de energia interno. Ele aguarda a remoção da árvore pela Prefeitura. A AES Eletropaulo estimava a volta do fornecimento de energia para as 18h desta segunda-feira na Wisard.

Do outro lado da rua, uma outra árvore caiu sobre o carro de Robson Oliveira, que havia estacionado poucos minutos antes. "Minha filha estava fazendo 2 anos e 8 meses, viemos comemorar", diz.

Robson, que usava o carro como motorista de aplicativos, lamenta a perda total e diz que vai entrar com uma ação judicial. "O motor está no chão, o óleo vazou, amassou tudo."

"Essa árvore já estava condenada. Dá pra ver que a calçada está intacta, não saiu a raiz do chão", afirma.

Após a forte chuva que derrubou árvores e arrastou carros no Beco do Batman, um dos pontos turísticos mais conhecidos da Vila Madalena, na Zona Oeste de São Paulo, a região amanheceu, nesta segunda-feira (22), sem luz, com um poste de energia derrubado e blocos de concretos espalhados pelas ruas.

Por volta das 7h, o problema de iluminação foi resolvido. Dois dos carros arrastados pela enxurrada seguiam, na manhã desta segunda-feira (22), nas calçadas da Rua Gonçalo Afonso.

Na Rua Girassol, esquina com a Rua Wisard, os moradores contaram que ficaram sem luz na noite deste domingo (21) e durante a madrugada também.

Pelo menos seis carros foram atingidos pela enchente que atingiu a cidade de São Paulo neste domingo (21). Três deles acabaram batendo em postes, grades e muros. Um poste de iluminação foi arrancado de sua base e arrastado pela calçada. Uma pedestre que tentou desafiar a corrente acabou levada pelas águas (assista aos vídeos acima e abaixo).

Dez árvores foram derrubadas na Zona Oeste da capital. Uma delas, na Avenida Brasil, atingiu dois carros. Ninguém se feriu.

O taxista Jefferson José de Araújo demorou a entender o que tinha acontecido: “[Eu pensei] ‘Pô, será que eu bati em alguém na minha frente?’ Mas quando realmente eu vi, o teto já estava praticamente em cima da minha cabeça”.

O casal que estava dentro do outro carro atingido saiu ileso e foi direto para a igreja agradecer, “Na hora que a gente passou, estava ventando tanto, e eu estava começando a ficar com medo, e eu olhei para cima e eu só consegui ver a cúpula da igreja, e eu falei ‘meu Deus, a árvore caiu!’. Eu tenho certeza que foi a mão de Deus para salvar a gente. Porque tanta gente que morre com coisa mínima e uma árvore desse tamanho caiu em cima da gente e a gente está aqui, sem nenhum arranhão, sem nada, nenhum machucado.”