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Lollapalooza 2017: Metallica, The xx e Rancid fizeram o sábado valer a pena

Festival teve longas filas nos bares e dificuldades na entrada
Show do Metallica no primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2017, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo Foto: Lucas Tavares / O Globo
Show do Metallica no primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2017, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo Foto: Lucas Tavares / O Globo

SÃO PAULO — Longas filas nos bares para pegar bebidas, dificuldades na entrada, banheiros precários e enormes distâncias a serem percorridas: nada disso desanimou o público — cerca de 100 mil pessoas, segundo a contagem oficial — que foi no sábado ao Autódromo de Interlagos para o primeiro dia do festival Lollapalooza Brasil 2017. A razão? Os shows dos headliners Metallica e The xx.

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Os titãs americanos do metal, em mais uma visita ao Brasil, privilegiaram o repertório de seu mais novo álbum, "Hardwire... to self-destruct", do ano passado, e não decepcionaram o público de sábado, que, em sua grande maioria, estava lá para vê-lo. "Hardwired" abriu a apresentação, em cadência insana, com a banda mostrando estar no auge da forma. E ela mandou outra do novo disco, "Atlas, rise", logo em seguida, sem receio de não atacar de cara os clássicos.

XX FAZ SHOW DANÇANTE

Mas clássicos não faltaram no show do Metallica: "The unforgiven", "Sad but true", "Masters of puppets" e até mesmo "Whiplash" do primeiro disco, "Kill'em all", dedicada aos amigos do Rancid, que tocaram no mesmo palco pouco antes. Apesar do rolo compressor do metal, durante o show ainda sobrou algum público para a dance music adrenalizada e pouco exigente do duo The Chainsmokers, que trouxe para outro palco um som sem personalidade, mas adequado à balada de sábado.

Dançante também foi o show do xx, um expoente do rock melancólico que voltou ao Brasil transformado para o Lollapalooza. O trio centrou o seu show no repertório de "I see you", seu terceiro álbum, que lançou em janeiro. Desse disco foi a música de abertura, "Say something loving", que estabeleceu o tom da apresentação: um belo trabalho vocal de Romy Madley Croft e Oliver Sim e os beats envenenados de Jamie Smith.

Bem mais desenvoltos no palco do que quando se apresentaram pela primeira vez no Brasil — Romy até arriscou uma música sozinha na voz e guitarra, "Performance" — os três deram nova vida para canções dos seus outros discos, como "VCR" e "Crystalized". O show, que aos poucos caminhou para a celebração na pista, com "I dare you" e "Dangerous", desembocou na esperada "On hold". Mas foi com uma antiga, "Angels", que a noite do xx terminou, com a banda aclamada pelo público e visivelmente emocionada.

RANCID FINALMENTE NO BRASIL

Show do Rancid no primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2017 Foto: Lucas Tavares / Agência O Globo
Show do Rancid no primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2017 Foto: Lucas Tavares / Agência O Globo

Grupo californiano que existe desde 1991 e nunca tinha vindo ao Brasil, o Rancid também proporcionou um dos grandes momentos da primeira noite de Lollapalooza, com seu punk tingido de ska e tocado com muita garra. Liderado pelos guitarristas-vocalistas Tim Armstrong e Lars Frederiksen (o canhoto de longa barba), o Rancid adiantou uma música do novo disco, "Salvation" e brindou o público com hits em alta voltagem, como "Roots radicais", "Time bomb" e "Ruby Soho".

Já o The 1975 teve seu show salvo por sua sequência final. Os dois hits, um de cada álbum, "Chocolate" e "The sound", deram um encerramento digno para uma apresentação morna daquela que é considerada uma das revelações do indie rock inglês.

O polêmico vocalista Matt Riley, que até ensaiou um status de rockstar entrando com um blazer pomposo e fumando um cigarro, ia da empolgação da estreia ao tédio como uma Ferrari vai de 0 a 100km/h. A sorte dele é que o público da banda é majoritariamente jovem é muito devoro, então engoliu um show aquém do potencial da banda. Em alguns momentos, o 1975 até ensaiou momentos maduros, como em "Girls" e "Somebody else", mas sempre voltava a postura adolescente e descartável para garantir a resposta desejada.

Pouco antes do The 1975, os americanos do Cage The Elephant, a banda que mais tocou no Lollapalooza Brasil (três vezes, mais do que atrações nacionais, inclusive) fez um dos grandes shows do dia — estava em seu ápice, pouco depois de ganhar o Grammy de melhor álbum de rock, com o público que a melhor recebe. Se em 2014 o grupo dos irmãos Matt e Brad Shultz tinha garantido o posto de boa surpresa do festival, 2017 foi o ano da consolidação.

BAIANASYSTEM É DESTAQUE NACIONAL

O som sujo de sempre, as desafinadas de Matt, a microfonia causada por seus exageros, mas uma empolgação e uma entrega pouco comuns no rock de hoje. E a resposta não podia ser melhor: angariaram um público ainda maior do que o tradicional e inédito Rancid. Destaque, claro, para "Come a little closer", inspirada na primeira passagem da banda por São Paulo.

O encerramento do show dos ingleses do Glass Animals, com "Pork soda", o hit que levou o público a fazer um flashmob com abacaxis nas mãos, garantiu o momento de comunhão que o grupo ameaçou proporcionar ao longo de uma hora de show morno. Antes, tinham ensaiado tal momento na boa sequência dançante de "Youth" e "Gooey", mas a turma não respondeu à altura. Emocionado pela pequena multidão que arrastou, o vocalista Dave Bayley desperdiçou a boa "Season 2 episode 3" com presepadas com o público e arriscou até um rap - mal-sucedido.

E no começo da tarde, o BaianaSystem reforçou o status de melhor (ou uma das melhores) banda(s) em atividade no país. Contou com a participação do rapper baiano Vandal e do padrinho e longo colaborador BNegão, de bota ortopédica e tudo.

Apesar do horário pouco favorável, o show acumulou um bom público e fez a festa não só daqueles que já curtem a mistura de ritmos caribenhos e guitarra baiana do grupo, mas também daqueles que não conheciam o som de Russo Passapusso, Roberto Barreto e SekoBass. E o mais peculiar: fãs do Metallica compareceram em peso, como o empresário Franco Danielle, de 39 anos.

— Sou fã de Metallica e sou baiano. O BaianaSystem representa o que há de melhor na Bahia — entregou ele, que acompanhou o trio elétrico do grupo em Salvador durante o carnaval deste ano. — Foi insano. O som deles é muito pesado.