Brasil

Novo instituto doará R$ 350 milhões para pesquisas científicas

Serrapilheira distribuirá recursos para poucos projetos, que devem almejar resultados de repercussão internacional
O geneticista francês Aguilaniu anuncia criação instituto ao lado de João Moreira Salles Foto: Ana Branco
O geneticista francês Aguilaniu anuncia criação instituto ao lado de João Moreira Salles Foto: Ana Branco

RIO - O documentarista João Moreira Salles anunciou esta quarta-feira a criação do Instituto Serrapilheira, que doará R$ 350 milhões para o desenvolvimento da ciência brasileira. A entidade terá sede no Rio e será presidida pelo geneticista francês Hugo Aguilaniu.

O Conselho Científico da entidade pretende trabalhar com poucos projetos, que receberão entre R$ 16 milhões a R$ 18 milhões por ano. De acordo com os fundadores do Serrapilheira, um diferencial do instituto será a liberdade dada aos pesquisadores para que estabeleçam um cronograma flexível em seus laboratórios. Desta forma, acreditam, as equipes contempladas com recursos poderão escrever projetos de maior impacto na comunidade científica internacional.

Hoje, o Brasil está entre os 15 países com maior publicação de artigos científicos, mas o número de citações a estes trabalhos - que serve como uma métrica de sua importância e o pioneirismo - é muito tímida.

Para Aguilaniu, os pesquisadores jovens serão os principais interessados na verba oferecida pelo Serrapilheira, que é uma doação em caráter irrevogável de Salles e sua mulher, Branca.

— O instituto tem dois grandes objetivos — anuncia o geneticista. — O primeiro deles é apoiar a pesquisa nos campos das ciências da vida, das ciências físicas, das engenharias e da matemática. Não queremos pulverizar recursos, queremos identificar a excelência da pesquisa científica realizada no país e apoiá-la da forma mais livre possível, dando ao pesquisador grande flexibilidade no uso dos recursos doados. A ideia é ter um número reduzido de projetos, mas que sejam os melhores, de nível internacional, com potencial para serem publicados nos periódicos científicos mais importantes, como "Science" e "Nature". Nosso desejo é incentivar os pesquisadores a fazerem as grandes perguntas de seus campos. Teremos paciência e não exigiremos resultados imediatos.

A equipe também manifestou preocupação em atender alguns critérios na distribuição de recursos, como contemplar cientistas de ambos os sexos, diferentes etnias e regiões do país.

— Me juntei ao João porque tenho essa mesma percepção de que entre nós o valor simbólico da ciência é baixo — diz Branca Moreira Salles, que é presidente do Conselho Administrativo. — Na nossa literatura, por exemplo, não há personagens cientistas. Todos são escritores, jornalistas, professores, publicitários. Aqui é muito raro alguém imaginar uma carreira na matemática, por exemplo, e isso acontece porque os jovens não são cativados para as carreiras científicas.

Entre os integrantes do Conselho Científica do Serrapilheira estão a bióloga Cristina de Campos, da Universidade de Munique; Luiz Davidovich, presidentre da Academia Brasileira de Ciências; Stevens Rehen, coordenador de pesquisa do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino; e Mayana Zatz, professora de genética da Universidade de São Paulo (USP).