Política Lava-Jato

Propina era limitada em R$ 500 mil para caber em mochila, diz ex-diretor da Odebrecht

Hilberto Mascarenhas disse ao TSE que dinheiro era entregue até em ‘cabaré’

O ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas, apontado como o líder do Departamento da Propina
Foto: Jorge William / Agência O Globo / 6-3-2017
O ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas, apontado como o líder do Departamento da Propina Foto: Jorge William / Agência O Globo / 6-3-2017

BRASÍLIA — Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-diretor da Odebrecht Hilberto Mascarenhas contou que o valor máximo do pagamento de propina em dinheiro a políticos e intermediários era R$ 500 mil, pois a quantia era o volume máximo para caber dentro de uma mochila e não levantar suspeitas.

“Se eu tenho um pagamento de R$ 2 milhões, isso é uma mala. Ninguém pode estar transitando na rua com uma mala com R$ 2 milhões. Então, existiam também regras como, por exemplo, o valor máximo a ser pago era de R$ 500 mil, que cabia dentro de uma mochila”, declarou o ex-dirigente da Odebrecht. “Se você tinha R$ 2 milhões a receber, você ia receber quatro vezes 500 (mil). E aí tinha que ser combinado alguma coisa. Mas nem sempre, ministro, com o interessado final. Às vezes, tinha muito preposto”, explicou.

Hilberto prestou depoimento ao TSE, em março, como testemunha nas ações que tramitam no tribunal pedindo a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por suposto abuso de poder político e econômico na eleição presidencial de 2014. Ele era o responsável pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, setor que ficou conhecido como departamento de propina.

Durante o depoimento, Hilberto também relatou que as entregas de dinheiro em espécie para políticos aconteciam em “lugares absurdos” e até “cabaré”. Questionado por um juiz do TSE sobre como eram feitos os pagamentos ao marqueteiro João Santana e à mulher dele, Mônica Moura, Hilberto respondeu:

“Se fossem valores pequenos encontravam num bar, em todos os lugares. Você não tem ideia dos lugares mais absurdos que se encontra, no cabaré..."

Para repassar os montantes maiores, no entanto, Hilberto esclareceu que Mônica ou um representante dela se hospedava em um hotel onde se encontravam com um intermediário contratado pela Odebrecht que fazia a entrega, mas que não era ligado diretamente à empresa.

"Então, você se hospedava no hotel e de noite ele visitava o quarto do interessado, entregava e ia embora, para poder ter mais segurança se fossem valores maiores", contou o delator.