Política

Projeto muda nome de ruas que homenageiam personagens da ditadura em SP

Nesta sexta-feira, pelo menos seis ruas terão nomes trocados

Ivan Seixas e Maurice Politi, do Núcleo Memória, mudan o nome de ruas na cidade de São Paulo
Foto: Reprodução
Ivan Seixas e Maurice Politi, do Núcleo Memória, mudan o nome de ruas na cidade de São Paulo Foto: Reprodução

SÃO PAULO — Cinquenta e três anos após o golpe militar de 1964, cerca de 40 ruas da cidade de São Paulo ainda homenageiam personalidades ligadas à ditadura militar. Com isso em mente, o Núcleo Memória faz nesta sexta-feira uma intervenção em ruas da cidade “mudando” o nome dos logradouros para o de ditadores, como Adolf Hitler e Augusto Pinochet. A iniciativa é chamada “Ruas da Vergonha”.

— Se você não concorda com Hitler, por que aceita colocar o nome desse outro que violou os direitos humanos, Adolf Hitler? O (Sérgio Fernando Paranhos) Fleury também cometeu crime, é torturador — explica Ivan Seixas, presidente do núcleo e ex-preso político na ditadura.

Segundo a Comissão Nacional da Verdade, Sérgio Fernando Paranhos Fleury, ex-delegado da Polícia Civil de São Paulo, teve participação em casos de detenção ilegal, tortura, execução, desaparecimento forçado e ocultação de cadáver. Fleury foi denunciado na Justiça por integrar o Esquadrão da Morte e atuar como líder do grupo.

Hoje, pelo menos seis ruas terão seus nomes temporariamente substituídos. Além de Fleury, outras ruas, como Henning Boilesen, Filinto Muller, Octávio Gonçalves Moreira Júnior, Alcides Cintra Bueno Filho e Milton Tavares de Souza também serão transformadas.

Segundo um levantamento realizado em 2015 pela Prefeitura de São Paulo, em torno de 40 ruas estavam nessa situação. Desde então, a Secretaria de Direitos Humanos realizou algumas mudanças de nome. Uma, em particular, era dolorosa para Seixas.

— A Avenida General Enio Pimentel Silveira, um cara que era torturador, que me torturou, matou meu pai — diz.

A mudança é uma recomendação feita pela Comissão Nacional da Verdade, que sublinhou a importância de promover a alteração da denominação de logradouros que façam referência a agentes públicos ou a particulares que notoriamente tenham tido compromentimentos com a prática de graves violações.

A campanha “Ruas da Vergonha” também inclui um abaixo-assinado, que pede que os nomes sejam trocados em definitivo, com ajuda dos moradores. A proposta é que sejam homenageadas vítimas da ditadura, ativistas pela democracia e defensores dos direitos humanos.

* Estagiário, sob supervisão de Flávio Freire