A Polícia Federal deflagrou, na manhã da última sexta-feira (17), a Operação Carne Fraca, destinada a combater a venda ilegal de carnes no país. A operação, a maior já realizada pela PF, contou com o trabalho de mais de 1.000 agentes, em sete estados. Revelou uma extensa rede de corrupção – da qual participavam empresários e dezenas de inspetores do governo – criada para garantir a comercialização de carnes adulteradas e com a data de validade vencida. A investigação implicou mais de 30 empresas, entre elas as gigantes JBS e BRF – donas de marcas como Friboi, Sadia e Perdigão. As duas figuram entre as maiores exportadoras mundiais de carne. Negam ter cometido essas irregularidades. ÉPOCA reuniu seis perguntas cujas respostas ajudam a entender o caso.
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De acordo com a Polícia Federal, ao menos 30 empresas produtoras de carne no Brasil adulteravam a data de validade dos produtos comercializados. Para mascarar a aparência e o cheiro ruim da carne vencida, eram usados produtos químicos – o ácido ascórbico (ou vitamina C) e o ácido sórbico (ambos são ingeridos regularmente em dietas normais, mas podem causar problemas de saúde em quantidades exageradas). As empresas também injetavam água nas peças, para aumentar o peso dos produtos, e acrescentavam papelão no preparo de embutidos. As carnes chegavam aos supermercados graças ao pagamento de propina a fiscais do Ministério da Agricultura, que afrouxavam a vigilância. Nem sempre a propina envolvia dinheiro – até mesmo caixas de carnes, frangos e botas foram dadas como forma de pagamento pela vista grossa das autoridades.
Segundo a Polícia Federal, a propina paga aos fiscais acabava alimentando os cofres de PP e PMDB. A polícia, no entanto, ainda não conseguiu estabelecer por que essa divisão acontecia. Um dos envolvidos no caso é o ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB- PR). Ele aparece em grampos interceptados pela PF, conversando com Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e líder do esquema criminoso. Na época, Serraglio ainda não era ministro e a PF, apesar dos telefonemas, não encontrou indícios de crime em sua conduta. Nas interceptações, também foram citados outros parlamentares do PMDB do Paraná, como o deputado federal Sérgio Souza, da Frente Parlamentar da Agropecuária.
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Não necessariamente – a carne que já passou da data de validade não tem uma aparência muito diferente da carne boa, caso mantida sob refrigeração adequada. O que muda é o gosto, que logo denuncia o produto ruim. Segundo especialistas consultados pelo jornal Folha de S. Paulo, haverá problema se tiverem proliferado, no produto, colônias de bactérias potencialmente nocivas, como coliformes fecais. Nesse caso, o consumo da carne pode provocar enjoos, vômito e diarreia.
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A carne era comercializada em todo o país e também exportada. A agência de notícias Bloomberg destacou que o esquema envolvia, inclusive, uma carga de carne contaminada com salmonela que estava a caminho da Europa.
Na sexta-feira, quando foi deflagrada a operação, as ações da JBS caíram 10,6% e as da BRF 7,3%. Em parte, pesou contra elas a má repercussão internacional do caso. O jornal americano The New York Times chegou a dizer que o caso abala um dos poucos pilares ainda seguros da instável economia brasileira, o agronegócio.
Por ora, a Justiça Federal do Paraná já decretou o bloqueio de R$ 1 bilhão em bens das investigadas. A Polícia Federal também cumpriu 38 mandados de prisão – 34 deles para funcionários públicos. Foram detidos, também, quatro executivos das empresas envolvidas. Entre eles, o gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF Brasil, Roney Nogueira dos Santos, e o diretor da BRF André Luiz Baldissera