• Flávio Picchi*
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Tecnologia ; inteligência artificial ; AI ; IA ; inovação ;  (Foto: Thinkstock)

O lean se baseia nos princípios desenvolvidos originalmente na Toyota, no Japão, e hoje é reconhecido como um modelo de excelência empresarial, aplicado com grande sucesso nos mais variados setores (Foto: Thinkstock)

No Brasil temos o costume de falar bastante sobre as coisas que temos de ruim (e temos várias…). Mas é claro que também temos muitas coisas boas, que devemos valorizar.

Na semana passada, tive o prazer de confirmar a percepção que já tinha sobre um desses aspectos, o qual merece destaque: temos aplicações bastante avançadas da filosofia de gestão lean, que servem de referência a muitos outros países.

Pude constatar isso durante a reunião anual da LGN – Lean Global Network, entidade que congrega institutos de 30 países dedicados à disseminação da gestão lean. O lean se baseia nos princípios desenvolvidos originalmente na Toyota, no Japão, e hoje é reconhecido como um modelo de excelência empresarial, aplicado com grande sucesso nos mais variados setores.

Pela primeira vez essa reunião anual da LGN ocorreu em nosso país, onde o Lean Institute Brasil (LIB) atua há 21 anos, sendo o segundo instituto a se juntar a essa rede, logo após o dos EUA. Os colegas de todos os continentes puderam ver in loco (ou no gemba, como chamamos no lean: o local onde as coisas acontecem) em diversas empresas casos de elevada maturidade.

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Constataram que temos aplicações em diversos setores, como financeiro, logística, manufatura, saúde, entretenimento, transformação digital etc. e que o lean, aqui, vai muito além das ferramentas operacionais e hoje permeia a empresa toda, desde a estratégia e a liderança até o sistema de gestão. Viram o lean chegando na base, mudando a forma como o trabalho é feito, minimizando os desperdícios e gerando melhoria contínua com a participação de todos, o que trouxe significativos resultados aos clientes e às empresas que o aplicam de forma profunda.

Isso nos enche de orgulho, pois mostra que, em diversas empresas no Brasil, temos uma gestão extremamente avançada, moderna e ágil, aplicando os conceitos lean de maneira exemplar. O feedback que tivemos de todos foi de que temos vários casos que estão entre os melhores do mundo, fruto da flexibilidade e da perseverança dos gestores e colaboradores dessas companhias, que superam dificuldades básicas, resolvendo problemas diariamente, com criatividade e trabalho em equipe.

Por outro lado, temos que lembrar que não são todas as empresas no Brasil que se encontram nesse patamar. Pelo contrário, embora o interesse pelo lean e sua aplicação tenha aumentado significativamente nos últimos anos em nosso país, ainda temos muitas organizações que não descobriram essa filosofia de gestão ou que a aplicam de forma muito inicial e superficial.

É o Brasil das desigualdades, também na gestão.

Empresas com métodos de gerenciamento que podem ser considerados de classe mundial, como o lean, coexistem ao lado de outras, com gestão completamente defasada.

Esse desnivelamento traz ao menos uma oportunidade: aquelas que já são bons exemplos podem compartilhar experiências, acelerando o avanço das empresas que estejam mais atrasadas.

O espírito de gerar aprendizado conjunto, presente de maneira muito forte na filosofia lean, se aplica em todos os níveis: entre os institutos da LGN, como em nessa reunião anual, entre países, empresas, profissionais e cidadãos.

Dissemine suas boas práticas de gerenciamento, sejam lean ou outras, através de eventos, artigos, recebendo visitas etc. Com certeza você e sua empresa também vão aprender muito nesse processo de interação. Ao contribuir para diminuir as desigualdades de maturidade de gestão, com certeza você também estará contribuindo para a diminuição das desigualdades econômicas e sociais em nosso país.