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Linha de produção da Usiminas ; siderurgia ; produção de aço ;  (Foto: Wiliam de Paula/Divulgação)

Linha de produção da Usiminas (Foto: Wiliam de Paula/Divulgação)

O anúncio de um acordo entre os acionistas majoritários da Usiminas - os ítalo/argentinos da Ternium e os japoneses da Nippon Steel Sumitomo Corporation - depois de quase cinco anos de brigas judiciais pelo controle da empresa, abre perspectivas positivas para a companhia neste ano, segundo analistas ouvidos pelo jornal O Globo. Além disso, a recuperação da economia brasileira, especialmente com números mais positivos da indústria automobilística, com previsão de crescimento de 13% na produção de veículos, traz mais ânimo aos números da empresa, que já melhoraram ano passado. A Usiminas anunciou ontem lucro líquido de R$ 315 milhões em 2017, frente a um prejuízo de R$ 577 milhões em 2016.

"A empresa estava engessada em termos de gestão, inclusive para novos investimentos. O final dessa novela é muito positivo para uma companhia que quase entrou com pedido de recuperação judicial e chegou a discutir uma divisão entre os sócios", diz Pedro Galdi, analista da Magliano Corretora.

O acordo selado entre os dois principais sócios da siderúrgica prevê que a indicação do presidente executivo e do presidente do Conselho seja alternada em intervalos de quatro anos, compreendendo inicialmente dois períodos consecutivos de dois anos cada um, segundo o fato relevante. Em consenso, os controladores concordaram em indicar Sergio Leite, que já está no cargo, como presidente da Usiminas e Ruy Hirschheimer, ex-presidente da Electrolux na América Latina entre 1998 a 2016, para presidente do conselho de administração, respectivamente.

A diretoria da Usiminas será composta por seis membros, incluindo o presidente e cinco vice-presidentes. Cada sócio indica três membros. As indicações vão ser feitas na eleição para diretoria da Usiminas, marcada para maio deste ano.

Além disso, foi acertado um mecanismo em que um sócio poderá comprar a maioria ou até toda a participação do outro na siderúrgica, quatro anos e meio após a eleição da diretoria da Usiminas, caso ocorra novo desentendimento entre eles. As empresas não detalharam o formato desse mecanismo, informando apenas que o processo de negociações poderá ser iniciado por qualquer uma das partes “com ou sem causa".

"Qualquer uma das partes poderá comprar um determinado número de ações ordinárias detidas pela outra parte, consolidando o controle”, diz o fato relevante.

Depois de praticamente cinco anos de prejuízos, com um lucro muito pequeno em 2014, os números da Usiminas já mostraram mais força ano passado. Segundo o analista Marco Saravalle, analista da XP Investimentos, o reajuste de preços do aço, ano passado, especialmente a alta de 23% aplicada às compras de montadoras, ajudaram a Usiminas a fechar 2017 com números mais positivos.

"Quando faltou dinheiro, o casamento entre os sócios ficou abalado. Agora, com o lucro voltando, as partes começam a se entender, o que é muito positivo. Com o acordo, os sócios voltam a focar em como melhorar a rentabilidade da empresa, em vez de continuar com birgas na Justiça", diz Saravelle.

Para este ano, a Usiminas está negociando repassar o mesmo aumento de preço do aço vendido às montadoras à indústria, disse Sérgio Leite, presidente da companhia, em teleconferência com analistas. Uma parte dos clientes industriais da Usiminas já recebeu aço um pouco mais caro, mas o todo o reajuste deve ser repassado até o fim deste trimestre. No último trimestre de 2017, a empresa já vendeu mais aço em relação ao mesmo período do ano pssado: 1,1 milhão de toneladas frente as 891 mil toneladas de 2016.

A Usiminas mantém confirmação da reabertura do alto forno I na unidade de Ipatinga, em Minas Gerais, fechado deste 2015, quando houve uma retração de 6% no consumo de aço do país. O forno está sendo reformado e deve voltar a funcionar em abril. Já a produção de aço na unidade de Cubatão, na Baixada Santista, em São Paulo, suspensa desde janeiro de 2016, epicentro da crise financeira da companhia, ainda não tem prazo para ser retomada. A unidade de Cubatão está produzindo bobinas de aço a partir de placas de aço de outros fornecedores.

"Não há perspectiva da volta da produção em Cubatão. Toda a indpustria, assim como a Usiminas, ainda está com capacidade ociosa elevada. A diferença de agora para dois anos atrás, é que as perspectivas são mais positivas", diz Saravalle, da XP Investimentos.

Em 2014, quando a disputa de sócios começou, a Ternium alegou quebra do acordo de acionistas já que foram destituídos o diretor-presidente Julián Eguren e mais dois diretores, todos indicados pelos argentinos numa reunião do Conselho de Administração. Os representantes da Nippon Steel votaram pela saída dos executivos. A partir desse episódio, uma verdadeira batalha judicial ganhou corpo e foi parar até na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Além da disputa entre acionistas, a Usiminas foi afetada pela redução da demanda interna por aço, durante a recessão. O segmento no qual ela atua e é líder, o de aços planos, usados na indústria automotiva e por empresas de linha branca, dependem da demanda doméstica. Apenas em 2015, as vendas de planos caíram 17,5% em relação ao ano anterior.