Política Lava-Jato

STF autoriza nova fase da Lava-Jato e mira advogado ligado a Renan Calheiros

Um dos mandados de busca e apreensão é contra o advogado Bruno Mendes

Luiz Edson Fachin passa atrás de Rodrigo Janot (procurador-geral) e Renan Calheiros (presidente do Senado) para tomar posse como ministro do STF
Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Luiz Edson Fachin passa atrás de Rodrigo Janot (procurador-geral) e Renan Calheiros (presidente do Senado) para tomar posse como ministro do STF Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo

BRASÍLIA - A Polícia Federal realiza na manhã desta sexta-feira uma nova fase da Lava-Jato autorizada pelo ministro relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin. Um dos alvos de mandado de busca e apreensão é o advogado ligado ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Bruno Mendes, em Brasília. Os agentes também cumprem mandados em endereços ligados ao senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Renan disse que não havia sido informado sobre a operação. Ele está fora de Brasília e falou ao telefone:

- Não estou sabendo de nada disso - afirmou ao GLOBO.

INFOGRÁFICO: As fases da Lava-Jato no STF

As buscas foram pedidas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a partir da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O procurador-geral quer acesso a documentos que comprovariam denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e até mesmo de organização criminosa. Além de Brasilia, a polícia cumpre mandados de busca em São Paulo, Alagoas, Rio Grande do Norte.

No escritório de Mendes, a polícia apreendeu celular, laptop, pen drive, cópias de processos e rascunhos de discursos, entre outros documentos. O advogado foi, pela segunda vez, alvo de um pedido de busca do procurador-geral. O primeiro pedido foi rejeitado. Desta vez, o novo relator, entendeu que os elementos eram suficientes para autorizar a apreensão de equipamentos e documentos.

O advogado Luís Henrique Machado, responsável pela defesa do colega, negou que Mendes tenha cometido qualquer irregularidade. Ele argumenta que, embora Fachin tenha autorizado, a polícia não localizou e, portanto, não apreendeu dinheiro, jóias ou objetos de arte, conforme queria o Ministério Público.

DELAÇÃO DE MACHADO

Em fevereiro, Janot pediu a abertura de inquérito para investigar Renan e Jucá, além do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) . Eles são acusados de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Em um dos depoimentos da delação premiada, Machado disse que repassou mais de R$ 70 milhões em propinas desviadas da Transpetro para os três.

As propinas seriam disfarçadas de doações eleitorais para os grupos políticos dos três lídereso do PMDB. Ao todo, Machado disse que intermediou o pagamento de mais de R$ 100 milhões em propina para o PMDB ao longo do período em que esteve à frente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, entre 2003 e 2014 . O dinheiro seria desviado de contratos entre empresas privadas e a Transpetro, a mesma estrutura de corrupção detectada na Petrobras.

Ano passado, Janot chegou a pedir a prisão de Renan, Sarney e Jucá por tentativa de embaraçar a apuração sobre corrupção na Petrobras.

Mas o então relator da Lava-Jato Teori Zavascki, morto em acidente aéreo mês passado, rejeitou ou pedido. O ministro entendeu que não poderia decretar a prisão porque não houve flagrante nos supostos crimes atribuídos aos parlamentares.

A operação dá continuidade à primeira ação com base na delação de executivos da Odebrecht, deflagrada em março e batizada de Satélites , onde também envolveu endereços ligados a Renan, ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e os demais senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Humberto Costa (PT-PE). (Perguntas e respostas: entenda a operação)

ASSESSOR JÁ ERA ALVO

Em fevereiro do ano passado, O GLOBO mostrou que a PF apontava indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em pedidos de doação de campanha em 2014 feitos pelo senadores Renan e Romero Jucá (PMDB-RR).

Doações de R$ 3 milhões, solicitadas aos filhos dos senadores, podem se configurar propina de um pacote de R$ 30 milhões acertado entre o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia, e o dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, conforme a suspeita da PF em relatório ao qual O GLOBO teve acesso .

Na época, a PF também identificou três assessores de Renan, apontados como responsáveis pela marcação de jantares do senador com o empreiteiro e também por acertos de doações de campanha. São eles: Everaldo França Ferro, assessor legislativo no gabinete do senador; Marcus Antônio Amorim dos Santos, ajudante parlamentar intermediário do gabinete; e Bruno Mendes, ex-assessor de Renan, e agora alvo principal da operação de hoje.

A PF apontou em relatório produzido sobre os assessores que Bruno é sócio de um escritório de advocacia e de uma empresa de consultoria. Também relatou indiciamentos em inquéritos policiais, sem detalhar sobre o que se trata.

A polícia expediu ofício ao Hotel Unique, em São Paulo, para saber se Pessoa, Renan e Jucá se hospedaram no hotel. O dono da UTC delatou que costumava jantar com Renan nos hotéis Unique e Emiliano e que "normalmente pagava a conta dos jantares". O Unique informou à PF que Pessoa não se hospedou no hotel entre 2011 e 2014. Renan ficou hospedado entre 13 e 18 de abril de 2011. Jucá, entre 6 e 8 de abril de 2011.

OUTRO LADO

A assessoria de imprensa do senador Romero Jucá informa que a operação
deflagrada hoje pela Polícia Federal não envolveu nenhum funcionário
do seu gabinete ou pessoa que trabalhe com o senador. Jucá reitera que
está à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos assim como
seus funcionários para que as investigações possam ocorrer rapidamente
e que a verdade seja reestabelecida. O senador informa ainda que já
solicitou aos órgãos competentes que ele possa prestar informações o
mais rápido possível.