Rio

Casas de moradores continuam ocupadas por policiais no Alemão

Promessa de desocupação foi feita pela PM na segunda-feira

Uma das paredes “carimbadas”, como dizem os moradores, na Rua 2
Foto: Agência O Globo / Domingos Peixoto
Uma das paredes “carimbadas”, como dizem os moradores, na Rua 2 Foto: Agência O Globo / Domingos Peixoto

RIO — Embora o subcoordenador de Polícia Pacificadora, tenente-coronel Marcos Borges, tenha garantido aos moradores do Complexo do Alemão que as casas transformadas em bases militares seriam desocupadas até ontem (terça-feira), isso ainda não aconteceu. A promessa foi feita na segunda-feira, em audiência pública com mais de 200 pessoas, no auditório da Defensoria Pública. As casas foram ocupadas em fevereiro para a instalação de uma torre blindada de seis metros de altura na Praça do Samba, na favela Nova Brasília. Apesar de a estrutura já ter sido colocada, O GLOBO constatou que ao menos duas casas ainda têm presença de policiais.

— A minha foi ocupada depois, na última sexta-feira. Primeiro os policiais tentaram alugar. Como eu não quis, eles invadiram — conta Isabel Cristina, de 49 anos, diante da casa na Rua 2. — A última inquilina saiu há poucos dias porque não aguentou os tiroteios, a casa está toda perfurada. Eles aproveitaram para entrar. Estão no segundo andar e na laje. Olha lá um deles atrás da cortina.


Casa de azulejos foi ocupadas por policiais militares na última sexta-feira: primeiro tentaram alugar
Foto: Agência O Globo / Domingos Peixoto
Casa de azulejos foi ocupadas por policiais militares na última sexta-feira: primeiro tentaram alugar Foto: Agência O Globo / Domingos Peixoto

A Rua 2 é uma das que mais sofrem com os tiroteios, que apenas nesta quarta-feira deram uma trégua aos pelo menos 100 mil moradores do complexo. Com comércio intenso, os microempresários estão cansados de contabilizar o prejuízo. Uma das vias mais importantes da localidade conhecida como Alvorada, na Nova Brasília, a Rua 2 tem padaria, papelaria, mercadinho, hortifruti e lojas de roupas como a Bunker, inaugurada há pouco tempo, onde foi encontrado o corpo do ajudante de padeiro Gustavo Silva, de 17 anos, morto na sexta-feira. Gustavo estava indo trabalhar, por volta das 6h, quando foi atingido por um disparo, caindo na calçada da loja.

Após a primeira noite sem tiros desde a semana passada, a vida dos moradores ameaçou se restabelecer nesta quarta. Ainda podem ser vistas algumas bandeiras e toalhas brancas estendidas em lajes e janelas, uma forma de pedir paz depois de quatro mortos em cinco dias. De manhã, crianças voltaram às escolas, reabertas após três dias sem aulas.


Rua 2, na Alvorada, tem casas ocupadas por policiais e marcas dos tiroteios da última semana
Foto: Agência O Globo / Domingos Peixoto
Rua 2, na Alvorada, tem casas ocupadas por policiais e marcas dos tiroteios da última semana Foto: Agência O Globo / Domingos Peixoto

— Mas lá dentro o clima está tenso. Parece que os tiros vão voltar a qualquer momento — diz um aluno do Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes.

E voltaram à noite. Após o enterro do menino Paulo Henrique, de 13 anos, morto terça-feira ao ser atingido na barriga por um disparo, mo radores voltaram a protestar contra a violência com palavras de ordem como “Fora UPP” . Foi quando os tiros recomeçaram em diversos pontos da favela, por volta das 18h30, quando muitos trabalhadores voltavam para casa. Da Avenida Itaoca podiam ser vistos clarões de luz na favela, possivelmente transformadores sendo explodidos durante a troca de tiros, deixando os moradores sem energia elétrica. Mais uma noite de terror no complexo que pede paz.

Procurada, a Polícia Militar não se pronunciou sobre a ocupação das casas.