Valter Lana relatou ao MP como foi a suposta reunião com Carlito Merss para doação de R$ 300 mil à campanha de Ideli Salvatti

Valter Lana relatou ao MP como foi a suposta reunião com Carlito Merss para doação de R$ 300 mil à campanha de Ideli Salvatti

O suposto pagamento de R$ 300 mil pela Odebrecht à campanha eleitoral de Ideli Salvatti (PT) para governadora de Santa Catarina em 2010 foram feitos sob o codinome “fantasma”, segundo as delações dos ex-executivos da empresa ao Ministério Público.

Embora a Odebrecht não tivesse empreendimento em Santa Catarina a doação tinha a finalidade de obter atenção privilegiada de Ideli no caso de demandas futuras do Grupo.

A ex-ministra de Relações Institucionais e de Direitos Humanos Ideli Salvatti (PT) é citada em um dos 201 pedidos de inquérito enviados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a instâncias judiciais inferiores, com base em delações de ex-executivos da Odebrecht.

Ideli nega conhecer os delatores e afirma não ser ré nem investigada na Lava Jato, mas que está à disposição da Justiça.

Supostas doações após pedido

Conforme os delatores, os pagamentos foram em duas partes após um pedido do ex-prefeito de Joinville Carlito Merss (PT). Segundo Valter Lana, executivo responsável pelas operações da Odebrecht no Sul, Merss o procurou por telefone e relatou estar em Curitiba e os dois tiveram uma reunião no centro da cidade, na sede do grupo.

Benedicto Junior, ex-presidente da Odebrecht infraestrutura contou ao Ministério Público que Lana o procurou em 2010 com um pedido para uma doação à campanha eleitoral de Ideli.

“(...) eu autorizei um pagamento ilícito, via caixa dois, sob pretexto de contribuição eleitoral de R$ 300 mil. Os pagamentos foram feitos pelo setor de operações estruturadas da Odebrecht”, explicou.

Conforme Valter Lana, embora conhecesse Carlito Merss, o pedido de doação foi a primeira vez em que o encontrou e que recebeu um pedido do ex-prefeito.

 Benedicto Júnior relatou ao MP sobre doações à campanha de Ideli Salvatti ao governo de SC em 2010

Benedicto Júnior relatou ao MP sobre doações à campanha de Ideli Salvatti ao governo de SC em 2010

Influência

Segundo o ex-presidente da Odebrecht, Benedicto Junior, Lana disse que Ideli era uma senadora com grande influência na base partidária do PT. “Explicou que ele tinha acesso a ela, que tinha conversas sempre na busca de assuntos que pudessem interessar ao grupo e que era importante que a gente ajudasse ela a se eleger”, contextualizou.

Benedicto relatou ainda que não tinha informações sobre como ela ajudou o grupo, porque não conhece Ideli. Questionado pelo Ministério Público sobre como funcionava o contato da Odebrecht com os políticos, explicou:

“Você focava... criava um ponto focal entre duas pessoas. Se houvesse alguma demanda que a organização tivesse, e que a senadora pudesse ajudar, provavelmente o Valter seria acionado para pedir isso a ela”, detalhou.

Finalidade das doações

O ex-executivo contou também sobre a expectativa do Grupo quanto às doações. “Na verdade, todas essas doações elas tinham como intuito manter uma relação fluída, uma relação privilegiada, diferenciada, para que a pessoa, quando encontrasse um executivo da Odebrecht em busca dela, ela pudesse ouvir o pedido de forma atenciosa”, disse.

Valter Lana relatou também que nunca conheceu Ideli Salvatti e que a finalidade da doação era institucional.

“A partir daí, imaginando que Ideli Salvatti pudesse ser eleita governadora, teríamos legitimidade para sermos atendidos numa reunião ou coisa do gênero. Então, é isso, institucional... não tinha nenhum projeto no estado de Santa Catarina”, contou. "Hoje, sou extremamente arrependido por ter feito isso”, complementou.

Pagamento

Conforme Benedicto, o pagamento foi feito dentro do sistema Drousys em duas partes, R$ 200 mil na semana de 3 a 17 de setembro e R$ 100 mil na semana de 23 a 27 de agosto. “Esses pagamentos foram feitos sob o codinome fantasma, codinome adotado para a candidata Ideli Salvatti”, complementou.

Já Valter Lana disse que os pagamentos foram R$ 150 mil em 23 de agosto e outros R$ 150 mil 23 de setembro de 2010.

Segundo Benedicto, a menção aos pagamentos a Salvatti constam nas planilhas do sistema Drousys. “Por estar no sistema, é porque foram feitos os pagamentos. A autorização eu me recordo por causa da conversa com o Valter. Nessa eleição de 2010, a gente optou por usar a hierarquia militar. Então, capitão era o candidato a governador”, relatou.

De acordo com Lana, não houve contrapartida da candidata. “Não tínhamos nenhum empreendimento em Santa Catarina, nenhuma informação privilegiada, nada”, disse.

Contraponto

Ideli disse que está à disposição da Justiça para prestar esclarecimentos, e que não é ré nem investigada na Lava jato. "Está evidente na delação que eu não conheço estas pessoas, não me encontrei com o delator, não pedi dinheiro ao delator, não recebi dinheiro do delator, não houve qualquer contrapartida solicitada ou prometida, a empresa não tinha interesses em SC, ou seja, um total absurdo, que jamais poderá ser levado adiante por uma injustiça flagrante", declarou em nota à imprensa.

O G1 tentou contato com Merss, mas não obteve uma posição.

'Lista de Fachin'

Ao todo, 201 pedidos de inquérito foram remetidos a instâncias inferiores da Justiça Federal em todo o país. Relator da Lava Jato no Supremo, o ministro Edson Fachin também determinou a abertura de 76 inquéritos contra políticos e autoridades com base nas delações de ex-executivos da Odebrecht, informou a assessoria do STF.

O ministro enviou de volta à PGR outros 11 pedidos de investigação para nova análise. Outros 25 pedidos foram mantidos sob sigilo, por risco de atrapalhar as investigações. Foram arquivados 7 casos envolvendo autoridades, a pedido da PGR, por falta de indícios da ocorrência de crimes.

Em nota referente a todo o conteúdo das delações de ex-diretores da empresa, a Odebrecht disse entender que "é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos".

"A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas", diz o texto.

"A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas", diz o texto.

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