Economia

Com queda na inflação, redução da meta para 2019 entra no radar

Equipe econômica vê momento oportuno para discussão. No mercado, analistas já sugerem 4% como referência
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo/22-11-2016
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo/22-11-2016

BRASÍLIA - Com a inflação cedendo e a previsão de analistas do mercado de que ficará abaixo da meta oficial para este ano, que é de 4,5%, cresce o debate, nos bastidores do governo e também entre os economistas, sobre a conveniência de se reduzir a meta a longo prazo. Numa conferência com investidores no fim do mês passado, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, deu a primeira sinalização neste sentido. Ele disse que, a longo prazo, o Brasil caminhará para ter uma meta compatível com outros países emergentes, que têm uma inflação perto de 3% ao ano.

Desde 2005, o governo persegue o objetivo de manter a inflação abaixo de 4,5%. Para o ano que vem, a meta também é esta. Mas os parâmetros para 2019 serão definidos até junho, em reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). A avaliação do governo é que uma redução da meta ajudaria a dar uma sensação de maior estabilidade na economia para a população.

BANCO PREVÊ IPCA DE 3,8% EM 2018

Para a equipe econômica, o momento atual se parece com o de uma década atrás, quando o país perdeu a oportunidade de reduzir a meta de inflação. Naquela ocasião, o IPCA encerrara 2006 em 3,2%, menor taxa desde o início do regime, em 1999, e as expectativas para 2007 e 2008 estavam abaixo do objetivo central de 4,5%.

— Se chegarmos ao meio deste ano com a inflação corrente de 2017 abaixo da meta, e as expectativas para 2018 e 2019 estiverem no mesmo caminho, aí teremos uma oportunidade (de baixar a meta) — afirmou uma fonte do governo.

Em 2015, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas de inflação) chegou a 10,67%. No ano passado, ficou em 6,29%. E a atual previsão dos analistas para este ano é de 4,67%, mas alguns bancos já estimam um IPCA abaixo de 4% em 2017. Ou seja, a queda da inflação e das expectativas foi acelerada.

Entre os analistas do mercado, também há a percepção de que a meta de inflação pode ser reduzida. Em relatório divulgado ontem, o Itaú afirma que “expectativas ancoradas e um disseminado movimento de desinflação criam uma oportunidade de reduzir a meta de inflação”. Para o Itaú, a meta poderia ser de 4% em 2019. O banco prevê um IPCA de 4,4% este ano e de 3,8% em 2018. E destaca que, na média, o mercado prevê que a inflação fique no centro da meta em 2018, “refletindo a crescente convicção dos agentes econômicos de que o Banco Central tomará medidas para garantir que o IPCA irá, de fato, convergir para meta”.

O Itaú destaca ainda que a inflação acumulada em 12 meses vai gradualmente recuar este ano. Em junho (quando o CMN define a meta para 2019) estará em 4,1% e chegará em setembro em 4%.

Além do recuo da inflação, é motivo de comemoração no governo, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, o fato de a arrecadação ter começado a reagir no início deste ano, o que indicaria uma volta da atividade econômica. A avaliação desses integrantes do governo é que a confiança dos brasileiros deve aumentar na esteira da volta do emprego, de uma melhora na competitividade, por causa das medidas microeconômicas, e do controle da inflação.

(Colaborou Martha Beck)