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Relatório da Previdência revelará impacto da Lava-Jato na pauta de reformas

Delações de executivos da Odebrecht podem travar cronograma econômico do governo
Sede da Previdência Social inaugurada em Realengo Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo
Sede da Previdência Social inaugurada em Realengo Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

BRASÍLIA - A leitura do relatório da reforma da Previdência, que acontece na tarde desta terça-feira na Câmara, é considerada no Palácio do Planalto um dia decisivo para o governo e o mercado, que aguardam para ver se a Lava-Jato contaminou a pauta de reformas encampadas por Michel Temer e já em andamento no Congresso — além da previdenciária, também a reforma trabalhista, cuja urgência já poderá ser votada nesta terça na Câmara.

Segundo avaliações de integrantes do governo, se tudo correr bem, ficará "provado" que a enxurrada de delações de executivos da Odebrecht, que culminou em abertura de inquéritos para investigar boa parte da classe política, não irá travar o cronograma da pauta econômica do governo.

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— Para uma semana pós-temporal, até que está tudo tranquilo demais. Mas só amanhã vamos saber o quanto a Lava-Jato contaminou a agenda do governo. Amanhã é o dia D para o governo e para o mercado — disse um interlocutor do presidente.

'DR' SOBRE TEXTO DA PREVIDÊNCIA

Apesar da queda de braço entre o governo e o relator da proposta na comissão especial da Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA), em torno de como ficará a reforma, a versão final já está arredondada. Na última quinta-feira, no entanto, o clima azedou entre Maia e técnicos da Casa Civil e da área econômica do governo, que se irritaram com a inclusão de "aberrações" no texto do projeto na última hora. Uma delas dizia respeito ao regime de aposentadoria para políticos, o que poderia abrir margem para privilégios à classe da qual ele faz parte.

Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) atuou como bombeiro para resolver o"climão" no fim da última semana. A reunião no Palácio da Alvorada que aconteceu na noite de domingo teve como um dos objetivos, segundo relatos, justamente achar um meio-termo entre o texto de Maia e o texto do governo e resolver de vez o mal estar entre todos os lados.

— Mas não há dúvidas, o texto vai chegar no Congresso com gordura para queimar — afirmou um técnico que acompanhou a elaboração do texto da Previdência.

Outro objetivo do encontro de domingo foi justamente interromper o feriado dos deputados e fazer com que já estivessem em Brasília nesta segunda. A ideia era dar um sinal de que o governo está trabalhando intensamente pela aprovação da reforma e fazer com que os parlamentares da base compareçam em peso à comissão desta terça, onde vai ocorrer a leitura do relatório da Previdência. Paralelamente, o governo também quer que seja votada a urgência da reforma trabalhista nesta terça, outro sinal de que a Lava-Jato não teria atrapalhado os planos de Temer.

Caso a reforma previdenciária passe pela comissão, ministros já estão escalados para alardear que as reformas não estão em xeque, apesar da divulgação da lista de Fachin na semana passada. Na próxima sexta-feira, mais de cinco ministros devem ir a um evento empresarial do grupo Lide, criado pelo prefeito de São Paulo, João Dória. A conferência será em Foz do Iguaçu (PR) e terá investidores.

O objetivo do governo é encerrar a semana sinalizando que "não está paralisado", como vem dizendo o presidente Michel Temer nos últimos dias. Segundo o site do Lide, será o "maior encontro empresarial do Brasil", com "os mais importantes líderes políticos e empresários".

Após o café da manhã de Temer com todos os líderes da base nesta terça, que vai oficializar o texto da reforma, o presidente ainda se reúne com senadores aliados para já começar a trabalhar a ofensiva sobre o Senado.