Política

Procurador diz que, com crime de interpretação, nova lei pode ser ‘fulminada’ pelo STF

Com feriados em abril, projeto de abuso de autoridade deve ser votado em maio
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado realiza audiências públicas sobre projeto de abuso de autoridade Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado realiza audiências públicas sobre projeto de abuso de autoridade Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo

BRASÍLIA - Mesmo lamentando que as audiências públicas de debate na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) tenham sido marcadas em dias de Senado esvaziado, os representantes de entidades ligadas ao Ministério Público e magistratura saíram confiantes que o relator do projeto de abuso de autoridade, Roberto Requião (PMDB-PR), irá melhorar seu parecer acolhendo algumas das sugestões encaminhadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA) comunicou que, depois de receber um ofício do presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) com as sugestões de Janot, as encaminharia a Requião para que as analise e veja o que pode acatar.

As propostas do procurador-geral foram também transformadas em projeto de lei pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que também terá Requião como relator. Em função da entrega de mais documentos pelos depoentes e necessidade de análise das propostas de Janot, Lobão descartou a possibilidade de votação na comissão nesta quarta-feira. Como tem feriados nas próximas semanas, a votação pode ser adiada para maio.

— Saímos mais otimistas. Havia notícia que o parecer do senador Requião poderia ser votado nessa quarta-feira. Se não vai, isso nos tranquiliza mais, cria a expectativa de que as nossas propostas serão analisadas pelos senadores — disse Jaime Martins, presidente da Associação dos Magistrados do Brasil.

— Não estamos trabalhando a toque de caixa. Quando a CCJ votar, aprovando ou não, o processo irá para a Mesa e um longo prazo se abrirá para a votação em plenário. Se aprovar no plenário, ainda vai para a Câmara, onde seguirá uma nova tramitação. Estão querendo estigmatizar o projeto. Mas isso não é realidade, é pura fantasia — disse Lobão.

Os procuradores alertaram que se o texto for aprovando mantendo-se o artigo que trata do crime de interpretação, engessando a independência funcional do Ministério Público, a nova lei pode ser derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por ser inconstitucional.

— Se não for retirado o crime de interpretação, há o risco de o Congresso Nacional aprovar a nova lei e ela ser fulminada pelo Supremo Tribunal Federal por inconstitucionalidade — alertou o procurador José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

— Somente nas piores ditaduras o Legislativo impõe interpretação para o Judiciário — disse Jaime Martins , da Associação dos Magistrados do Brasil.

— Mas o que não pode é desfigurar a lei — rebateu a senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM).

No final da sessão os juristas e magistrados enfrentaram pesados questionamentos das senadoras Vanessa Grazziotin e Regina Souza (PT-PI), sobre eventuais excessos da Operação Lava-Jato nas mais de 300 conduções coercitivas, sem uma intimação prévia, segundo elas.

— Nós não teríamos o resultado que tivemos na Lava-Jato se as conduções coercitivas tivessem intimação antes. Todas tiveram recurso e foram validadas pelas instâncias superiores —disse Jaime Martins.

— Mas 300 coercitivas é um exagero — reclamou Regina Souza.

— Não quero funalizar, mas porque houve condução coercitiva do ex-presidente Lula se ele nunca se negou a comparecer para ser ouvido? — questionou Vanessa.

A audiência pública de amanhã tem como convidado o jurista e ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, e o diretor geral da Polícia Federal, Leandro Daielo, mas os dois não confirmaram presença.